Um caso de preconceito ocorrido no Restaurante Universitário da Universidade Federal de Roraima (UFRR) surpreendeu a comunidade acadêmica e a sociedade em geral. Um grupo de quatro alunos indígenas sofreu preconceitos por parte de outros alunos que zombaram dos costumes e características físicas deles. O caso gerou a abertura de um inquérito na própria instituição de ensino e nas polícias Federal e Civil.  

O caso ocorreu no dia 14 de dezembro de 2015, por volta das 11h30, nas dependências do Restaurante Universitário do Campus Paricarana, com quatro acadêmicos indígenas, sendo dois rapazes e duas moças, alunos do curso de Gestão Territorial Indígena do Instituto Insikiran. 

Os estudantes foram hostilizados por um grupo de alunos não indígenas que proferiram em voz alta palavras ofensivas e depreciativas, discriminando-os pela maneira de comer, de vestir e pela aparência física.

Um dos alunos, que sofreu com o ato, Edson Freitas, relatou que ele e os amigos foram humilhados. “Eles se retiraram da mesa e disseram que não se misturariam com índios”, disse.

Ele afirmou que uma das alunas, uma senhora de 42 anos, passou mal devido à situação. “Tivemos que levá-la para o Hospital Geral de Roraima, pois a pressão dela subiu. O ocorrido a deprimiu tanto que ela pensou até mesmo em desistir do curso”, disse.

Freitas afirmou que um dos professores do curso orientou o grupo a registrar o ocorrido na polícia. “Fomos ao 1º Distrito Policial e lá o delegado nos informou que seria aberto um inquérito para que os responsáveis fossem punidos. No dia seguinte, fomos até a Polícia Federal, onde também registramos um Boletim de Ocorrência”, explicou.

O professor do Instituto Insikiran, que orientou os alunos a denunciarem o caso, Jonildo Viana, informou que o caso não poderia ficar apenas dentro da UFRR. “Isso é um crime de injúria racial, não poderíamos deixar os alunos que praticaram tal ato, impunes. É inadmissível que algo assim ocorra em pleno século 21”, protestou.

Viana destacou que, com o ato de preconceito, os alunos renegaram suas origens. “Não existe um brasileiro que não tenha uma gota sequer de sangue indígena em seu DNA. Isso não pode continuar assim.

Além do inquérito, queremos que esses alunos se retratem pessoalmente, pois isso não é o tipo de coisa que deve acontecer dentro de uma instituição de ensino superior”, observou.

NOTA DE REPÚDIO – O Instituto Insikiran publicou na página da UFRR na internet uma nota de repúdio ao ocorrido. Veja no texto na íntegra, abaixo:

“Considerando que a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 proclama que ‘todos os seres humanos nascem livres e iguais, sem distinção alguma, e principalmente de raça, cor ou origem nacional’. A Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial de 1968, baseia-se em princípios de dignidade e igualdade inerentes a todos os seres humanos, encoraja o respeito universal e a observância dos direitos humanos e das liberdades fundamentais para todos sem discriminação de raça, sexo, idioma ou religião.

No Brasil o artigo 5º da Constituição Federal de 1988 diz que: ‘Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade’, e no inciso XLII estabelece que: ‘a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei’.

Diante do exposto, o Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena, criado em 2001, atualmente composto por dois bacharelados e uma licenciatura, reconhecido nacionalmente, que tem mais de 230 egressos, vem a público repudiar toda e qualquer forma/manifestação de racismo, preconceito, intolerância e discriminação, sobretudo no ambiente acadêmico”.

Por Isaque Santiago

FONTE: Jornal Folha de Boa Vista

VER CONTEÚDO COMPLETO EM:

http://www.folhabv.com.br/noticia/Indigenas-sofrem-preconceito-na-UFRR/12925