A OPAN realizou entre os dias 17 e 19 de março de 2015 a primeira oficina de etnozoneamento na Terra Indígena (TI) Marãiwatsédé. A atividade é mais uma etapa da construção do Plano de Gestão Territorial da TI Marãiwatsédé e contou com mais de 60 indígenas, com destaque para a participação ativa dos anciãos da comunidade e das mulheres, presentes em grande número.   

Durante a primeira fase da reunião, realizada na escola da comunidade, o grupo relembrou todos os passos do processo de etnomapeamento na terra indígena, iniciado em 2013, desde as oficinas de elaboração dos calendários sazonais às expedições de caça e coleta (dzo’omori). Além de fortalecer a vigilância territorial e o monitoramento dos recursos naturais, todos esses momentos serviram para levantar as informações dos mapas temáticos apresentados posteriormente na atividade.

Na fase seguinte, foram formados grupos (de mulheres, professores indígenas, jovens e conselho de anciãos) para discutir e validar mapas temáticos. A partir desses vários olhares, iniciou-se a discussão sobre o etnozoneamento, com o objetivo preliminar de auxiliar a comunidade a se apropriar desse instrumento e seus possíveis usos.

A indigenista e consultora da OPAN, Sayonara Silva, que facilitou a oficina, explica que o etnozoneamento tem o objetivo de identificar regiões no território, como as áreas sagradas, zonas de uso para roças, caça e etc. “Existem critérios próprios das comunidades para definição dessas zonas, e a partir delas também são estabelecidos acordos futuros de uso pensando na melhor gestão dos recursos e do território”, informou Sayonara.

(Re)conhecendo o território

Há apenas dois anos os Xavante de Marãiwatsédé passaram a poder circular com liberdade por toda a terra indígena. O processo de desintrusão foi iniciado em novembro de 2012 e finalizado em janeiro de 2013, após 20 anos de ocupação irregular por não indígenas. Os Xavante, retirados compulsoriamente de seu território tradicional em 1966, só conseguiram voltar à área em 2004, e até a desintrusão ficaram restritos a cerca de 10% da terra homologada. Agora, no processo de reocupação, eles enfrentam o grande desafio de se adaptar a um território intensamente degradado. Nesse aspecto, a comunidade aponta as discussões e atividades relacionadas à gestão territorial como ferramentas para a melhoria da sua qualidade de vida.

“Antes a mata era grande e tinha muita riqueza. A gente comia raízes, frutas, batatas, tudo da terra e não tinha doença. Depois veio o homem branco e destruiu tudo. Por isso, agora é importante conhecer o território, saber onde ainda tem alimento tradicional, onde tem caça e pesca, e registrar para o futuro o uso e conhecimento da terra para o povo viver melhor”, afirmou Dário, ancião de Marãiwatsédé.

Além disso, a construção dos mapas é um valioso processo de transmissão de conhecimento dos mais velhos aos jovens da aldeia. “Os mais jovens ainda estão conhecendo a terra. O material vai servir para ensinar as crianças no dia a dia e também na escola e para fortalecer o povo”, destaca Carolina Rewaptu, professora e representante do grupo de coletoras de sementes Piõ Rómnha Ma´ubumrõi´wa.

O trabalho do etnozoneamento de Marãiwatsédé vai continuar durante todo o ano de 2015. O próximo passo é a construção dos acordos coletivos de uso do território, levando em consideração o contexto de reterritorialização recente e a necessidade de atualização dos mapas e das informações na medida em que o processo de reocupação da TI for se consolidando. “Os Xavante estão se apropriando desses instrumentos de gestão territorial e a grande participação da comunidade nesse processo demonstra interesse em refletir e pensar no futuro, fortalecendo a luta e autonomia do povo”, conclui Sayonara.

Por: Mel Mendes
Fonte: OPAN

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