Cerca de 82% das 100 maiores empresas do país adotam ações de mitigação ou de adaptação às mudanças climáticas, revela pesquisa do Instituto Datafolha para o Observatório do Clima e para o Greenpeace, feita nos meses de março e abril deste ano.   

As iniciativas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas são variadas. Vão desde soluções para reduzir o consumo de água e energia (apontado por 40% das empresas) a ações para redução de poluentes (23%) e campanhas de educação e conscientização (12%). “Muitas empresas adotam medidas para lidar com os desafios da mudança climática, ou se preparam para adotar medidas para lidar com esses impactos e suas consequências, tal como a escassez de insumos como a água”, disse Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima, em entrevista à Agência Brasil.

Os números da pesquisa, feita com 100 empresas listadas entre as mil maiores do Brasil, demonstraram ainda que a maioria dos empresários (73% do total) veem as medidas de mitigação como algo positivo para os negócios, com impactos financeiros favoráveis.

“As mudanças climáticas são um desafio do qual não temos como escapar, seja porque vão afetar a nossa vida, seja porque vão afetar o nosso país, ou nosso dia a dia, ou nossa economia. Então, se preparar para o enfrentamento das mudanças climáticas não é apenas lidar com um grande desafio; é uma questão de sobrevivência de negócios e de competitividade, porque o mundo está fazendo esse movimento”, disse Rittl.

Segundo o secretário, os custos iniciais para a adoção de medidas de mitigação podem ser altos, mas permitirão redução de custos ao longo do processo. “Há várias medidas que podem ser tomadas, e todas têm um custo inicial. Mas quando falamos em economia de água e de energia, estamos falando em diminuir a vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, reduzir custos. Tornar mais eficiente o uso desses insumos básicos acaba trazendo redução de custos. Isso tanto para o cidadão em sua casa, que reduz o consumo de água por conta da crise hídrica – como essa que nos aflige no Sudeste –, quanto para as empresas que tomam essa decisão. Isso acaba trazendo, ao longo do tempo, benefícios diretos e redução de custos. Algo que a crise climática nos traz é a oportunidade de nos tornamos mais eficientes”, disse ele.

A preocupação, segundo ele, deve se estender a todo mundo – população, governo, empresas –, e mesmo para os pequenos negociantes. “Se preparar com antecedência permite redução de custos e transição mais harmoniosa para padrões de produção mais limpas”, disse ele. “Uma padaria ou um pequeno mercado dependem muito da energia para manter sua geladeira ou seus equipamentos. Quando acontece um blecaute ou um colapso do sistema elétrico e há falta de energia, isso prejudica diretamente o negócio. De fato, seja pequeno ou grande, existe vulnerabilidade de todos. As mudanças climáticas já estão presentes no nosso dia a dia e tendem a se agravar, e afetam a todos”, acrescentou.

A maior parte dos empresários ou diretores de empresas (71% do total) também respondeu que as ações do governo em relação às mudanças climáticas vão beneficiar a economia do país, mas acham que o governo faz pouco sobre essa questão. Para 46% dos entrevistados, as iniciativas governamentais de mitigação são ruins ou péssimas, e para apenas 4% deles são boas ou ótimas. Nesse ponto, a opinião dos empresários reflete uma pesquisa anterior, feita com a população em geral, segundo a qual 46% dos entrevistados dizem que o governo faz pouco para mitigar o efeito das mudanças climáticas.

“Tanto a opinião do indivíduo quanto a opinião das empresas são coincidentes no que diz respeito ao tamanho do desafio, e [entendem] que as mudanças climáticas trazem grandes impactos ao país. Ambos consideram que o Brasil está fazendo menos do que deveria e, se fizer mais, os benefícios para o país e para a economia – além dos benefícios climáticos – serão grandes. Tanto os indivíduos quanto as empresas consideram o assunto de mudanças climáticas de alta relevância”, disse ele.

Dois em cada três entrevistados disseram que os impactos das mudanças climáticas na economia serão muito negativos, principalmente com relação à produção, ao fornecimento de matérias-primas e à energia. Para a grande maioria (91%), as mudanças climáticas vão provocar impacto em seus negócios. E desse total, 44% acreditam que os impactos serão grandes”, disse Rittl.    

Elaine Patricia Cruz – Repórter da Agência Brasil Edição: Stênio Ribeiro

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