O coordenador-geral da Frente de Proteção Yanomami e Ye’kuana, da Fundação Nacional do Índio (Funai), João Catalano, criticou ontem um dos principais símbolos de Roraima, o monumento ao Garimpeiro, na Praça do Centro Cívico. Ele disse que a estátua seria uma apologia ao crime e que, por isso, vai propor a demolição do monumento.
“Não podemos aceitar que um símbolo que faz apologia ao crime represente um povo. O garimpeiro é um infrator porque contraria várias leis, principalmente as ambientais. Vejam o que acontece na Terra Yanomami, por exemplo. Centenas de garimpeiros, criminosos usurpam o ouro do povo brasileiro e ainda destroem o meio ambiente, poluindo rios e desmatando a floresta, o que acaba colocando em risco a vida de todos. E temos um símbolo que faz apologia a isso?”, questionou.
O coordenador não deu detalhes de como, quando, onde ou a quem iria propor a demolição da estátua, que fica na praça central da cidade, onde estão as sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário de Roraima. Catalano também lembra que o monumento representa a degradação do povo macuxi.
“Tínhamos uma população pacata com 70 mil habitantes, mas em pouco tempo esse número saltou para mais de 200 mil com a abertura clandestina do garimpo. E o que aconteceu? Exploraram nosso solo, levaram nossas riquezas, o garimpo foi fechado e sobraram as mazelas sociais para o povo”, argumentou.
O coordenador realiza, desde o mês passado, a operação Korekorema II, na região do Auaris, na Terra Indígena Yanomami, no Município do Amajari, a 154 quilômetros da Capital pela BR-174, Norte do Estado. No local, segundo ele, mais de 300 garimpeiros já foram detidos e estão sendo conduzidos à sede da Polícia Federal, no bairro 13 de Setembro, zona Sul da Capital.
Em toda Terra Yanomami, conforme ele, cerca de mil homens exploram a terra, custeados por empresários brasileiros e venezuelanos da garimpagem ilegal. Na região do Auaris, 36 balsas retiravam em média 80 quilos de ouro por mês. Em menos de dois anos, o prejuízo da Nação já ultrapassava R$20 milhões.
“A questão não é apenas defender o direito dos índios, mas de todos. A natureza lá sofre com a ação desenfreada do homem, que derruba matas e polui inúmeros rios. E o meio ambiente é de responsabilidade de todos. Por isso, como ter um símbolo que representa tudo isso? É uma apologia ao crime”, reafirmou.
PMBV – A Folha mandou e-mail, ontem à tarde, para a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Boa Vista para que se pronunciasse sobre o assunto, já que o brazão do Município tem a imagem exatamente do Monumento ao Garimpeiro. Mas, até o encerramento desta matéria, às 17h, não houve retorno.
Monumento é símbolo histórico da cidade
O monumento foi inaugurado no final da década de 1960 pelo governador Hélio Campos em homenagem à figura importante na história de Roraima: o garimpeiro. Do início ao final do século passado, a atividade garimpeira era legalizada na região, por isso a extração de minérios foi intensa, o que contribuiu para o aumento populacional de Roraima.
O monumento representa uma homenagem aos trabalhadores que, no início do século XX, dirigiram-se a Roraima em busca de metais preciosos, contribuindo para o desenvolvimento do Estado e dando origem ao chamado “milagre amarelo”.
Produzida em São Paulo, a estátua tem cerca de sete metros de altura e repousa sobre um espelho d’água retangular, de 7,5 metros de largura por 15,7 metros de comprimento. A construção é feita de alumínio e oca por dentro, soluções que permitiram reduzir o peso da estrutura de forma que ela pudesse melhor suportar as intempéries.
Uma rampa de 14 metros de altura dá acesso à parte frontal do monumento. Por meio de uma bomba elétrica, é acionado um mecanismo que permite que a água escoe da bateia do garimpeiro, simulando a atividade da mineração em sistema de faisqueira, que era uma forma de trabalho típica dos primórdios da produção mineral em Roraima.
Na década de 1970 também foi construída, na praça do garimpeiro, como é conhecida, a primeira pista de pouso e decolagem de aeronaves da cidade. O tráfego aéreo em Boa Vista se intensificou com o garimpo e isso fez expandir o comércio local.
Na frente do monumento há uma placa que homenageia vários garimpeiros. A estátua é um dos maiores monumentos de Boa Vista e, em 2007, foi adotada como símbolo histórico da cidade pela administração municipal. A imagem do garimpeiro aparece até na bandeira do município de Boa Vista.
Por Amilcar Junior – Jornal Folha de Boa Vista
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