A encíclica do papa Francisco dedicada ao meio ambiente, divulgada em junho, chega em um momento oportuno para a comunidade internacional, às vésperas da Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP21), que se reunirá em novembro deste ano, em Paris, e deverá fixar metas para a redução da emissão de gases do efeito estufa na atmosfera. Isso ficou evidente durante audiência pública conjunta das Comissões de Mudanças Climáticas e de Meio ambiente nesta quinta-feira (17).             

No documento intitulado Laudato si – Sobre o cuidado da casa comum, o sumo pontífice reconhece o consenso científico sobre as responsabilidades humanas nas alterações climáticas e defende “ações decisivas, aqui e agora,” para interromper a degradação ambiental. Na avaliação do presidente da Comissão Mista de Mudanças Climáticas (CMMC), senador Fernando Bezerra (PSB-PE), a “Encíclica verde” pode influenciar líderes mundiais:

— Ao contrário do acordo firmado em Quioto, que especificava as metas para um conjunto aproximadamente 40 países, o de Paris terá as características de um pacto global, e envolverá mais de 190 nações. O documento certamente está formando a opinião de diversos líderes do nosso planeta — disse Bezerra.

Para o jornalista Washington Novaes, o papa apoia no texto uma visão de que o mundo passa hoje uma crise não apenas ambiental, mas de “padrão civilizatório”:

— Nossos modos de viver hoje não são compatíveis com as possibilidades do Planeta— alertou.

O senador Jorge Viana (PT-AC) concordou com o jornalista. Ele defendeu um novo modelo de desenvolvimento, capaz de conciliar as atividades humanas com o crescimento da economia.

— Esse modelo de produção e consumo se esgotou — assinalou Viana.

No documento, o papa estabelece ainda uma relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta, conforme observou o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Hermann Benjamin:

— A Encíclica fala da crise ecológica única e global, mas que produz efeitos diferentes, atingindo mais os pobres e hipervulneráveis — disse.

Conversão ecológica

De acordo com o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Dom Leonardo Steiner, a Encíclica do papa Francisco adverte que a pauta ambiental deve se tornar prioridade internacional. No documento, o líder da Igreja Católica pede uma “real conversão ecológica” de todos e defende o fim da “cultura do consumo descartável.”

— Normalmente, quando ouvimos falar de conversão, estamos falando de uma pessoa que crê e que tenta mudar de vida. E o Santo Padre vai falar que é preciso uma conversão ecológica, ou seja uma nova postura, uma nova compreensão, uma nova relação — elucidou Dom Steiner.

Essa conversão ecológica, acrescentou o senador João Capiberibe (PSB-AP), que propôs o debate, exige “um aprofundamento da consciência ecológica” de todos.

O vice-presidente da Comissão Mista de Mudanças Climáticas, deputado Sarney Filho (PV-MA), destacou a força da bancada ruralista no Congresso e afirmou que a Casa tem agido na contramão do que é defendido pelo papa, aprovando leis que fragilizam a proteção ao meio ambiente.

Comissões debatem a encíclica ambientalista do papa Francisco 

Comissões debatem encíclica papal sobre clima e meio ambiente

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)