O desmatamento da Amazônia é um problema bastante conhecido. Para combatê-lo, o Brasil tem uma série de políticas de conservação, sendo que o monitoramento por satélite é um dos mais importantes. Porém, há um tipo de dano à floresta que acontece de forma praticamente invisível. Um novo estudo mostra que o impacto da degradação florestal pode ser tão perigoso, para plantas e animais, quanto o desmatamento. E esse dano passa quase despercebido pelos satélites.
O estudo foi publicado nesta quarta-feira (29) na revista Nature, conduzido pela Rede Amazônia Sustentável (RAS), um grupo de pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Ele analisou o impacto que perturbações em áreas de florestas no Pará causam nas espécies de árvores, plantas, aves e insetos amazônicos. O estudo chega a um número assustador: tudo o que foi degradado até hoje na Amazônia do Pará corresponde, em dano à biodiversidade, ao desmatamento de um década inteira.
Para entender o estudo, é preciso antes diferenciar o desmatamento da degradação. Desmatamento também é chamado de “corte raso”. É quando a floresta é totalmente derrubada, usando métodos como o fogo ou o “correntão”. Já a degradação pode ocorrer por cortes seletivos de madeira ou focos de incêndio. No satélite, quando se vê a área que foi degradada, é possível ver cicatrizes ou manchas, mas a floresta ainda está lá, aparentemente saudável. Mas será que a biodiversidade – as espécies de plantas e animais – continua lá?
“Nós já sabíamos que muitas espécies são perdidas com o desmatamento. A gente tinha uma ideia de que, com a degradação, também há perdas de espécies. A grande novidade do estudo é que agora nós quantificamos o dano que a degradação causa”, diz Joice Ferreira, pesquisadora de ecologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e uma das autoras do estudo.
O estudo criou um indicador para comparar as áreas preservadas e as degradadas. Em uma área pristina, esse coeficiente de conservação é de 100%. Com a degradação, esse coeficiente cai para 60% ou até 50%, dependendo da região. Ou seja, mesmo áreas que sofreram pouca degradação, a ponto de não ser detectada por satélite, podem ter apenas a metade das espécies que deveriam ter. Quando esse número é extrapolado para todo o Pará, impressiona: a perda de espécies da degradação equivale ao desmatamento de 139 mil km2 de florestas.
Para Joice, os resultados do estudo da Nature mostram que o país precisa, urgentemente, voltar suas atenções também para a degradação florestal. “Nós precisamos avançar no sistema de monitoramento”, diz. Atualmente, o Inpe e o Imazon têm sistemas que monitoram a degradação. Esses sistemas, no entanto, não estão no mesmo nível do Deter e do Prodes, que monitoram desmatamento. São sistemas que emitem alertas quando ocorre o desmatamento, permitindo que equipes do Ibama se desloquem para o local. Isso ainda não existe para enfrentar a degradação.
Outra estratégia importante é buscar incentivos para que os produtores rurais, especialmente os pequenos agricultores, parem de usar o fogo para limpar lavouras. Muitas vezes, o fogo se alastra e danifica áreas conservadas de florestas. O plano Agricultura de Baixo Carbono (ABC) poderia ser usado para dar alternativas a esses agricultores. Políticas de isenção de impostos para produtores que usam boas práticas podem mover a economia e proteger a floresta ao mesmo tempo.
“Os números mostram que estamos perdendo muita biodiversidade pela degradação e que até o momento isso não está sendo contabilizado. É um problema significativo e precisamos de ações para evitar isso”, diz Joice.
O estudo Anthropogenic disturbance can be as important as deforestation in driving tropical biodiversity loss foi publicado na revista Nature e está disponível neste link, para assinantes, em inglês.
Por: Bruno Calixto
Fonte: Revista Época/ Blog do Planeta – Estudo calcula impacto da degradação da Amazônia não captada por satélites – ÉPOCA | Blog do Planeta (globo.com)
VER FOTOS E CONTEÚDO COMPLETO EM: http://amazonia.org.br/2016/06/estudo-calcula-impacto-da-degradacao-da-amazonia-nao-captada-por-satelites/ (DISPONÍVEL EM: JUNHO 2016)