Os trabalhos de pesquisas na Serra da Mocidade, em Roraima, envolverão mais de 70 profissionais, entre especialistas em diferentes grupos biológicos e equipe de apoio. A expedição partiu neste sábado (09 de janeiro).
Caracterizar a fauna e a flora de uma parte da Amazônia brasileira ainda desconhecida pela ciência e fornecer subsídios para o Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra da Mocidade. Estes são os objetivos de uma expedição que o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) realizará este mês.
Para firmar a cooperação entre o Inpa e o CMA, o vice-diretor do Inpa, Luiz Antônio de Oliveira; e o coordenador de Cooperação e Intercâmbio do Inpa (Coci), Basílio Vianez; reuniram-se com o General de Divisão Antônio Maxwell de Oliveira Eufrásio do Comando da 12ª Região Militar, nesta quinta-feira (7).
De acordo com o pesquisador Luiz Antonio de Oliveira, o convênio é grande e abrange várias áreas da pesquisa científica, que vão desde pássaros até répteis. “O apoio logístico é fundamental para a realização de pesquisas nas fronteiras”, afirmou.
Segundo o General de Divisão Antônio Maxwell de Oliveira Eufrásio, esta é uma ótima oportunidade para treinar seu pessoal em operações de selva, além de fortalecer laços com a comunidade científica. “O Comando Militar da 12° Região estará sempre de portas abertas para cooperações como está, em prol da Amazônia”, disse.
Expedição
Localizada no Estado de Roraima, a 70 quilômetros a Oeste da cidade de Caracaraí, a Serra da Mocidade é um maciço de montanhas de quase 2 mil metros de altitude, numa região remota e de difícil acesso. Uma pequena parte da serra está inserida dentro do Parque Nacional da Serra Mocidade e a maior parte fica em área de terra baixa, longe de qualquer serra vizinha.
De acordo com o pesquisador do Inpa e responsável pela expedição, o ornitólogo Mario Cohn-Haft, o isolamento das serras leva ao endemismo, que é a presença de criaturas que só ocorrem numa determinada região, e pelo grau de isolamento da Serra da Mocidade, acredita-se que ela terá uma flora e fauna parecidas com as encontradas nas outras serras ao Norte, mas talvez um pouco mais pobres por estar mais afastada.
“Nesse caso, a recolonização por bichos que se extinguem por acaso ao longo do tempo vai ser baixa, então é fácil perder espécies ao longo do tempo, sem nem ter interferência humana, só pelos processos naturais de dinâmica de população”, explica o pesquisador.
Se por um lado a Serra Mocidade deve ter uma fauna um pouco depauperada comparada às outras serras amazônicas, conforme Cohn-Haft, por não estar perto para ser recolonizada pelos bichos das outras montanhas, por outro lado, o grau de isolamento ao longo de milhões de anos significa que teve muito tempo para a fauna e flora terem desenvolvido suas próprias características e serem algo único. “E uma espécie que ocorre somente numa serra que nunca foi visitada antes necessariamente vai ser uma espécie nova”, revela o pesquisador
Os trabalhos de pesquisas na Serra da Mocidade serão desenvolvidos durante um mês e envolverão cerca de 70 profissionais, sendo pelo menos 50 especialistas (pesquisadores e técnicos) em diferentes grupos biológicos, como cobras, lagartos, sapos, morcegos, aves, mamíferos, peixes, aranhas, fungos e plantas. “São pesquisadores renomados que já descobriram muitas espécies pela Amazônia”, diz Cohn-Haft.
A Serra da Mocidade é uma região montanhosa, tal qual o Pico da Neblina e o Monte Roraima, e bem desconhecida. Trata-se de um complexo de serras isoladas por grandes extensões de terras baixas, o que dificulta o acesso. A imersão dos pesquisadores na Serra da Mocidade será acompanhada por uma produtora de São Paulo, que irá produzir um documentário das pesquisas e dos bastidores da expedição.
Logística
Para a realização da expedição, os pesquisadores contarão com a colaboração do Comando Militar da Amazônia (CMA/ Exército Brasileiro). A equipe e o material necessário serão levados até o alto da Serra de helicópteros. “O auxílio do Exército será fundamental nesta expedição. Os helicópteros serão imprescindíveis nos deslocamentos entre os acampamentos e na reposição de alimentos e equipamentos”, diz Cohn-Haft. A expedição também contará com a parceria da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
O pesquisador conta que qualquer serra acima de 1.000 metros possui uma vegetação diferente das florestas de terras baixas, por esse motivo as florestas serranas da Amazônia apresentam uma biodiversidade única e particular. “Para aves, por exemplo, é de se esperar nessa viagem que vamos encontrar pássaros de altitude. São pássaros amazônicos no sentido de que ocorrem na região amazônica, mas não são as espécies típicas de terras baixas”, diz o pesquisador.
Da redação da Ascom* – Foto: Fernanda Farias/ Ascom Inpa – *Por Luciete Pedrosa, Cimone Barros e Caroline Rocha/Ascom Inpa
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