O período de chuvas pode tranquilizar parte da população, mas não significa que o uso consciente e o racionamento da água possam acabar. A atual crise hídrica do país é uma das piores da história, afeta os grandes centros nacionais e impacta tanto o meio ambiente, quanto o bolso dos brasileiros, que pagam muito mais pela energia elétrica.
Em entrevista ao Amazônia Brasileira desta quarta-feira (23), o coordenador do curso de Ciências Ambientais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, Carlos Figueiredo, falou sobre a crise hídrica no Brasil.
Segundo o especialista, a origem da escassez de chuvas em algumas regiões brasileiras, principalmente no nordeste, se dá devido a algumas alterações climáticas, entretanto, outros fatores ajudam a piorar a situação: “a escassez de chuva vem se agravando com as mudanças climáticas e situações extremas que derivam dessas alterações climáticas”.
Ele explica que as flutuações de disponibilidade de água variam e estão cada vez mais intensas. “Temos situações de extremas secas e de grandes cheias”, esclarece.
“A crise hídrica passa por uma questão de gestão de água e gestão de território, e apenas construir reservatórios, não garante o suprimento. Criar novos reservatórios, é como abrir uma poupança para receber um dinheiro que você não ganha, ou seja, precisamos fazer uma gestão de bacias e gestão da própria chuva.”, diz.
O coordenador comenta que na Amazônia, as alterações regionais, são decorrentes de dois fatores, o fator global de mudanças climáticas e o fator regional de alteração do uso do solo, de vastas porções de florestas que foram transformadas em pastos, plantações ou que tiveram a madeira extraída e o solo ficou exposto, impossibilitando que a água ficasse retida.
Carlos Figueiredo diz que o sudeste brasileiro, o problema da água não é apenas relacionado à quantidade de água, mas também, da qualidade: “Quando falamos de crise hídrica, pensamos logo em abastecimento, mas essa crise passa também pelo saneamento, porque a água que desperdiçamos nos esgotos domésticos ou industriais, que não pode ser reaproveitada, ou passa a ser aproveitada a um custo elevadíssimo, é um exemplo de má gestão, é como se sujássemos a água que vamos beber”, explica.
Ele explica a relação da estiagem de São Paulo com a seca que teve em Rondônia, em 2014 e fala da importância das florestas para as mudanças climáticas: “um aspecto muito importante da questão hídrica, é a interação com a própria biodiversidade, principalmente, com as florestas de grande porte. A floresta tem um papel importante que é o de evacuo transpiração, ou seja, ela começa a suar, tirando a água do solo e jogando água para a atmosfera, criando os rios aéreos”, comenta.
Por outro lado, ele destaca que do lado das Cordilheiras dos Andes, desde a região Amazônica, passando pelo Pantanal e chegando a São Paulo, as correntes de ar, trazem o suor transpirado pelas florestas, para a região sudeste. O coordenador esclarece que a floresta tem um papel, tanto no microclima, no mesoclima, quanto no clima global.
“A disponibilidade de água é um problema global, um problema de várias regiões do Brasil, mas que afeta, principalmente as populações mais vulneráveis, é o que chamamos de vulnerabilidade ambiental. Populações menos favorecidas socialmente, não tem condições de comprar água mineral, a água que consomem, geralmente, é água do poço. Então, a questão hídrica passa por uma questão social. A água, além do abastecimento humano, é fundamental para todos nós, para higiene, diversão, para as plantações”, explica.
De acordo com o especialista, a solução para amenizar essa crise é a gestão hídrica: “na época do império, Dom Pedro II mandou recuperar, no Rio de Janeiro, a Floresta da Tijuca para que a escassez hídrica, vivida na cidade naquela época, fosse sanada, e funcionou, porque ao invés de fazer reservatórios, ele pegou os últimos fragmentos de floresta e replantou, recuperando a floresta, e garantindo a disponibilidade hídrica no Rio de Janeiro, por anos. Para mim a solução é simples: reflorestar. Reflorestar de uma maneira inteligente, com o uso das áreas de preservação permanente, já previstas no Código Florestal”, diz.
Ouça a entrevista na íntegra no player acima e saiba mais sobre os sintomas dessas doenças.
O Amazônia Brasileira vai ao ar de segunda a sexta, às 8h, na Rádio Nacional da Amazônia, e às 6h, na Rádio Nacional do Alto Solimões (horário local).
A apresentação é de Sula Sevillis e a produção-executiva, de Taiana Borges.
http://audios.ebc.com.br/ea/ea9343be7188faf98877f3c3996413e0.mp3?download=1
Deixe um comentário