O acadêmico José Rodrigues Coura, pesquisador emérito da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que trabalha há mais de 20 anos em viagens de estudo com pós-graduandos à Amazônia, realizou uma apresentação sobre o tema, tão atual e carente de atenção. A Amazônia Brasileira ocupa 5.215.423 km2, 61% do território brasileiro. Para se ter uma ideia da extensão territorial, na Amazônia Legal, que é a área de atuação da Sudam, caberiam sete países do tamanho da França e só a Ilha de Marajó comportaria um país do tamanho da Bélgica. 

A Amazônia possui o maior complexo fluvial do mundo, a maior bacia sedimentar do planeta, o maior ecossistema da biosfera, a maior biodiversidade do planeta terra e o maior potencial energético do Brasil. Cada cm2 da bacia amazônica libera 20 calorias por dia, portanto, se pudéssemos acumular essas calorias, 60 cm2 da região liberaria calorias que dariam para alimentar um homem por dia.

Os grandes problemas da Amazônia Brasileira são a ocupação desordenada, a migração de pessoas de diferentes culturas do Brasil e até de outros países para aquela região, o desflorestamento descontrolado, com riscos de desertificação, a cobiça internacional, além de ser a região de mais difícil gestão em termos de saúde e de educação.

Inicialmente a bacia amazônica era um mar, limitado ao Norte pelo Escudo das Guianas e ao Sul pelo Escudo do Brasil Central, formando um golfo. O golfo amazônico abriu-se inicialmente para o Oceano Pacífico fechado do lado do Atlântico pelo “Escudo Africano”; com a separação dos continentes e o rebaixamento do Oceano Atlântico e levantamento da Cordilheira dos Andes, os rios amazônicos passaram a correr para o Oceano Atlântico. Até hoje, se cavarmos 300 metros no Rio Amazonas, vamos encontrar o sedimento marinho.

Em realidade não temos somente uma Amazonas, mas, sim, três: a floresta pantanosa (Igapó); a floresta de várzea e a floresta de terra firme. A população da Amazônia Brasileira é mesclada de indígenas com brasileiros de outras regiões, principalmente do Nordeste, formando “os caboclos”, que constituem a maioria da população.

Há mais de 100 anos conhecemos bem a Amazônia. Entre 1910 a 1912, Oswaldo Cruz fez o saneamento da estrada Madeira-Mamoré, cuja construção era barrada pela malária. Oswaldo Cruz controlou a malária na Madeira-Mamoré, controlou a Febre Amarela em Belém do Pará e saneou a cidade de Manaus.

De 1912 a 1913 Carlos Chagas visitou 27 localidades da Amazônia e fez o famoso relatório sobre as condições sanitárias da Amazônia. Olympio da Fonseca, Pesquisador de Manguinhos e que foi Presidente da Academia Nacional de Medicina, criou em Manaus o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) entre 1956 e1958. Em 1994 a Fiocruz criou um escritório técnico, que se transformou em Centro de Pesquisa em 2001, em Manaus e em 2007 a Fiocruz criou um Instituto de Pesquisa em Porto Velho, Rondônia (IPEPATRO).

Em 1991 o Prof. Coura, começou a levar os alunos de pós-graduação para o Amazonas e em 1997 instalou um Laboratório de Campo em Barcelos, às margens do Rio Negro, como extensão do Departamento de Medicina Tropical do Instituto Oswaldo Cruz, onde hoje se faz pesquisa em Malária, Doença de Chagas, Helmintíases e outras Doenças Tropicais. Nessa extensão foram formados uma dezena de mestres e doutores em Medicina Tropical.

Em uma visão prospectiva para a Amazônia,os pesquisadores definiram a necessidade da ocupação racional, de investimentos consistentes por governos comprometidos, da necessidade de um plano de desenvolvimento, de um projeto educacional e de um projeto de saúde. O Sivam/Cipam cuida da vigilância da segurança da Amazônia, mas a saúde e a educação estão muito descuidadas.

Em 2002, o Prof. Coura com equipe de pesquisadores da Fiocruz, apresentou uma proposta de um sistema de saúde para a Amazônia Brasileira, incluindo a formação de Agentes de Saúde, Postos de Saúde para a atenção primária, Unidades Mistas para atenção secundária, Hospitais de Base para atenção terciária e Navios Hospitais com aviação embarcada (Helicópteros com Agentes de Saúde devido às grandes distâncias para atender as emergências ou transportar os doentes e acidentados). Finalmente um Sistema de Comunicação Sivam/Cipam com as Unidades de Saúde propostas. A figura-2 resume a proposta apresentada.

Foram ainda apresentadas as dificuldades do sistema de educação devido à distância para os centros urbanos e a dispersão da população no interior, dificuldades do transporte fluvial e professores mal preparados e mal pagos. Por outro lado, as culturas diversas da população, o analfabetismo e a falta de integração dos programas de ensino, foi proposto: barcos escolas itinerantes, engajamento das universidades estaduais para descentralização e finalmente um projeto educacional levando em consideração a realidade amazônica, utilizando o método Paulo Freire (proposta para alfabetização de adultos).

Finalmente, foram discutidos os riscos e perspectivas de novas endemias e doenças tropicais na Amazônia Brasileira. A palestra foi longamente discutida por diversos Acadêmicos e convidados presentes a um anfiteatro lotado. O Presidente Francisco Sampaio perguntou o que aconteceu com a proposta do engenhoso Sistema de Saúde proposto por ele e sua equipe em 2002 e o Prof. Coura explicou que não foi implantado pelo governo, perdendo-se mais uma vez a possibilidade de atenção a uma população tão desassistida como a da Amazônia.

Fonte: Jornal do Brasil

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http://amazonia.org.br/2015/10/academia-nacional-de-medicina-discute-riquezas-e-dificuldades-da-amazonia/