Aumentar a produção agrícola e conservar o meio ambiente podem parecer tarefas inconciliáveis, mas um estudo anglo-brasileiro publicado ontem na revista “Science” busca desfazer essa noção. O Centro de Ciência da Conservação e Sustentabilidade do Rio, baseado na PUC-Rio, e a Universidade de Cambridge listaram quatro medidas que podem garantir ganhos para os agricultores e, ainda assim, deixar a floresta em pé. Nenhuma delas é autossuficiente: os pesquisadores recomendam a adoção de ao menos duas ao mesmo tempo. O texto diz que o Brasil avançou em relação a essas recomendações, mas os cientistas criticam o recente aumento do desmatamento na Amazônia Legal, que, em 2015, avançou 16%. 

— O Brasil conseguiu reduzir o desmatamento enquanto aumentava sua atividade agrícola em anos anteriores — diz Ben Phalan, professor do Departamento de Zoologia da Universidade de Cambridge e coautor do levantamento. — Mostrou para o mundo como é possível desenvolver-se sem comprometer os ecossistemas. No entanto, o desflorestamento voltou a crescer na Amazônia, e há cada vez mais pressões para que o país abra novas regiões para a mineração. Além disso, outros biomas do país, como a Caatinga e o Cerrado, ainda recebem pouca atenção.

Conheça as medidas recomendadas pelos pesquisadores no artigo da “Science”:

1 – TERRA DIVIDIDA

O zoneamento da terra consiste em dividir as regiões que devem ser conservadas daquelas propícias para cultivo. Diretor-executivo do centro de pesquisas da PUC-Rio, Bernardo Baeta Strassburg ressalta que este é o momento de afastar as áreas de maior biodiversidade e recursos hídricos de outras onde as atividades econômicas provocariam menor impacto ambiental.

— No Brasil temos as áreas de preservação permanente (APPs), que proíbem a exploração de regiões como o topo de morros ou a beira de rios. Mas falta maior rigor na fiscalização — critica.

2 – SUBSÍDIOS COM EXIGÊNCIAS

Esta medida estipula a adoção de uma política pública simples: o agricultor receberia subsídios do governo, e, com isso, poderia aumentar a produtividade da sua lavoura. Se usar esse recurso para cortar vegetação, perde o benefício. Segundo o artigo, isto deu certo no Spiti Vale, no Himalaia indiano, onde a população ganhou dinheiro e assistência técnica para desenvolver suas plantações. Em troca, deveria proteger uma espécie de leopardo. Ben Phalan apoia os benefícios proporcionados pelo governo ao ver seus interesses atendidos, mas também acha que o poder público deve apelar para multas quando suas normas forem desafiadas.

— Os agricultores nunca expandirão suas propriedades se souberem que receberão algum tipo de penalidade — comenta ele. — Devemos apoiar seus lucros durante a produção de alimentos, se isso ocorrer enquanto protegem o habitat.

3 – DO LABORATÓRIO PARA O CAMPO

A palavra de ordem desta medida é tecnologia. É mais fácil plantar e colher se o agricultor tiver à disposição aparato tecnológico: orientações técnicas sobre solo e nutrientes, modos de gerenciar a água, instruções para múltiplos cultivos e sobre controle de pestes e doenças, entre outras facilidades. Nas Filipinas, a chegada de técnicas de irrigação ajudou os produtores de arroz a conseguir duas colheitas por ano em vez de uma só. Mais pessoas foram empregadas e, com a ajuda de novos fertilizantes, conseguiram melhorar seus cultivos sem desmatar as florestas vizinhas.

— Precisamos criar no Brasil um programa de assistência rural de larga escala, porque hoje o crédito agrícola permite pouco investimento em tecnologia — critica Strassburg. — Nossos experimentos estão entre os melhores do mundo. É hora de levá-los do laboratório para o campo.

No entanto, a infraestrutura precária pode atrasar a chegada da modernidade:

— Se expandirmos a malha ferroviária e asfaltar estradas, a produção agrícola será mais barata.

4 – CERTIFICAÇÃO E ACESSO AO MERCADO

É a medida legal. Quem cultiva e é produtivo sem danificar o nosso habitat deve ser reconhecido, e há diversas possibilidades de premiação. Uma das mais atrativas seria facilitar o acesso desses agricultores ao mercado. Os participantes de um projeto no Norte do Camboja receberam assistência técnica para adquirir tecnologia simples e contratar mais mão de obra. Concordaram com um plano de trabalho no campo que não afetaria o habitat. No entanto, qualquer deslize na promessa, mesmo que cometido por apenas um agricultor, acabaria com os benefícios cedidos a todos.

— As normas são universais e devem ser fiscalizadas. Esta é uma política pública imprescindível — explica Strassburg. — Os agricultores que cumprem objetivos voluntários podem apresentar os seus feitos para o consumidor. Podem estampar em seus produtos certificados oficiais de que, além de não terem desmatado, contribuíram para a restauração da mata.

— Todos os mecanismos têm riscos, mas a ameaça da perda de florestas é maior — acrescenta Phalan. — Por isso, os governantes precisam testar novas formas de abordar problemas persistentes, como o desmatamento e a perda de habitats. Cada área tem suas recomendações mais promissoras. É hora de descobri-las.

Fonte: O Globo

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