Hoje em dia é comum ouvir falar em qualidade de vida aliada ao consumo de alimentos saudáveis, mas poucas pessoas levam a sério essa questão na hora de escolher o que vão servir à mesa. As comunidades ribeirinhas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu-Purus (RDS-PP) têm a oportunidade de conhecer e saber fazer os processos necessários até o alimento ficar pronto. Buscando valorizar ainda mais esse conhecimento, desde 2013, o Instituto Piagaçu (IPi), através do projeto Peixes da Floresta vem realizando um curso sobre agricultura agroflorestal focado no potencial dos ribeirinhos para produção de alimentos agroecológicos.
Ao todo três módulos deste curso aconteceram nas comunidades de Uixi, Cuiuanã, Caua e Itapuru, que fazem parte da RDS-PP, envolvendo cerca de 100 comunitários. Dentre a palestras, debates, rodas de conversa e atividades práticas, o agricultor José Rodrigues, integrante da Associação dos Produtores Orgânicos do Amazonas (APOAM) e técnico em agroecologia do Museu da Amazônia (MUSA), ministrou a oficina sobre biofertilizantes e defensivos agrícolas naturais, tema importante para aprimorar as técnicas tradicionais que os moradores podem utilizar em suas hortas, levando em consideração a sustentabilidade.
“É bom ter cuidado com a saúde através da nossa alimentação, evitar produtos com veneno é importante” comenta Jesuy Tavares Monhoes da comunidade Boa Esperança, da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã (baixo Japurá), que também participou da atividade através da parceria com o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM).
Os elementos naturais são preciosidades do ser humano, uma das metas do projeto Peixes da Floresta é sensibilizar as pessoas para que esses recursos sejam utilizados valorizando e protegendo a agrobiodiversidade. O curso de Agricultura Agroflorestal realizado com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, objetivou a troca de experiências entre os agricultores de comunidades distintas, além da discussão de uma técnica diferente da usual, o roçado feito sem fogo, também conhecido como Sistema Agroflorestal.
A pesquisadora do IPi, Tainah Godoy esclarece: “Agrofloresta é uma forma de se fazer agricultura que alia os princípios de sucessão natural, ecologia e qualidade de vida. O sistema é autossustentável na medida em que se fertiliza a partir de matéria orgânica decomposta das espécies inseridas junto às espécies produtivas, que são manejadas e incorporadas ao solo periodicamente”.
A formação dos agricultores incentiva a produção de alimentos agroecológicos destinados ao consumo das próprias famílias agricultoras e em um segundo momento objetivando a comercialização de produtos mais saudáveis gerando renda e interação entre os agricultores da reserva. Marina Koketsu Leme, também pesquisadora do IPi, ressalta que “práticas agroecológicas garantem maior autonomia aos agricultores, pois visam a diminuição de insumos externos, buscando soberania e segurança alimentar”.
Outros assuntos foram abordados nos encontros, entre eles temas como: organização da comunidade, qualidade da alimentação atual, comercialização de produtos agrícolas, dificuldade de escoamento de produção, assim como dificuldade de encontrar sementes, diversidade de produção e planejamento integrado da produção agrícola.
Durante o terceiro módulo houve uma feira de troca de sementes, onde os agricultores participantes puderam perceber que guardar sementes para garantir a produção do próximo ciclo agrícola é crucial. Mudas de algumas espécies de plantas alimentícias não convencionais (PANC) doadas pelo professor Valdely Ferreira Kinupp do Instituto Federal do Amazonas (IFAM) foram distribuídas aos participantes. São plantas que eram consumidas pelos antigos, e que hoje pouco se encontra, como por exemplo, ariá, inhame, taioba, ora-pro-nobis, urtiga, araruta, entre outros.
O morador Fábio da Silva Ferreira da comunidade Lago do Matias entendeu a mensagem “Quem ganha é quem guarda semente para o próximo ano” comentou. Assim como José Monteiro, da comunidade Pinheiros, que destaca a coragem para plantar como ponto de influência positiva no resultado do plantio “Eu nunca mais comprei milho”.
O curso tornou viável a união dos agricultores em um ajuri (mutirão), onde debateram sobre os assuntos repassados pelos palestrantes e decidiram implementar um sistema agroflorestal
Um dos resultados é a criação de uma área experimental proposta no planejamento do curso e discutida entre os moradores em ajuri (mutirão). “Nas atividades que realizamos há sempre a implementação de uma área experimental de agrofloresta onde as técnicas discutidas nos momentos teóricos são aplicadas”, explica Marina. A área foi trabalhada com as sementes e ferramentas que cada um levou além de sementes doadas pela Secretaria de Estado de Produção Rural (SEPROR).
“Os módulos foram encerrados após o dia de plantio, onde os participantes se sentiram motivados a experimentarem esse tipo de sistema de cultivo por meio de ajuris com os companheiros, isso é muito positivo” comenta a pesquisadora Tainah.
Além das informações trocadas nas rodas de conversa dos encontros, o curso proporcionou aos agricultores ribeirinhos um olhar diferenciado para as vantagens que o trabalho em conjunto pode trazer para as comunidades.
As pesquisadoras Marina e Tainah finalizam ressaltando que o curso vem proporcionando a interação entre os agricultores da reserva, gerando uma troca de saberes e vivências que enriquece a forma de se trabalhar a terra.
FONTE: Instituto Piagaçu
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