A redução do desmatamento da Amazônia promovida de modo intermitente pelo Brasil desde 2004 melhorou a qualidade do ar em toda a América do Sul, indica um estudo publicado nesta quinta-feira na revista Nature.    

Esse esforço teria resultado, ainda, na prevenção de 400 a 1,7 mil mortes prematuras de adultos a cada ano, de acordo com o trabalho realizado por pesquisadores das universidades de Leeds e Manchester, no Reino Unido, do Massachussets Institute of Technology, nos Estados Unidos, e da Universidade de São Paulo.

Isso ocorreu em grande parte porque o método mais comum para abrir clareiras na floresta são incêndios provocados pelo homem.

“O fogo emite uma grande quantidade de partículas na atmosfera, o que piora a qualidade do ar e afeta a saúde humana”, diz à BBC Brasil a especialista em ciências atmosféricas Carly Reddington, que liderou a pesquisa.

“Com menos desmatamento, a concentração dessas partículas (no ar) durante a temporada de seca nesta região caiu cerca de 30%.”

Impacto

Entre 1976 e 2010, cerca de 15% da Floresta Amazônica brasileira foi desmatada. Isso representa 750 mil km2, o equivalente aos territórios de Portugal, Itália e Alemanha somados.

Mas, entre 2001 e 2012, a taxa anual de desmatamento caiu 40% (de 37,8 mil km2 para 22,9 mil km2) no Brasil como um todo. A redução foi ainda maior, de 70%, na Amazônia brasileira.

Usando dados de satélite e simulações feitas com computador, os cientistas conseguiram correlacionar essa queda do desmatamento brasileiro a uma melhora na qualidade do ar da América do Sul como um todo.

Isso porque o fogo usado para desmatar responde por 20% das emissões de partículas na atmosfera feitas por incêndios no mundo, mas, no Brasil, é responsável por 64% das emissões.

Com menos incêndios criados para abrir clareiras na floresta, a quantidade de partículas nocivas liberadas na atmosfera caiu bastante – e, por causa das correntes de ar que circulam pela região, isso gerou uma melhora na qualidade do ar em toda a região.

“Já sabíamos como esse fogo impacta a biodiversidade, o regime de chuvas e as mudanças climáticas, mas não a qualidade do ar”, afirma Reddington. “Havia estudos semelhantes feitos na Indonésia, mas este é o primeiro trabalho que faz essa conexão para o Brasil.”

Alerta

Os pesquisadores ainda se depararam com um achado inesperado em seu trabalho: as emissões de partículas geradas por todos os tipos de incêndios no país caíram, apesar do aumento da ocorrência de queimadas em áreas já usadas pela agricultura.

“Isso nos surpreendeu. A explicação é que os incêndios de desmatamento, por queimarem árvores, produzem de três a cinco vezes mais fumaça do que um incêndio de um cultivo agronômico”, afirma Reddington.

Essa fumaça costuma ser levada pelo vento para áreas mais densamente povoadas e causa doenças respiratórias, cardíacas e câncer, levando à morte prematura.

Com menos partículas no ar, os cientistas estimam que entre 400 e 1,7 mil vidas tenham sido salvas por ano.

No entanto, eles fazem dois alertas: para que as políticas de redução do desmatamento gerem o máximo de benefícios, elas precisam se concentrar também na redução dos incêndios em áreas de floresta tropical.

“Mudanças recentes na legislação brasileira de proteção de florestas podem representar um risco a esse progresso”, diz Reddington. “Se o desmatamento voltar a aumentar, certamente haverá um impacto negativo na qualidade do ar da região.”

Em 2012, o novo Código Florestal Brasileiro foi aprovado, substituindo a legislação anterior, de 1965, e estabelecendo novos parâmetros para a exploração das terras, a preservação das áreas verdes, o tipo de compensação por áreas desflorestadas e as penas para crimes ambientais.

Na época, o Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável, que reúne 163 organizações dedicadas ao meio ambiente, classificou algumas mudanças como “retrocesso ambiental” por dar uma “anistia aos desmatadores e abrir brechas para novos crimes ambientais”.

Fonte: BBC Brasil

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