O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), juntamente com instituições de ensino e pesquisa que fazem parte do Projeto Waraná Agroecologia, promoveu nos dias 11 e 12 deste mês a I Feira de Sementes, Sabores e Saberes da etnia Sateré-Mawé, da Terra Indígena (TI) Andirá-Marau (localizada entre o Amazonas e o Pará), com o intuito de estimulara agricultura para soberania alimentar indígena. O projeto conta com o patrocínio da Petrobras.
A feira foi uma parceria do Inpa com o Consórcio dos Produtores Saterê-Mawé, o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), o Instituto Federal do Amazonas (Ifam), a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e a Secretaria de Estado da Produção Rural (Sepror).
Segundo a coordenadora do projeto Waraná Agroecologia, a pesquisadora do Inpa Sonia Alfaia, o evento também é um espaço para articular a continuação de várias atividades do projeto com os parceiros. “Queremos não apenas dar continuidade às ações do projeto na TI Andirá-Marau, mas também expandir essas atividades para outras áreas indígenas e assim apoiar e fortalecer cada vez mais a agricultura indígena no Amazonas”, comentou.
Durante a feira foram apresentadas à comunidade as ações que vêm sendo executadas pelo projeto Waraná Agroecologia na TI Andirá-Marau. Uma das atividades que o projeto desenvolve nas comunidades Sateré-Mawé é a capacitação dos índios para a coleta de sementes, por meio de técnicas de escalada em árvores, conhecida como arvorismo.
Um dos instrutores do Centro de Sementes Nativas do Amazonas (CSNA) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Anilton de Souza Neto, explica que o curso visa a coleta das sementes em árvores e palmeiras com segurança, utilizando as técnicas de escalada. “Até mesmo a prática da peconha (instrumento rudimentar utilizado para escalada em palmeiras) que os indígenas já usam há anos, conseguimos reformular para que no momento da escalada na palmeira o coletor evite os acidentes comuns da prática”, explicou o instrutor.
Soberania alimentar
Os Sateré-Mawé, assim como vários grupos étnicos no mundo, estão passando por várias mudanças em seus costumes, inclusive na alimentação. Após o grande cultivo de guaraná para a exportação para a Europa, os Sataré-Mawe reduziram o cultivo de várias espécies, e passaram a consumir produtos industrializados.
De acordo com o coordenador técnico de campo do Idesam e responsável pela implantação dos sistemas agroflorestais do projeto Waraná Agroecológico, Ramon Morato, é preciso desenvolver a soberania alimentar nos povos indígenas, ou seja, dar a autonomia plena na agricultura para decidir o que se cultiva e o que se come.
“Tudo está em transformação, inclusive a cultura indígena, e estamos num momento onde a agroecologia permite trazer as técnicas que eles já conhecem e aperfeiçoá-las. E com esta soberania alimentar os povos indígenas conquistam cada vez mais qualidade de vida, pois estão consumindo alimentos frescos e sem agrotóxicos”, comentou Morato.
O coordenador de etnodesenvolvimento e um dos líderes do povo Sataré-Mawé, Obadias Batista Garcia, concorda com a mudança dos costumes, pois a julga como necessária para a sobrevivência dos povos indígenas. “O índio antigamente não era agricultor e sim coletor. Quando acabávamos de coletar todos os recursos naturais de uma área migrávamos para outra. Mas agora precisamos nos adequar à prática da agricultura para ter mais qualidade de vida com os recursos da floresta, porque mais importante que dinheiro, é o recurso natural que a floresta dá”.
Dentre as sementes trocadas na I Feira de Sementes, Saberes e Sabores, além das sementes arbóreas, de artesanato e plantas medicinais, estão milho, macaxeira, vários tipos de mandioca e cará, principalmente o cará de espinho, que segundo Morato é uma espécie que vinha em declínio.
Na temática dos sabores, os Sateré-Mawé, da Aldeia Simão, ofereceram para degustação comidas tradicionais indígenas, como formiga (saúva), bicho-do-coco, macaco (guariba) e carne de veado.
Projeto Waraná Agroecologia
O coordenador de atividades de campo do projeto Waraná Agroecologia, Etelvino Araújo, explica que o projeto visa dar suporte para o projeto de etnodesenvolvimento do povo saterá-mawé, contribuindo com o fortalecimento e otimização das atividades produtivas para geração de renda do povo sataré-mawé.
“Começamos este trabalho fortalecendo atividades como a coleta de sementes nativas em sistemas agroflorestais, e assim diversificando a produção nas roças. Em paralelo a I feira de sementes, também realizamos um programa de educação ambiental na TI Andirá-Marau, executado pelo Programa de Gestão de Unidades de Conservação (PUC) do Idesam”, contou Araújo.
Futuras parcerias
A I Feira de Sementes, Saberes e Sabores Sataré- Mawé, também contou com o apoio do projeto GATI (Projeto Gestão Ambiental e Territorial Indígena) que apoia e dá visibilidade às iniciativas de gestão ambiental e territorial praticadas pelos povos indígenas. O coordenador técnico do Gati, Robert Miller, contou que o projeto e a coordenação do projeto Warnará Agroecologia vem discutindo a realização de três pequenos projetos com o recurso do GATI, assim como a II Feira de Sementes.
Texto e foto: Fernanda Farias/Ascom Inpa
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