Em artigo publicado nesta sexta-feira (23) na revista Science, pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos reforçam a importância da manutenção da moratória da soja como instrumento capaz de conter o desmatamento na Amazônia. Eles defendem ainda ajustes para abranger desmatamentos menores e a extensão da moratória para o Cerrado.  

As análises apresentadas no artigo mostram a eficácia da moratória na redução do desmatamento vinculado à soja na Amazônia, incluindo uma comparação com o Cerrado, onde a medida não foi adotada e o desmatamento para plantio do grão continuou. Mostram também alguns pontos fracos, como o fato de o monitoramento abranger somente áreas maiores que 25 hectares e não cobrir assentamentos da reforma agrária.

Além disso, os pesquisadores avaliaram a situação e perspectivas de curto prazo de implementação do Código Florestal e concluíram que as medidas previstas não são suficientes para impedir o ressurgimento de novos desmatamentos para cultivo da soja.

Segundo o artigo, o bioma amazônico tem 14,2 milhões de hectares de floresta tropical não protegida com condições adequadas para o plantio de soja, e até dois milhões desses hectares poderiam ser desmatados legalmente, de acordo com o Código Florestal. “Sem a moratória, essas florestas estariam vulneráveis a ocupação pela soja”, diz trecho do artigo publicado na Science.

Para Laurent Micol, coordenador executivo do Instituto Centro de Vida (ICV) e um dos coautores da pesquisa, essa discussão acontece num momento importante em que grandes empresas multinacionais têm assumido o compromisso pelo desmatamento zero. “Não podemos retroceder em uma ação que está dando certo. É fundamental estender a moratória ou substituí-la por algo com uma eficácia igual ou maior, e também incluir o Cerrado para garantir que não haja desmatamento na cadeia produtiva da soja”, reforçou.

A Moratória da Soja é um acordo voluntário firmado entre governo, indústria e sociedade civil, em vigor desde 2006 com prazo de término previsto para maio de 2016, pelo qual as grandes empresas comercializadoras de soja se comprometem a não comprar grãos produzidos em áreas de novos desmatamentos na Amazônia. Para isso, as plantações são monitoradas por satélites e a soja proveniente de desmatamento não encontra mercado consumidor.

O artigo científico é assinado por dez pesquisadores, incluindo três de instituições brasileiras: Britaldo Soares Filho, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Paulo Barreto, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), e Laurent Micol, do Instituto Centro de Vida (ICV). A primeira autora é Holly Gibbs, da Universidade de Wisconsin, nos EUA.

Fonte: ICV

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