Animais estavam em poder de duas quadrilhas na região do Baixo Rio Branco.

Foto: Acervo Parque Nacional do Viruá

Uma operação conjunta do Parque Nacional do Viruá, unidade de conservação administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e Polícia Ambiental de Roraima (CIPA), finalizada nesta quarta-feira (04), resultou na maior apreensão e soltura de tartarugas adultas da Amazônia dos últimos dez anos. Os animais, chegando a pesar 70Kg, foram encontrados sendo transportados em embarcações por duas quadrilhas de traficantes na região do Baixo Rio Branco, no município de Caracaraí (RR).

Os traficantes foram surpreendidos pela equipe em dois locais diferentes no rio Branco, o primeiro a uma distância de 90 km e o segundo a 180 Km da sede do município. Com o primeiro grupo, foram apreendidas 225 tartarugas, próximo à foz do rio Anauá, e com o segundo 168 indivíduos, em área próxima à comunidade de Santa Maria do Boiaçu.

“Nós conseguimos fazer os dois flagrantes porque tínhamos encerrado outra operação na véspera e eles pensaram que não voltaríamos tão rápido”, explicou Samuel Rodrigues, técnico do Parque Nacional do Viruá (ICMBio). Fora isso, segundo ele, os flagrantes foram à noite, no momento em que os dois grupos faziam o transporte dos animais. “O trabalho noturno nesses casos é fundamental para garantir o sucesso do flagrante”, disse.

De acordo com os fiscais, as tartarugas estavam sendo mantidas aprisionadas há mais de 15 dias pelos traficantes, em pequenos cercados escondidos na mata chamados currais. “A gente até consegue localizar os currais, mas é muito difícil. Eles afundam as canoas ou as escondem na mata para despistar a localização do cativeiro, aí fica mais difícil, considerando que são mais de 300 Km de margens para fiscalizar”, relatou Rodrigues.

A região possui grandes tabuleiros de desova de tartarugas-da-amazônia (Podocnemis expansa), cujas fêmeas se tornam mais vulneráveis à captura no período reprodutivo, que ocorre durante a estação seca, quando o nível dos rios baixa e se formam as praias de areia. Segundo os fiscais, quando elas sobem nas praias para depositarem seus ovos, os traficantes as viram de casco para baixo, imobilizando-as para serem recolhidas e levadas até os currais. No cativeiro, elas são estocadas amontoadas, sem água nem alimento, até o dia do transporte.

No entanto, o principal método de captura é ainda mais cruel. De acordo com o fiscal Sebastião Ferreira Jr. (IBAMA), a grande maioria dos indivíduos são capturados com o uso do chamados “capa-sacos”, uma espécie de rede de malha grossa, que pode chegar a 200m de comprimento. “Eles são estirados de uma margem à outra do rio e ficam abertos para que os animais possam entrar. Há casos em que a gente encontra boto, peixe-boi e outros animais, que muitas vezes acabam morrendo porque os animais não podem subir pra respirar”.

Na operação, foram lavrados 05 autos de infração, totalizando 7 milhões e 500 mil reais em multas, e apreendidos 04 embarcações e 05 motores fluviais, que estavam em poder dos 10 traficantes. “Além da multa administrativa, o IBAMA faz a comunicação de crime ao Ministério Público, eles serão investigados e responderão judicialmente”, explicou Ferreira Jr.

Com esta nova apreensão, o Parque Nacional do Viruá já totaliza mais de 1.700 tartarugas da Amazônia resgatadas da ação de traficantes e devolvidas aos rios da região com vida nos últimos cinco anos. O número é um recorde para a toda a Amazônia no que se refere à apreensão e soltura de tartarugas adultas na região. Apenas este ano, já são 590 tartarugas adultas salvas graças às ações conjuntas.

Segundo Beatriz Lisboa, analista ambiental do ICMBio, o sucesso das operações se deve sobretudo ao trabalho em parceria juntamente ao IBAMA e à Policia Ambiental de Roraima (CIPA), às estratégias de inteligência e ao uso de equipamento próprio do parque. “Apesar de todas essas apreensões se darem fora dos limites da unidade de conservação, a gestão do Parque Nacional do Viruá tem feito um grande esforço para viabilizar essas ações porque sem a parceria dos órgãos ambientais, a população de tartarugas da região seria drasticamente reduzida em poucos anos”.

As ações de combate ao tráfico de quelônios (animais de casco) na região seguem até o final do verão, em abril de 2016, e são custeadas pelo Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA) do Ministério do Meio Ambiente. As tartarugas apreendidas, algumas estimadas em até cem anos de idade, foram devolvidas com vida ao rio Branco.

Comunicação ICMBio