Trinta anos atrás, o garimpo em Serra Pelada, no Pará, foi o símbolo da corrida do ouro na Amazônia. Agora, o “vil metal” volta a reluzir na mata. Entre 2001 e 2013, cerca de 1.680 km² de floresta tropical, uma área equivalente ao município de São Paulo, foram perdidos para a atividade ilegal na América do Sul.

A crise econômica, em 2007, impulsionou ainda mais a corrida pelo ouro. Nas florestas tropicais do continente, 89% do garimpo ocorrem em apenas quatro regiões. No Brasil, a mais preocupante é a zona entre os rios Tapajós e Xingu, no Pará. Lá, o ouro provocou a perda de 183 km² de vegetação. As florestas da Guiana, da Amazônia peruana e a margem de rios colombianos também estão na mira dos garimpeiros, segundo um mapeamento coordenado pela Universidade de Porto Rico, publicado hoje pela revista “Environmental Research Letters”.

Os pesquisadores criaram um banco de dados geográficos, destacando a localização de minas formadas entre 2000 e 2013. O mapa foi comparado às mudanças da cobertura florestal observadas no mesmo período.

Impulsionada pelo consumo pessoal e pela incerteza dos mercados financeiros globais, a produção mundial de ouro aumentou de 2.445 toneladas em 2000 para cerca de 2.770 toneladas em 2013. No mesmo período, seu preço quintuplicou.

— Para diminuir a quantidade do desmatamento associado à mineração do ouro nas florestas tropicais, é importante haver uma consciência entre os consumidores sobre os impactos ambientais e sociais de comprar joias ou investir no metal — avalia a autora principal do estudo, Nora Álvarez-Berríos. — A extração ilegal pode levar à extensa perda de florestas e resultar em impactos ambientais e ecológicos graves, causados pela remoção de vegetação e criação de estradas.

A devastação da mata pode provocar danos a longo prazo, como mudança nos padrões de chuva, perda permanente da biodiversidade nos rios assoreados e liberação de CO2 na atmosfera.

Segundo a pesquisadora, o número de pequenos garimpeiros no Brasil aumentou de 20 mil na década de 1990 para 200 mil em 2010.

Pesquisador sênior do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Adalberto Veríssimo lembra que a degradação pode ser percebida em uma área muito maior de onde ela é realizada.

— Há uma série de efeitos indiretos, como a migração em massa para as áreas de prospecção do ouro e sua permanência mesmo após os recursos serem esgotados — Garimpeiros podem se envolver na abertura de fazendas, comerciantes de ouro patrocinam a especulação fundiária. Todas estas atividades representam também uma ameaça de invasões a unidades de conservação.

Diretor do Departamento de Apoio de Políticas para o Combate ao Desmatamento na Amazônia do Ministério do Meio Ambiente, Francisco Oliveira reconhece que o garimpo atrai outras ações criminosas.

— Uma pessoa interessada em desmatar uma área pode conseguir os recursos necessários através da exploração do ouro — explica. — Existe, algumas vezes, uma relação entre atividades ilegais. Ainda assim, precisamos lembrar que, embora o garimpo nos preocupe, ele responde a apenas 0,14% de todo o desflorestamento na Amazônia.

Nove entre cada dez áreas degradadas pela mineração ficam fora do Brasil — o que não quer dizer que não há brasileiros envolvidos na extração ilegal do ouro em outros países.

Para o vice-presidente de Desenvolvimento para as Américas da Conservação Internacional, André Guimarães, o governo brasileiro deve oferecer ajuda aos países vizinhos, que têm menos infraestrutura para combater os garimpeiros.

— O Brasil é como um avestruz: só vê o problema dentro de sua fronteira — acusa. — Mais de metade do PIB da Guiana vem da exploração do ouro. E a maior parte dos garimpeiros é formada por brasileiros. Além do meio ambiente, vive-se uma degradação social, já que ao redor desta atividade forma-se um grupo marcado por prostituição e violência.

DESMATAMENTO SOBE NA AMAZÔNIA

O Imazon divulgou ontem novos dados relacionados ao desmatamento na Amazônia. A perda da vegetação entre agosto e dezembro de 2014 aumentou 224%, comparada ao mesmo período no ano anterior. Para Veríssimo, que coordena o sistema de medição independente, a tendência é que a devastação cresça ainda mais nos próximos meses.

Por: Renato Grandelle
Fonte: O Globo

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