Em debate sobre a medicina indígena na Reunião Anual da SBPC, participantes também abordaram necessidade de transformações no sistema de atenção à Saúde frente às demandas específicas dessa população.
A medicina tradicional dos povos indígenas foi o tema principal da mesa redonda “Sistemas terapêuticos indígenas e sua integração com o modelo de atenção à Saúde”, realizada ontem (14/7) na 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A mesa foi coordenada por Ornaldo Senna, estudante indígena do quarto ano de Medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que sedia a Reunião, e contou com a participação da pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Sofia Mendonça, além de Genilson Pareci, da associação Halitinã, e de Vanildo Ariabo, da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).
Ao longo do evento, os debatedores ressaltaram a necessidade dos profissionais de Saúde levarem em consideração as tradições e saberes das populações indígenas, tanto para promover a integração entre as diferentes formas de fazer Medicina, quanto para respeitar o contexto sociocultural e crenças em que esses povos estão inseridos.
Como exemplo, Sofia Mendonça ressaltou que, ao contrário da medicina convencional, que fragmenta o corpo humano e está acostumada a enxergar o médico como o centro do processo de cura, na medicina indígena a família e o grupo do indivíduo participam de todo o caminho desde o diagnóstico até o tratamento e a cura. Além disso, quando há a necessidade de conduzir o paciente indígena ao hospital, este frequentemente se sente deslocado e desamparado, no contato com profissionais mal preparados para lidar com as suas demandas.
“Do ponto de vista do índio, o espaço no hospital é do não-índio, e o paciente se sente fragilizado, longe de casa, da família, dos curadores em quem ele confia. Há uma diferença muito grande nos rituais, na etiquetas, e o médico não vê que existe um modo diferente de lidar com a saúde e a doença. Além de haver uma diferença de poderes muito grande.”
Vanildo Ariabo enfatizou a necessidade de se criar soluções para a saúde indígena que não afetem o costume e a forma de vivência dessas populações, como o fato de que muitos indígenas estão acostumados a dormir em redes, mas, quando são internados, são obrigados a ficarem nas macas. “Muitas vezes o hospital recebe o incentivo para fazer o atendimento diferenciado, dentro do que sugere a política de saúde indígena, mas o profissional não segue porque não tem conhecimento daquilo”, alegou.
Já para Genilson Pareci, algo importante é a necessidade de autonomia dos povos indígenas, o que inclui a posse de territórios, a possibilidade de produzir seu alimento e a capacidade de curar as próprias enfermidades, algo que se perdeu com o contato com outras populações e o surgimento de doenças desconhecidas. Ele também lembra que é preciso reconhecer e agradecer o papel das populações indígenas no fornecimento de diversos princípios ativos utilizados para a produção de remédios da medicina convencional, e que só estão disponíveis devido ao conhecimento dos pajés e de curandeiros. “O que cobramos é o reconhecimento da contribuição dos povos indígenas. Além disso, na minha experiência, tenho certeza que existem diversas outras doenças para as quais as soluções já estão disponíveis dentro das reservas indígenas”, afirmou.
A mesa redonda integra a programação da SBPC Indígena. A programação completa pode ser conferida em www.sbpc.ufscar.br.
FONTE: (Ascom/UFSCar)
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