Apesar dos investimentos milionários do Governo Federal no setor energético de Roraima, nos últimos anos, o Estado continua refém da eletricidade gerada pelo complexo hidrelétrico de Guri/Macágua, na Venezuela. A Eletrobras e a Companhia Energética de Roraima (Cerr) produzem energia, mas a quantidade não é suficiente para atender a demanda. 

Energia produzida em usinas termoelétricas de Roraima não é suficiente para atender nem a metade da demanda (Foto: Raynere Ferreira)

O gerente do Departamento de Operação, Manutenção e Geração de Energia da Eletrobras, Jocely Ferreira, confirmou ontem que a Capital e o Interior do Estado são dependentes da energia de Guri e que não podem atualmente escapar de um possível “apagão”, caso ocorra algum problema na rede de transmissão no país vizinho.

Mas Ferreira adiantou que para se precaver, a Eletrobras já reforça sua matriz com a instalação de três usinas termoelétricas que, juntas, podem gerar até 70 megawatts, que somados aos 60 mega já produzidos em Roraima, suprem a demanda na Capital, que consome hoje cerca de 105 megawatts.

A previsão para que os três parques térmicos estejam funcionando é até o próximo dia 20 de dezembro. Mas, até lá, conforme o gerente, o roraimense continuará refém da energia venezuelana, sujeito a apagões e até a blecautes. “Hoje, Guri vende para a Eletrobras de Roraima, via Eletronorte, 125 megawatts por mês. E nossas termoelétricas geram mais 60 mega. Caso a gente perca a eletricidade venezuelana, o que temos não é suficiente para atender a demanda. Desde 2009 o Ministério de Minas e Energia foi informado a respeito desta situação”, lembrou.

O fornecimento de energia em Roraima é feito por três empresas. A Eletronorte compra de Guri, da Venezuela, e revende para a Eletrobras, que sustenta a Capital e revende para a Cerr, que utiliza esta mesma energia para manter nove municípios do Interior.

A Eletrobras paga para a Eletronorte, por mês, o valor de R$ 11 milhões a R$ 13 milhões. A empresa também gasta mais R$ 4 milhões por mês com o parque termoelétrico em Roraima. Somente na Capital, a Eletrobras atende a 105 mil clientes. Mas apesar do elevado número de consumidores, a empresa trabalha no vermelho.

“O Governo do Estado é nosso principal devedor, junto com a Caer [Companhia de Águas e Esgoto de Roraima] e a Codesaima [Companhia de Desenvolvimento de Roraima]. São grandes devedores”, frisou o gerente, que preferiu não revelar os valores da dívida. (AJ)

Cerr compra 80% da energia que fornece

O diretor-presidente da Companhia Energética de Roraima (Cerr), Luiz Henrique Haman, disse, ontem, que a produção de eletricidade no Sul do Estado atende à demanda, porém os moradores da região continuam reclamando das constantes quedas de energia.

Em Rorainópolis, por exemplo, município a 298 quilômetros da Capital, pela BR-174, as oscilações ocorrem quase todos os dias e causam prejuízos, segundo os comerciantes. “A luz se vai, e quando volta, queima os aparelhos. A Cerr não paga os prejuízos”, reclamou o comerciante Fernando Andrade Rodrigues, de 67 anos.

Em Caracaraí, município a 155 quilômetros da Capital, pela BR-174, região Centro-Sul do Estado, os consumidores também reclamam das constantes quedas de energia. Segundo eles, quando falta luz, falta água. “A gente tem que correr para encher as vasilhas”, reclamou uma servidora pública que preferiu não se identificar.

Luiz Henrique Haman disse que a Cerr trabalha atualmente com 68 usinas em todo o Estado, com destaque para Jatapu, no Município de Caroebe, a 368 quilômetros da Capital, pela BR-174, Sudeste de Roraima. A mini-hidrelétrica tem quatro turbinas, mas só duas funcionam. As outras duas entrarão em operação até o dia 12 do próximo mês.

“Então, duas turbinas serão revitalizadas e aí teremos 9,8 megawatts para atender o eixo 210, no Sul do Estado. E como a produção não será toda consumida, poderemos levar parte desta energia para Rorainópolis e até Mucajaí, interligando a rede da usina”, explicou.

A Cerr também investe atualmente cerca de R$ 112 milhões na construção de novas linhas de transmissão. O dinheiro vem do Governo Federal, via convênio entre Governo do Estado e Caixa Econômica Federal (CEF). As linhas se estendem de Boa Vista a Rorainópolis, da Vila de Novo Paraíso à usina de Jatapu, de Rorainópolis à Vila do Equador, de Mucajaí ao Apiaú e de Mucajaí a Iracema.

Do outro lado do Estado, a companhia também revitaliza a linha de transmissão de Alto Alegre, Centro-Oeste, e ainda trabalha na rede de Boa Vista a Bonfim, Leste do Estado. Na subestação do quilômetro 100, a companhia interliga a linha para Normandia, Leste do Estado.

Apesar dos investimentos milionários e das 68 usinas espalhadas pelo Estado, a Cerr compra da Eletrobras, atualmente, 80% da energia que fornece aos seus consumidores. Esta energia, segundo explicou Haman, vem da hidrelétrica de Guri, na Venezuela. Por mês, a companhia paga R$ 2,8 milhões.

No Município de Pacaraima, a 220 quilômetros da Capital, pela BR-174, Norte do Estado, a Cerr também compra energia venezuelana da empresa Cooperleque. Para cobrir todo o interior de Roraima, a Cerr precisaria de 37 megawatts.

A solução para os blecautes no Interior pode estar na interligação do sistema roraimense com o resto do País, com a construção da linha de Roraima até a hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, passando pelo estado amazonense.

Luiz Henrique Haman se reservou a falar da empreitada. Disse apenas que a linha já está sendo construída, mas esbarram no processo de licenciamento ambiental. Conforme o presidente, a previsão da interligação de Roraima com o sistema nacional é para abril de 2016. 

Sobre a federalização da Cerr, disse que o processo está em pleno andamento e que o Governo do Estado está investindo recursos para que a empresa obtenha o padrão necessário exigido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). “Trabalhamos na adequação da empresa aos custos de referência da Aneel. A expectativa é equilibar receitas e despesas nos próximos seis meses”.

ENDIVIDAMENTO – Em 2012, deputados da Assembleia Legislativa de Roraima aprovaram um projeto que autorizou o então governador Anchieta Júnior (PSDB) a emprestar R$ 604 milhões do Governo Federal. O dinheiro deveria ser destinado para resolver os problemas econômicos e financeiros da Cerr.

O governo emprestou, de uma só vez, R$ 260 milhões, via convênio com a Caixa Econômica Federal. Algumas dívidas foram quitadas, mas a Cerr permaneceu inadimplente e até hoje trabalha no vermelho. Somente para a Petrobras, a empresa devia R$ 117 milhões. Para a Eletrobras, a dívida chegava a R$ 63 milhões. A CEF ficou de liberar mais R$ 82 milhões do empréstimo este ano.

 

FOLHA DE BOA VISTA – Amílcar Junior   

http://www.folhabv.com.br/noticia/Roraima-esta-refem-da-energia-de-Guri-por-nao-ter-matriz-energetica/2368

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