Desde 2007, a Cooperativa Mista da Flona do Tapajós (Coomflona) realiza o manejo florestal na Floresta Nacional do Tapajós, retirando de forma cuidadosa espécies madeireiras para a comercialização no mercado. Apesar do baixo impacto na vegetação, essas pequenas alterações influenciam a vida dos animais que vivem na área. Uma pesquisa, do Grupo de Estudos de Vertebrados Terrestres da Universidade Federal do Oeste do Pará (Gevete/Ufopa), busca avaliar os efeitos dessas interferências em grupos de répteis, anfíbios, aves e morcegos da Flona.                                                       

O professor Edson Lopes, do Instituto de Biodiversidade e Florestas (Ibef), explica que, dentro do ecossistema, a relação entre fauna e flora é indissociável. Se há alguma perturbação em um dos elementos, pode ocorrer um efeito em cascata. “Alguns bichos são muito adaptados a utilizar áreas com sub-bosque mais aberto, que são típicas de floresta preservada. Quando se formam clareiras, cria-se um ambiente mais parecido com os estágios iniciais do desenvolvimento da floresta e assim, diminui-se o habitat para esses grupos. Muitas vezes, as populações de árvores são controladas por animais, que atuam, por exemplo, como predadores ou dispersores destas plantas. Então, se esses animais são perdidos, algumas árvores podem se tornar muito abundantes, em detrimento de espécies de maior interesse para o homem”, comenta o professor.

Para detectar as mudanças que ocorreram, os pesquisadores realizaram amostragem antes do corte das árvores, em 2014. A segunda fase de coleta deve ser finalizada este ano para comparar com os dados anteriores. De acordo com o coordenador do projeto, professor Rodrigo Fadini, do Ibef: “Grande parte dos trabalhos sobre o efeito de manejo florestal de impacto reduzido sobre a fauna são realizados depois do impacto. Com a parceria com a Cooperativa, foi possível saber onde ele ocorreria para que pudéssemos fazer a amostragem antes, o que é um grande avanço para este tipo de pesquisa”.

Morcegos

O mestrando Arlison Castro, do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Amazônia (PPGRNA), pesquisa a comunidade de morcegos que vivem na área manejada. Ele encontrou 36 espécies, um número que está de acordo com o padrão estimado para o local. Os dados mostraram que não houve mudanças significativas em termos de abundância e riqueza de espécies, porém, algumas responderam de forma diferente entre os anos de amostragem.

A pesquisa na comunidade houve um sutil aumento na abundância de espécies generalistas nas duas áreas. “Espécies generalistas, tal como Carollia spp., são exímias dispersoras de sementes de plantas pioneiras. É comum que após a atividade de manejo a floração e a frutificação dessas plantas aumentem naquele local e, consequentemente, aumente a abundância de algumas espécies de morcegos que consomem frutos”, explica Castro.

Além disso, houve uma mudança de morcegos frugívoros dominantes. Na amostragem de 2014, duas espécies, Artibeus lituratus e Artibeus planirostris, eram mais abundantes. No entanto, em 2015, ambas as espécies diminuíram em abundância, ao passo que a Carollia spp. Aumentou nas áreas de controle e manejada. O corte não influenciou negativamente na conservação da assembleia de morcegos. “Uma observação pessoal que eu fiz no local é que na amostragem de 2014 havia a disponibilidade de frutos do gênero Ficus spp., bastante consumidos pelos Artibeus [lituratus e planirostris]. Já na de 2015, não vimos atividade dessa planta frutificando. Então, assumimos que a variação temporal na disponibilidade de frutos possa ter influenciado negativamente na abundância de Artibeus e, consequentemente, na dominância de Carollia spp.”, destaca Castro.

De acordo com Fadini, que também é orientador da pesquisa, esse cenário pode ser provisório: “Provavelmente, daqui a alguns anos, quando houver novas espécies de plantas se regenerando, modificações na comunidade de morcegos sejam notadas, como o aumento das espécies frugívoras e decréscimo das insetívoras”. Outro ponto que ele coloca é que o impacto do manejo realizado na Flona é baixo para que ocorra alteração no grupo de morcegos que estão sendo capturados (Phyllostomidae), que são extremamente versáteis: “É provável que os morcegos não sejam bons grupos para monitoramento de impactos tão pequenos como esse. Outros grupos mais sensíveis podem ser interessantes para o monitoramento, como primatas de grande porte e outros grupos de animais com maiores exigências ambientais, por exemplo, especialistas de hábitat”.

Monitoramento permanente

Segundo os pesquisadores, a ideia é tornar o projeto uma ação permanente de monitoramento, de modo a fornecer dados anuais que possam subsidiar melhorias no manejo sustentável feito pela Coomflona, uma vez que os animais estão diretamente relacionados com a própria regeneração da floresta. Além disso, há a intenção de ampliar o foco das pesquisas, associando novos especialistas que ingressarem na Universidade, investigando outros grupos de animais e processos ecológicos. “Quando temos um número grande de trabalhos desse tipo, conseguimos gerar políticas para melhorar as condições de se fazer o manejo. A Ufopa, enquanto universidade, tem esse dever”, afirma Lopes.

Por: Luena Barros
Fonte: Ufopa

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