Cerca de 750 milhões de pessoas no mundo não tem acesso a uma fonte de água segura e até 2050, a procura pelo líquido aumentará 400%.  Os dados foram divulgados no ano passado pela Organização das Nações Unidas (ONU).  Diante deste cenário, imagine a importância da hidrografia da Amazônia para o mundo.  No Dia Mundial da Água, celebrado nesta terça-feira, 22 de março, especialistas comentam a realidade do recurso na região.

A Bacia Hidrográfica Amazônica é a maior do mundo, com quase 4 milhões de km² de extensão em terras brasileiras.  Somente na porção brasileira, abrange 10 dos maiores rios do mundo, entre os quais o lendário Rio Amazonas, com 7.025 quilômetros de extensão desde a Nascente, na Cordilheria dos Andes, no Peru, até a sua foz no Oceano Atlântico.  O suficiente para reconhecê-lo como mais comprido que o Nilo.  Considerando os trechos navegáveis por embarcações pequenas e seus principais afluentes, a bacia amazônica apresenta uma rede de 25.000 km de vias fluviais.

A cada dia que passa a ação do homem na natureza afeta diretamente os rios da Amazônia.  Em Manaus, capital do Amazonas, igarapés que antes reuniam as famílias amazonense hoje estão condenados por causa da poluição.  Exemplo disso, a cachoeira do Tarumã e o igarapé do Mindu.  Além da falta de água, a poluição traz afeta a saúde humana, principalmente crianças.

Coautora do capítulo que trata da “Análise estatística dos níveis de poluição em bacias hidrográficas de Manaus”, a pesquisadora Maria do Socorro Rocha, diz que o estudo mostra a situação do grau de contaminação nas microbacias hidrográficas da Região Metropolitana de Manaus. “Os igarapés das bacias do Educandos e do São Raimundo mostraram maior nível de impactos por causa da alta densidade populacional, enquanto que a bacia do Tarumã-Açu, por ser parcialmente urbanizada, mostrou um índice moderado de impacto”, disse a pesquisadora.

Apesar dos amazônidas morarem em uma região rica de água, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Sávio José Filgueiras Ferreira aconselha que é necessário ter cuidado ao consumir. “Devemos utilizar água tratada para o nosso consumo. Nós estudamos água natural e em toda pesquisa apareceu Coliforme. E as pessoas acabam adoecendo, principalmente na cidade grande devido a expansão do espaço físico e as companhias de abastecimento não acompanham o ritmo. Água temos em abundância, mas é necessário verificar a qualidade”, apontou.

Ferreira destaca a localização privilegiada da Amazônia como um ponto positivo. “Um dos fatores importantes na abundância de água da região é que a maior parte da floresta não foi atingida pela exploração, ou seja, cria um equilíbrio na natureza”, contou. O pesquisador participou da criação do livro ‘Amazônia das Águas’, junto aos pesquisadores Márcio Luiz da Silva e Domitila Pascoaloto. A obra reúne artigos e resultados de pesquisas de 26 autores de diferentes instituições integrantes do grupo de pesquisa Recursos Hídricos da Amazônia (Rhania).

Gestão das águas

O pesquisador do Inpa, Sergio Roberto Bringel, explica que a região amazônica por apresentar características química e físico-químicas diferentes nas suas águas, um dos grandes desafios que se tem é a gestão dessas águas. O pesquisador, um dos coautores do capítulo que trata das “Variáveis físicas e químicas de tributários da margem esquerda do rio Amazonas: uma abordagem voltada para gestão”, ainda enfatiza que para que se possa fazer uma boa gestão, “é preciso conhecer o mecanismo químico que envolve toda a problemática, principalmente, as características dos rios de água preta”.

Direitos da Água

No dia 22 de março de 1992, a Organização das Nações Unidas (ONU), além de instituir o Dia Mundial da Água, divulgou a Declaração Universal dos Direitos da Água, que é ordenada em dez artigos. Veja a seguir alguns trechos dessa declaração:

1- A água faz parte do patrimônio do planeta;
2- A água é a seiva do nosso planeta;
3- Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados;
4- O equilíbrio e o futuro de nosso planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos;
5- A água não é somente herança de nossos predecessores; ela é, sobretudo, um empréstimo aos nossos sucessores;
6- A água não é uma doação gratuita da natureza; ela tem um valor econômico: precisa-se saber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode muito bem escassear em qualquer região do mundo;
7- A água não deve ser desperdiçada nem poluída, nem envenenada;
8- A utilização da água implica respeito à lei;
9- A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua proteção e as necessidades de ordem econômica, sanitária e social;
10- O planejamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra.

Dados compilados

Nesta quinta-feira (24), a partir das 10h, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) lança dois livros que focam em recursos hídricos.  O primeiro é ‘Amazônia das águas – qualidade, ecologia e educação ambiental’, de Sávio José Filgueiras Ferreira, Domitila Pascoaloto e Marcio Luiz da Silva, da Coordenação de Dinâmica Ambiental (Cdam).  No mesmo evento será lançado a obra ‘Água mineral – Região metropolitana de Manaus’, organizado por Marcio Luiz da Silva.

Fonte: Portal Amazônia /* Colaborou Diego Oliveira e Hêmilly Lira

VER MAIS EM: Especialistas avaliam recursos hídricos da Amazônia versus ações humanas – Instituto Humanitas Unisinos – IHU