Ilegalidade, violência e crime são palavras que, infelizmente, andam de mãos dadas com a exploração de madeira na amazônia paraense. Desde sexta-feira, forças tarefas já identificaram 33 pessoas na região envolvidas em crimes que vão de estelionato a falsidade ideológica, com o intuito de fraudar sistemas estaduais e federais de controle de madeira.

No último sábado (22), a Polícia Civil do Pará prendeu 12 pessoas acusadas de participar de um esquema altamente especializado de “lavagem” de madeira ilegal. A quadrilha atuava em quatro estados da Amazônia e contou com a ajuda de hackers para obter senhas e certificados digitais de funcionários do IBAMA para desbloquear empresas punidas por crimes ambientais.

Em outra ação, realizada nesta segunda-feira (24), a Polícia Federal e o Ministério Público Federal do Pará desmantelaram outro grupo, acusado de coagir trabalhadores rurais a aceitarem a exploração ilegal de madeira dos assentamentos do oeste paraense em troca da manutenção de direitos básicos, como o acesso a créditos e a programas sociais. A polícia cumpriu 21 mandados de prisão e 37 mandados de busca e apreensão, nos estados do Pará, Amazonas e Santa Catarina.

Apesar dos louváveis esforços das polícias Civil e Federal e do MPF, fraudes envolvendo os sistemas de controle são perigosamente comuns. Estima-se que cerca de 80% da madeira comercializada pelo Pará seja ilegal. Sem uma mudança profunda, fraudes continuarão ocorrendo e a floresta continuará a cair.

“Parte das autoridades estão fazendo seu papel. Mas operações como essas acabam servindo apenas para corroborar essa realidade, já que dificilmente os responsáveis ficam de fato presos ou pagam suas multas quando julgados”, afirma Mariana Lacôrte, ativista do Greenpeace. “Além disso, árvore no chão é dano sem volta e não há dinheiro que reverta essa destruição”, completa

Madeira lavada a sério

A adulteração de dados no sistema de comercialização e transporte de produtos florestais da Secretaria de Meio Ambiente, o Sisflora, já é corriqueira. Mas a ação da organização criminosa presa no sábado, pela polícia Civil do Pará, durante a ação “Amazônia Legal”, parece tirada de um filme. O grupo contratou hackers para roubar certificados e as senhas de acesso de superintendentes do IBAMA aos sistemas DOF e Sisflora, para liberar empresas bloqueadas por crimes ambientais.

Segundo a polícia, um dos criminosos contratados obteve o certificado digital do superintendente do Ibama do Pará, Hugo Américo, com a própria empresa de segurança digital, fazendo-se passar pelo mesmo, com um documento falso.

Ao todo, 23 empresas foram desbloqueadas no esquema, ficando livres para movimentar mais de 28 mil metros cúbicos de madeira ilegal, o equivalente a R$ 10,736 milhões. Entre as madeireiras envolvidas estão a Líder, desbloqueada em 9 de fevereiro, a Angelim, liberada em 12 de fevereiro, e a Newcastle, que, segundo a polícia, sequer existe.

Ontem, a Polícia Federal e o MPF/PA deflagraram a operação “Amazônia Limpa”, para desmontar quadrilha de comércio ilegal de madeira, onde cumpriu 21 mandatos de prisão em vários municípios do Pará, em Manaus (AM) e Florianópolis (SC). Segundo investigações do MPF, iniciadas em 2014, o grupo atuava em três frentes: um núcleo intermediador e empresarial, um núcleo operacional centralizado no Incra e um núcleo relacionado às fraudes em órgãos ambientais.O prejuízo mínimo estimado ao patrimônio público é de R$ 31,5 milhões.

Entre os servidores públicos federais com prisão decretada estão integrantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) – incluindo o superintendente da autarquia em Santarém, Luiz Bacelar Guerreiro Júnior – e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), além de servidores estaduais do Pará.

Em ambos os casos são comuns termos jurídicos como: corrupção ativa e passiva, associação criminosa, falsidade ideológica, estelionato, lavagem de dinheiro, uso de documento falso, crimes contra a flora e crimes contra a administração ambiental. O que mostra que, definitivamente, algo vai muito mal no sistema madeireiro do Brasil.

“O que mais será preciso acontecer para que o governo encare o problema com a devida seriedade? A situação está totalmente insustentável e é urgente a suspensão de todos os planos de manejo ativos para sua revisão”, afirma Marina Lacôrte. “Os mercados nacional e internacional também precisam assumir efetivamente que não há papel que garanta a verdadeira origem e legalidade da madeira da Amazônia, e pressionar imediatamente pela mudança, já que fraudes dessa dimensão são comuns na região”, completa.

FONTE: AMAZONIA.ORG

http://amazonia.web1325.kinghost.net/2015/08/operacoes-constatam-na-amazonia-documentacao-oficial-nao-serve-para-nada/