“Nunca houve plano de desintrusão d FUNAI, durante os quase dois meses da operação para desocupar a área da Suiá Missú, as pessoas, crianças, adultos e idosos foram retiradas de suas casas e jogadas pela operação em qualquer lugar, o único objetivo foi retirar aquela gente, sem se preocupar com Direitos Humanos, com Direito das Crianças e dos Adolescentes e muito menos dos idosos”, disse a Jornalista Camila Nalevaiko durante o VIII Seminário sobre a Identidade Mestiça que aconteceu nesta última sexta-feira (19) em Manaus-AM.
Durante sua explanação a jornalista falou sobre a forma como ocorreu o processo de desintrusão da área Marawatsede que foi decretada como Reserva Indígena em 1998. “Eu fiquei chocada ao ver a ação do Governo com esses moradores, vi a FUNAI mandando informes mentirosos para a imprensa, como no dia em que houve o confronto entre polícia e produtores, onde mais de 15 pessoas se feriram e a FUNAI emitiu nota dizendo que apenas 3 pessoas tinham sido machucadas, por ai nós vimos a maneira mentirosa como foi a desintrusão, a maneira fraudulenta como a FUNAI age”, contou a Jornalista.
Outro fator importante considerado por ela, foi a questão da falta de apoio do Governo Federal para as famílias que foram retiradas das áreas. “Eu conversei nesta quinta-feira(18) com o Prefeito Leuzipe Domingues de Alto Boa Vista e ele me contou do fracasso do projeto Casulo do Governo Federal, onde beneficiou 97 famílias com um hectare de terra cada uma delas, porém em dois anos apenas cinco famílias receberam uma casa, o projeto não teve nenhum investimento de infra estrutura, não tem água encanada, esgoto, não tem nada a não ser barracos feitos pelos ex moradores da Suiá Missú, as pessoas simplesmente estão largadas lá. Perguntei ao Prefeito, como estão os índios que ficaram com as áreas da Suiá Missú e o Prefeito me disse que continuam indo as cidades vizinhas de Marawtesde para pedir comida, porque muitos estão passando fome. E ai eu pergunto – Cadê a FUNAI para dar assistência aos índios da nossa região?”, questionou Camila Nalevaiko durante o Seminários.
“O que queremos é que ações como está não se repitam em outros lugares, é absurdo o que aconteceu em nossa região, onde 7 mil pessoas foram tratadas de forma humilhante, essas pessoas não perderam somente suas terras, elas perderam sonhos e esperança e isso não é tão fácil de se recuperar”, frisou a jornalista.
Já o Presidente da Associação dos Pequenos Produtores de Ilhéus Uma Buerarema na Bahia que também palestrou durante o Seminário, denunciou a ação da FUNAI na fabricação de índios na região. “A FUNAI procurava as pessoas oferecendo benefícios, como alimentação, saúde, e pensões para que elas se auto declarassem índios, para poder acelerar o processo de demarcação de terras indígenas na nossa região. Nós vivemos tempos de guerra em Ilhéus-BA, os produtores são ameaçados a todo instante por supostos índios que invadem as fazendas e sítios, roubam as propriedades, ameaçam e até torturam produtores”, denunciou Abiel da Silva Santos durante o Seminário.
Ele contou que ainda este ano mais de 600 pessoas procuraram a FUNAI para se descadastrar, porque não querem mais ser índios. “As pessoas eram ameaçadas para se auto declararem índias, a FUNAI afirmava que caso eles não se declarassem índios teriam suas terras invadidas, com o passar do tempo os moradores foram entendendo como a ação era perversa, brutal e criminosa e fizeram pedidos para se descadastrar”, afirmou Santos.
Em Ilhéus o projeto da FUNAI é demarcar uma área com 47 mil hectares de terra onde vivem cerca de 20 mil pessoas.
O fundador do Movimento Nação Mestiça falou sobre a divisão de territórios no Brasil. “O Brasil tem sofrido uma limpeza étnica, uma ação de intimidação e desrespeito e marginalização à Nação Mestiça que tem seus direitos originários garantidos. Os Mestiços são vítimas de racismo pelo mundo e isto está acontecendo aqui no Brasil também”, explicou Gerson Leão Secretário Geral do Movimento Nação Mestiça. “Uma limpeza étnica quer é tornar uma área etnicamente homogênea pelo uso da força ou intimidação a fim de remover de uma dada área, pessoas de outro grupo étnico. E o objetivo da FUNAI é retirar pessoas que não sejam da etnia indígena dos territórios. Os Mestiços não invadiram terras dos índios, foram os índios que geraram os mestiços e é importante ressaltar que os Mestiços não são intrusos, mas donos da terra por direito de origem”, explicou Leão que concluiu: “O Brasil está sendo dividido em territórios raciais e étnicos como no Apartheid Sul Africano. É importante salientar que o Brasil é signatário da declaração Universal dos Direitos Humanos que condena discriminação de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição. E o Movimento Nação Mestiça nasceu exatamente para contrariar essa divisão de territórios que querem implantar no nosso pais”, salientou Leão.
O Movimento Mestiço nasceu em Manaus que foi o primeiro estado brasileiro a reconhecer a identidade Mestiça em 21/03/2006, através do Projeto de Lei Número 3.044, outros estados como Roraima e Paraíba também já reconheceram a identidade Mestiça.
Quem são os mestiços?
Mestiço brasileiro é o indivíduo que como tal se identifica, parda ou não, descendente de mestiço ou de qualquer miscigenação entre indígena, branco, preto, amarelo ou outra identidade não-mestiça, que se identifica como distinto destas e etnicamente de qualquer outra, e que é reconhecido como tal pela comunidade da etnia mestiça brasileira (nacional, nativa, unitária, indivisível, originada e constituída durante o processo de formação da Nação brasileira e exclusa a indissociavelmente identificada com esta).
Agência da Notícia com Camila Nalevaiko
De Agência da Notícia, 22/06/2015.
http://nacaomestica.org/blog4/?p=15871
NOTA
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