O comandante da Companhia Independente de Policiamento Ambiental (Cipa) da Polícia Militar, major Miguel Arcanjo, disse ontem que 80 garimpeiros já haviam sido detidos na região do Auaris, na Terra Indígena Yanomami, Município do Amajari, a 150 quilômetros da Capital pela BR-174, Noroeste de Roraima. A previsão é que os detidos cheguem a Boa Vista no final da tarde de hoje.
Na manhã de sábado, 29, os garimpeiros armaram uma emboscada e atiraram nos policiais. O sargento Ranildo Brandão, de 46 anos, foi alvejado nas costas no momento em que tentava tirar um tronco que obstruía a passagem na parte mais estreita do rio Uraricuera. A guarnição era formada por seis policiais, que acompanhavam três servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) na operação Krokorema II, desencadeada na quinta-feira passada, 27, pela Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Yokuama.
O comandante afirmou que a maioria dos garimpeiros começou a sair de dentro da mata e a se entregar, mas outros estão fugindo de quadriciclo para a Venezuela. “Os policiais não estão perseguindo os garimpeiros, mas dando suporte aos servidores da Funai. Os garimpeiros estão se entregando porque não querem ficar lá, sozinhos, isolados no meio da mata”, frisou.
Segundo o comandante, os garimpeiros estão sendo bem tratados e se alimentam com seus próprios mantimentos. Eles estão no acampamento e não há conflito algum com os policiais. Eles chegarão amanhã [hoje] à tarde e serão levados à Superintendência da Polícia Federal, onde responderão por seus crimes.
Conforme o policial, a maioria dos detidos vai responder por crimes ambientais, como poluição da natureza e garimpagem ilegal. O setor de Inteligência da PM também já investiga os autores do disparo que acertou o sargento. Nesse caso, os responsáveis responderão por tentativa de homicídio.
TRANSPORTE – O Comando da PM e a Funai preparam uma operação para transportar de barco todos os garimpeiros até a Capital. Naquela região, até ontem, 10 balsas e equipamentos de garimpagem já haviam sido destruídos pelos 16 policiais militares e agentes da Funai. “O que podemos dizer é que o clima não local não está tenso e que o caso foi isolado. Vamos descobrir quem atirou no sargento e os demais garimpeiros responderão por crimes contra o meio ambiente”, disse o comandante.
SAÚDE – Conforme Arcanjo, ontem pela manhã os médicos retiraram os drenos e o sargento Ranildo já respira sem ajuda de aparelho. “Ele continua internado, mas não corre risco de morte. Está em observação”, frisou o comandante.
FUNAI – A Folha também entrevistou ontem João Batista Catalano, coordenador substituto da Frente de Proteção Etnoambiental, departamento da Funai. Questionado sobre a não participação da Polícia Federal ou do Exército Brasileiro na operação, ele informou que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) já se manifestou favorável aos executivos estaduais também serem responsáveis pela ordem e segurança em terras indígenas, mesmo em área federal.
Sobre o número insuficiente de policiais militares e agentes da Funai durante a operação, numa área com 300 garimpeiros, Catalano alegou que, quanto maior o número pessoas sabendo da operação, maior é a possibilidade do vazamento de informações, o que, segundo ele, colocaria a operação em xeque.
“Os parentes dos parentes ou amigos de quem participaria da operação, por exemplo, poderiam avisar os garimpeiros. Aí não lograríamos êxito”, alegou, avisando também que as operações da Funai vão continuar nas terras indígenas de Roraima.
Catalano disse que, devido às fiscalizações, vêm sofrendo ameaças de morte, segundo ele, feitas por empresários brasileiros e venezuelanos da garimpagem ilícita. O ouro do solo roraimense é comercializado principalmente no eixo Rio/São Paulo e em Goiás. (AJ)
Garimpeiros retiram até 80 kg de ouro por mês
Por mês, mais de 80 quilos de ouro são extraídos de forma clandestina da região do Auaris, na terra indígena Yanomami, no Amajari, município a 150 quilômetros da Capital pela BR-174, Norte de Roraima. Como o quilo do minério sai a R$ 9 mil, o prejuízo da União, dona da terra, chega a R$ 720 mil mensalmente. Em dois anos, tempo de funcionamento do garimpo clandestino na região do Auaris, o povo brasileiro já perdeu mais de R$ 17,2 milhões.
Os números acima foram fornecidos por João Batista Catalano, coordenador substituto da Frente de Proteção Etnoambiental da Funai. Ele informou que 38 balsas atuavam na região do Auaris, mas 10 já foram destruídas, junto com equipamentos de extração mineral. O garimpo clandestino, segundo ele, é mantido por empresários brasileiros e venezuelanos.
“O crime também é organizado e tem muito poder de custo. Nós, por exemplo, estamos hoje correndo atrás de 10 galões de gasolina, enquanto os empresários da garimpagem ilegal usam GPS, telefonia móvel, aviões e outras tecnologias. Este mercado clandestino movimenta muito dinheiro”, observou.
O coordenador lembrou que a garimpagem ilegal é crime de usurpação dos bens da União. “Estão arrancando da terra o ouro do povo, que é um patrimônio de todos os brasileiros. É preciso que ação mais enérgica no combate a este crime. União, Estado e município devem criar uma rede de proteção, não apenas relacionada aos índios, mas ao meio ambiente”, frisou.
MERCÚRIO – Catalano fez um alerta. Moradores do interior, segundo ele, já podem estar consumindo água contaminada por mercúrio jogado nos rios pelos garimpeiros. Apenas na terra Yanomami, exemplifica o coordenador, já foram registrados mais de dois mil rios que formam uma bacia que deságua no Rio Branco, o principal de Roraima, afluente do Rio Negro, que forma o maior rio do mundo, o Amazonas.
“São duas mil nascentes naquela região. Lá vivem mais de três mil indígenas, que estão sendo aliciados e escravizados pelos garimpeiros, que já somam 500 aproximadamente. Com tantos crimes naquela região, é preciso entender que a fiscalização não cabe apenas à Funai, mas também a outros órgãos do Estado e do município, porque o meio ambiente é de responsabilidade de todos”, ressaltou.
Entre os crimes, Catalano lembrou que crianças indígenas estão sendo estupradas pelos garimpeiros. Os índios mais jovens, ainda segundo o coordenador, também são recrutados para trabalharem em regime de escravidão. “Tudo em nome da ganância do homem, em detrimento desses povos e do meio ambiente, que é de responsabilidade de todos, como já disse”, frisou.
Como medida paliativa, o coordenador disse que é necessário ativar a base da Funai na região de Krokorema, desativada desde julho por falta de recursos. “É bom lembrar que a maioria dos garimpeiros entra pelo rio que era vigiado por esta base”, observou.
Por Amílcar Júnior – Jornal Folha de Boa Vista – Número de garimpeiros detidos chega a 80 – Folha de Boa Vista (folhabv.com.br)
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