Um estudo sobre os impactos do desflorestamento na Amazônia aponta uma redução de 35% no volume de chuvas e um aumento de 4,5ºC na temperatura da bacia amazônica em 2100, caso o desmatamento na região continue avançando. A pesquisa destacou, ainda, que a crise hídrica no Sudeste do país, em 2014, não teve nenhuma relação com o estado atual de desmatamento da Amazônia.
O físico Luiz Gustavo Teixeira, mestre em clima e ambiente pela Universidade do Estado Amazonas (UEA) e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), defendeu a pesquisa na última sexta-feira. A tese foi concluída na mesma semana em que um acordo internacional que limita o aumento da temperatura da terra em 1,5ºC até 2100 foi firmado na Conferência do Clima (COP 21), em Paris.
“Para alcançar os resultados, utilizei um modelo climático numérico e mais de 20 anos de dados calculados em supercomputadores”, conta. Os impactos do desmatamento na Amazônia nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, e na bacia do Plata, na Argentina, também foram avaliados.
O estudo afirma que, até agora, não houve nenhum impacto significativo no regime de chuvas para a Amazônia e nem para outras regiões do País, contrariando as teses de cientistas que relacionaram a crise hídrica no Sudeste, no ano passado, ao desmatamento na Amazônia. “Hoje não dá pra dizer que o atual estado de desflorestamento está afetando o clima na Amazônia ou em outras regiões”, pontua.
Prognóstico negativo
No entanto, se o desmatamento continuar no mesmo ritmo, as perspectivas não são das melhores, segundo o cientista. No Sudeste, a previsão para 2100 é que haja uma redução de 16% na precipitação oriunda da evaporação da Amazônia.
Em 2050, o volume de chuvas na mesma região pode reduzir em até 9%. Já, na Amazônia, a redução pode ser de 13%. “A gente observou que, nas outras regiões, a redução de chuva no cenário futuro será determinada pela água transportada pela bacia amazônica”, explica o orientador do projeto, Francis Wagner Correia, doutor em metereologia e professor da UEA.
De acordo com Wagner, o estudo mostra que o desmatamento também modifica a circulação regional, alterando o fluxo de umidade na região amazônica. “Isso indica, mais uma vez, que a completa e rápida destruição da floresta pode tornar-se um processo irreversível, pois mudanças significativas na reciclagem de precipitação, no ciclo hidrológico e na relação solo-planta-atmosfera seriam tão significativas que, uma vez destruída, a mesma não seria capaz de restabelecer-se por si só”.
Desmatamento sobe na Amazônia
Segundo relatório do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe) divulgado no mês passado, o desmatamento voltou a subir na Amazônia Legal. De agosto de 2014 a julho de 2015 o Brasil perdeu 5.831 km² de florestas, um aumento de 16% em relação ao mesmo período do ano passado.
Amazonas (54%), Rondônia (41%) e Mato Grosso (40%) impulsionaram o aumento, segundo o Inpe. A área desmatada equivale a 753 mil campos de futebol.
Em setembro, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, a presidente Dilma Rousseff se comprometeu em eliminar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030. No entanto, a alta no desmate pode colocar o objetivo em risco, segundo ambientalistas. De acordo com o Greenpeace, “o curioso é que os estados que concentraram os maiores aumentos receberam recursos do Fundo Amazônia – constituído de doações internacionais – para reduzir o desmatamento”. Na ocasião, a Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, atribuiu o aumento à má gestão dos Estados.
Tecnologia
O modelo climático utilizado para a pesquisa, chamado modelo regional ETA, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foi calculado em máquinas de alta performance do Sistema de Processamento de Alto Desempenho das UEA e em super computadores Tupã, do Inpe, em Cachoeira Paulista (SP).
Blog: Wagner Correia, doutor em Meteorologia
“A principal contribuição do Brasil pra redução das emissões de gases de efeito estufa passa pelo desmatamento na Amazônia. O Brasil é fortemente importante nessa discussão, não por causa das emissões pela queima de combustíveis fósseis, mas pelo desmatamento na Amazônia. Quando desmata essa área, grande parte do carbono vai para a atmosfera. Então, se o Brasil tiver uma política de preservação ambiental, conservação da floresta em pé e manutenção de projetos para manter o ecossistema, é de uma importância de escala global. A floresta em pé é capaz de absorver muito mais carbono da atmosfera, contribuindo para a redução das mudanças climáticas futuras. O Brasil tem um papel fundamental nas mudanças climáticas pelo fato da conservação da floresta amazônica. Contribuímos para o aquecimento pelo fato do desmatamento, mas se houver, de fato, redução das taxas e a eliminação total do desmatamento, essa será nossa maior contribuição”.
Por: Luana Carvalho
Fonte: A Crítica
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