“A mineradora Vale, uma das responsáveis pelo desastre de Mariana, por acaso vai parar de explorar minérios na região e na Amazônia?  O governo brasileiro e os deputados e senadores vão criar uma lei mais rigorosa de mineração?”, escreve o padre Edilberto Sena, coordenador da Comissão Justiça e Paz de Santarém, PA e e membro do Movimento Tapajós Vivo.  

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E agora, com o maior desastre social e ambiental, ocorrido em Minas Gerais, por acaso o governo e as grandes empresas irão mudar o ritmo de grandes projetos? O desastre do rompimento de duas barragens de mineradoras, mais que um cenário terrível, é uma desgraça sem retorno, para os moradores da região, para os rios abaixo que receberam toda a lama envenenada. Morreu o rio com o derrame, afogado pelo lixo tóxico, morrendo também as espécies de peixes que lá viviam, contaminou as águas ao ponto de a população local não ter água para beber.

A mineradora Vale, uma das responsáveis pelo desastre, por acaso vai parar de explorar minérios na região e na Amazônia? O governo brasileiro e os deputados e senadores vão criar uma lei mais rigorosa de mineração? Nem falam em tal possibilidade, afinal o crescimento da economia do país depende da exploração de minérios e outras commodities sem levar em conta seriamente a questão social e ambiental.

Diante do exemplo desastroso de Minas Gerais, a preciso se refletir sobre os projetos hidroelétricos na Amazônia. Exemplos de desastres sócio ambientais já tem acontecido na região. Há dois anos foi no rio Madeira, onde estão duas grandes novas hidroelétricas. Veio a grande enchente do rio, as barragens de Jirau e Santo Antônio se encheram e o desastre aconteceu: A capital Porto Velho ficou alagada, rodovia para o Acre ficou inundada, 500 mil cabeças de gado morreram afogadas na Amazônia boliviana. Se outra enchente acontecer no rio Madeira, quem pode dizer que outros desastres serão evitados? No rio Teles Pires, Mato Grosso, há poucos meses se rompeu uma barragem recém construída e outro desastre aconteceu. Não foi maior porque é menos povoada a região e ainda está em faze de conclusão a hidroelétrica.

Desastres no rio Tapajós já começaram antes de a obra começar. A Presidente Dilma desmembrou 10 mil hectares de floresta do Parque Nacional da Amazônia, além de mais 100 mil hectares de florestas em outras unidades de conservação na bacia do Tapajós. Tudo já prevendo as inundações provocadas pelas barragens. Isto significa graves desastres ambientais, geração de gases de efeito estufa, CO2 e metano.

Sem falar na possibilidade de rompimento de barragens, os desastres estão previstos caso a barragem de São Luiz do Tapajós seja construída. Além dos parentes Munduruku, que dependem essencialmente do rio e da floresta, cerca de 5 mil famílias serão afetadas só pela barragem de São Luiz. A comunidade de Pimental, onde pretendem construir a barragem terá suas 145 famílias simplesmente expulsas de seu habitat. Transplantarem para um bairro de periferia urbana é violentar suas vidas, pois seus hábitos dependem do rio e da floresta.

Se de um lado o governo e as empresas não demonstram intenção de mudar o modelo de crescimento econômico, de outro lado, são poucos os que percebem que os desastres de Minas Gerais e Teles Pires podem certamente acontecer no rio Tapajós. Muitos moradores da região simplesmente estão alheios às ameaças dos grandes projetos que se aproximam, ou por ignorarem, ou por estarem absorvidos na mera sobrevivência primária; já outros até aplaudem o anúncio dos projetos, na ilusão de ganharem alguma compensação. Poucos ainda são os que já se dão conta das desgraças e começam a resistência. O povo Munduruku se revela muito mais consciente e manifesta resistência mais ativa. A esperança é que as alianças entre o povo Munduruku e os militantes não indígenas possam ampliar a consciência de mais ribeirinhos, pescadores, moradores das cidades tapajônicas e a resistência consiga enfrentar os desastrosos projetos do governo federal.

Fonte: IHU On-Line

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