O Presidente da Funai, João Pedro Gonçalves, encerrou a viagem de cinco dias a Terras Indígenas do povo Xavante, na sexta-feira (29), participando de uma reunião com representantes de várias instituições. O objetivo foi buscar soluções, entre várias instâncias de governo, para as demandas do povo Xavante colhidas no decorrer da viagem. A reunião ocorreu na sede do Ministério Público, em Barra do Garças (MT).

Viagem Xavante

O procurador do Ministério Público Federal e representante da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão, Wilson Rocha de Assis, fez um balanço das principais questões nas terras Xavante como a necessidade de construção de pontes, a incidência de incêndios criminosos, a retomada de Grupos de Trabalho para concluir a demarcação de áreas que dependem de relatórios de identificação ou de levantamentos de benfeitorias. O procurador chamou a atenção para a necessidade de valorização do trabalho da Funai e a atuação conjunta com a Polícia Federal, Ibama, Prevfogo e as prefeituras municipais para a garantia dos direitos dos povos indígenas.

A Brigada Indígena de Combate ao Fogo e Queimadas será retomada, conforme disse Sandro Benevides, responsável pelo Prevfogo em Barra do Garças. Muitos incêndios criminosos ocorreram na região da Terra Indígena Marãiwatsédé, após a retirada dos ocupantes não indígenas, como relatou o procurador Wilson de Assis. “Uma força-tarefa no período da seca, pactuada entre as instituições, com monitoramento com drones e outros instrumentos é a solução para evitar os incêndios”, afirmou Benevides.

A incidência de casos de diabetes na população Xavante chamou a atenção do presidente da Funai. São muitos os casos de amputação e de obesidade decorrentes do alto consumo de produtos industrializados. João Pedro agradeceu a participação de todos que participaram da reunião, mostrando que o compromisso com os Xavante não só deve ser apenas da Funai, mas de todos os órgãos e instâncias de governo.

Compromissos firmados

O presidente visitou a sede da Coordenação Regional em Barra do Garças e conversou com os servidores para saber as condições de trabalho local. João Pedro disse que o ano de 2016 será um ano difícil, destacando a firmeza, a paciência e o diálogo entre servidores e indígenas, como fundamental para a realização das atividades nas terras indígenas.

A necessidade de melhorar a comunicação no órgão também foi citada por João Pedro e repassou todos os compromissos assumidos: encaminhar as questões de demarcação ainda pendentes; cadastrar as famílias para o crédito de incentivo à cadeia produtiva, visando incentivar a agricultura, através de projeto em parceria com os Ministérios de Desenvolvimento Social e Desenvolvimento Agrário; criar o Museu do Povo Xavante no município de Xavantina; fortalecer a Funai com o concurso a ser realizado ainda este ano; e, por fim, implementar as ações de etnodesenvolvimento e gestão territorial para melhorar a cadeia alimentar com a plantio de arroz e milho tradicional dos Xavante, além de louros produtos.

Homenagens

O presidente João Pedro prestou homenagem a duas lideranças indígenas Xavante ao visitar a Terra Indígena São Marcos. Em visita à Aldeia Guadalupe foi ao cemitério onde estão sepultados o ex-deputado Mário Juruna e o cacique Aniceto, exaltando a bravura, liderança e a marca que deixaram na história do país e da história dos povos indígenas. O presidente visitou a viúva do cacique Aniceto e conversou com Diogo, filho de Mário Juruna, e Pasqualina, filha do cacique Aniceto. Ambos apresentaram suas reivindicações.

Ainda na Terra Indígena São Marcos, o presidente reuniu com os caciques de várias aldeias, ouviu os apelos de José Maria, cacique de São Marcos, e demais representantes indígenas.

Quem são os Xavantes

Os Xavantes são um povo indígena que vive nas Terras Indígenas ao Leste do Mato Grosso de Areões, Marechal Rondon, Parabubure, Pimentel Barboza, São Marcos, Marâiwatsédé, Sangradouro, Volta Grande, Chão Preto e Ubawawe e ainda ao Noroeste de Goiás nas Aldeias Indígenas de Carretão I e II.

Suas terras estão nas regiões da Serra do Roncador e Vale do Araguaia. Dominaram por um período parte do Centro Oeste. Seu território inicial é em Goiás, mas migraram para o Mato Grosso e entraram em conflito com os Karajá que viviam na Ilha do Bananal. As brigas internas foram responsáveis pela divisão da população Xavante em várias Aldeias. No Vale do Rio das Mortes tiveram os primeiros contatos com os não indígenas.

Uma das características marcantes do povo Xavante é o espirito guerreiro. Fortes e Orgulhosos, permaneceram durante muito tempo isolados até os anos 40 e 50, mas no final da década de 50 cederam ao contato.

Conservam seus rituais e o ritual de iniciação masculina denominado Furação da Orelha ocorre a cada cinco anos. Os jovens ficam confinados em uma maloca chamada Hö durante cinco anos recebendo os ensinamentos da tradição e tendo apenas contato com os padrinhos e atividades fora da aldeia como caça e pesca. No ritual Danhono furam a orelha e colocam pequenos paus. Após o ritual, estão aptos para casar.

Sua sociedade se caracteriza por duas metades, os dois clãs opostos: âwawê e po’reza’ôno. O casamento só acontece entre clãs opostos. As mulheres tecem uma cesta de palha utilizada para carregar os recém nascidos amparada na testa por uma alça larga, permitindo realizar suas tarefas.

A corrida de tora, troncos de árvore que pesam até cem quilos, disputada entre os clãs, com revezamento, também é uma marca dos Xavante.

Texto: Eleonora de Paula / ASCOM-FUNAI – Indígenas Xavante apresentam reivindicações à Funai — Fundação Nacional dos Povos Indígenas (www.gov.br)