“O Amazonas é um dos Estados, ainda, mais preservado de toda a Bacia Amazônica brasileira, porque não tem estradas”. A declaração é do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e coordenador do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF) José Luís Camargo, durante palestra sobre “Desmatamento, Degradação e Fragmentação Florestal – quanto mais o ecossistema amazônico aguenta?”.
O evento, que aconteceu na tarde da última sexta-feira (15), no auditório do Bosque da Ciência/Inpa, foi promovido pelo Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), em parceria com o PDBFF. Reuniu uma parcela da sociedade civil organizada para um amplo debate sobre a capacidade da floresta de se regenerar, em especial frente à sequência de eventos extremos provocados pelas mudanças climáticas.
“Para começar o processo de fragmentação na Amazônia é só começar a construir estradas”, comentou Camargo ao se referir aos resultados de um trabalho publicado em abril deste ano e que mostra o quantitativo da rede de estradas existentes na Amazônia com mais de 506 mil quilômetros de extensão. Desse total, cerca de 50 mil quilômetros são estradas oficiais, e 450 mil quilômetros são estradas consideradas ilegais. Para o pesquisador, as estradas não oficiais representam fortes agentes de desmatamento.
Segundo Camargo, as consequências desse sistema de fragmentação florestal são quase sempre negativas, e cita como exemplo o “colapso de biomassa”. Ao se criar um fragmento florestal, a maioria das grandes árvores morre por volta dos primeiros anos. Ele explica que ao se perder essas árvores tem que haver a substituição por outras. Nesse processo, há uma liberação muito grande de carbono e as árvores que estão substituindo as que morreram acumulam menos biomassa.
O PDBFF/Inpa estuda a fragmentação florestal e o que acontece com a floresta amazônica há 35 anos e mantém um dos mais completos bancos de dados a respeito do efeito da fragmentação dos habitats sobre as formas de vida da floresta.
A pesquisadora do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), de Belém (PA), Samia Nunes, também participou do evento e falou sobre a questão do desmatamento. O Instituto, através de imagem de satélite, acompanha e faz o monitoramento do desmatamento e da degradação florestal na Amazônia.
Nunes afirma que o Imazon tem conseguido contribuir para a redução da aceleração do desmatamento. Segundo ela, se comparados os dados do desmatamento em abril desse ano com o mesmo período do ano passado o índice foi de 187%. “O que ainda é considerado alto, sendo que em períodos anteriores esse índice foi muito maior”, comenta.
O Imazon emite mensalmente os resultados do Sistema de Alerta ao Desmatamento (SAD) que é gerado para toda a Amazônia. Nunes explica que esses resultados são checados em campo para se ter uma validação e verificar se realmente ocorreu aquele desmatamento ou se foi confundido com outra classe de cobertura de solo. “Esses resultados têm sido muito importantes nas tomadas de decisões”, ressaltou.
Para a gerente do LBA, Muriel Saragoussi, a idéia de realizar esse colóquio foi para discutir temas que são ao mesmo tempo sobre Ciência e como esta pode servir às políticas públicas. “Nesse evento específico, queríamos entender como o desmatamento, a degradação e a fragmentação florestal estão impactando as florestas como um todo e quais as consequências para a sociedade brasileira”, disse.
Participaram como “provocadores” do debate a jornalista Kátia Brasil, do Portal Amazônia Real, e o pesquisador Francis Wagner, especialista em Clima e coordenador geral da Pós-Graduação Lato Sensu da Escola Superior de Tecnologia (EST/UEA).
Texto e foto: Luciete Pedrosa/Ascom Inpa
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