Situada aproximadamente 369km de Manaus, Parintins – ‘terra dos bumbás’ – mostrou que nem só de boi vive a ilha Tupinambarana… a ciência também está presente, inclusive no ambiente escolar. Isso pôde ser constatado nesta última terça-feira (25), onde 24 projetos do Programa Ciência na Escola (PCE), dos mais diversos temas, fizeram a defesa dos seus trabalhos no Seminário Final de Avaliação, que ocorreu no auditório do Centro de Educação de Tempo Integral Deputado Gláucio Gonçalves (Ceti).
Foram 12 projetos que se apresentaram de manhã, das 8 às 11h, e mais 12 pela tarde, das 14 às 17h, divididos em três salas, cada uma com quatro projetos que, alternando entre o nervosismo extremo e a segurança total, encararam os dois consultores, convidados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), instituição que financia o PCE e que organiza o seminário. Na sala, a dupla observava atentamente cada detalhe na hora da apresentação dos cientistas júnior. Entre os pontos analisados pelos avaliadores estavam: a postura, o domínio do tema e a coerência com os objetivos propostos.
Cada projeto tinha, no máximo, 20 minutos para fazer sua apresentação e depois os consultores tinham mais 10 minutos para fazer suas ponderações. Em alguns projetos, todos os cientistas apresentavam, em outros, um representante era escolhido para falar em nome do grupo. Durante as apresentações, que duraram em média 16 minutos, as equipes que não estavam defendendo seu projeto, ficavam todos quietos, sem conversas paralelas, com olhos e ouvidos antenados na apresentação dos colegas e, aguardando o momento mais esperado de todo o seminário: a observação dos consultores.
Quando questionados pelos avaliadores, alguns respondiam na hora, outros tinham que pensar um pouco mais, uns falando bem à vontade, outros com a voz quase sumindo, mesmo assim, ninguém “arregou” na hora da verdade e no fim, todos (ou quase todos) conseguiram desenrolar e aproveitar o momento de alivio que, geralmente vinha acompanhado de palmas. Encerradas todas as apresentações, com os cientistas júnior mais relaxados (e alegres) foi a vez de receberem seus certificados e sentirem aquela sensação de verdadeiras celebridades, cercados de flashes dos celulares e câmeras que os rodeavam, fotografando e filmando tudo num clima de descontração totalmente diferente daquele clima tenso do início.
Falar tudo sem dizer nada
O projeto “A importância do ensino da língua portuguesa na modalidade escrita para o aluno com surdez”, coordenado pela professora Carmita de Oliveira Soares provou que não precisa de palavras para “passar o recado” e deram um show na hora de fazerem a apresentação, toda feita pelos cientistas junior utilizando a Linguagem Brasileira de Sinais (Libras). “Os cientistas conseguiram surpreender na hora da apresentação e foram muito elogiados, mas sabemos que não fomos 100% porque se com palavras as vezes já é difícil imagina com Libras, por isso tivemos que treina-los para dar o melhor e superar suas limitações”, comentou a coordenadora.
Diante dos avaliadores, quem traduzia para o público presente era professora Neiva Maria dos Santos, apoio técnico que atuou como interprete na hora da apresentação dos cientistas. Segundo ela, o ensaio durou três semanas, pois a maior dificuldade foi fazer com que eles pudessem passar todo o conteúdo que estava no slide, na forma de sinais. “A produção textual foi a parte mais difícil de todo o processo porque eles sabem Libras, mas têm dificuldades para passar para o português, pois nem todas as palavras possuem ‘um sinal’, daí tivemos que usar um sinônimo para que eles entendessem. Mesmo assim, todos se esforçaram para aprender, o que tornou o projeto até uma forma de alfabetização”, comentou Neiva.
A opinião dos avaliadores
Para a Profa. Msc. Delma Pacheco Sicso, com formação em Letras e Artes, todos os projetos propuseram soluções à uma problemática estudada e elogiou a postura dos cientistas que demonstraram ter realmente conhecimento de causa sobre aquilo que foi pesquisado. “Eu já fui coordenadora de projeto PCE em 2009, hoje volto como avaliadora e percebo o quanto o Programa cresceu, evoluiu e se modificou para melhor. O conhecimento científico por parte dos bolsistas esta muito melhor, pois hoje eles se expressam com mais segurança e mostram que sabem muito bem daquilo que estão falando”, comentou.
Segundo o Prof. Dr. Djalma da Silva Pereira, com formação em química, o sucesso das apresentações só não foi total devido à falta de um acompanhamento mais de perto em alguns projetos. “Percebi que alguns trabalhos estão em um nível muito bom, porém há outros que se tivessem recebido uma atenção maior com certeza ia se sair melhor”. Para que todos possam atingir seu 100%, o avaliador da uma sugestão. “É normal que em toda pesquisa ocorra algum problema que, quando detectado com antecedência, pode ser corrigido. Acho que antes do seminário final, a Fapeam deveria fazer um ‘Seminário Parcial’, para que possamos orientar melhor os projetos que estiverem com dificuldades”, sugeriu.
Tamanho não é documento
Pode até parecer clichê, mas a frase ‘tamanho não é documento’ também pode muito bem ser aplicada em alguns projetos do PCE. Um exemplo disso é projeto “coleta seletiva na escola: uma lição de sustentabilidade”, que trabalha com crianças da quinta série, todos na faixa dos 10 ou 11 anos. Apesar da pouca idade, durante a apresentação os alunos da Escola Estadual Padre Seixas, conseguiram ‘mandar bem’ e vencer seu principal inimigo: o nervosismo. “Eu estava por dentro do assunto, mas na hora a gente fica nervoso e ansioso. Ainda bem que deu tudo certo”, disse Carlos Eduardo Alfaia, de 10 anos. “Ele se preparou bastante em casa e independente do resultado todos estão de parabéns”, comentou Jaízi Arcanjo, mãe do cientista júnior Hugo Jorge Macedo, também com 10 anos.
Outros que podem fazer parte da lista dos mais jovens cientistas júnior do Programa, são os primos Victor Leonardo de Oliveira e Luiz Felipe de Souza, ambos de 11 anos e estão na sexta série. Fazendo parte do projeto ‘A educação ambiental e o ensino da Geografia’, a dupla também fez bonito na hora da apresentação dos resultados. “Eu senti duas vezes frio na barriga, mas depois que comecei apresentar melhorou. Se ano que vem tiver, quero participar de novo”, disse Victor. Para Luiz, tudo saiu dentro do conformes e, apesar de tudo ter corrido bem, faz apenas uma pequena observação. “Conseguimos explicar tudo direitinho e recebemos até elogios dos avaliadores do nosso projeto que se apresentou muito bem. Só acho que, nossa camisa ao invés ser preto e branca, deveria ser vermelha e preta”, comentou brincando.
Núcleo de Comunicação – Programa Ciência na Escola – PCE Amazonas