O que há mais de uma década parecia improvável ou impossível, na avaliação de quem rechaça a cultura indígena, se tornou realidade em Santa Maria do Pará: os Tembé são reconhecidos como etnia indígena pela população e por autoridades do município.  O processo ao longo dos anos foi gradativo, mas acelerado no final da década de 90, quando o historiador Laércio Braga tornou pública a identificação de alguns Tembé feita durante um trabalho desenvolvido em Santa Maria do Pará. A partir daí, o apoio do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) também foi decisivo para que os índios virassem o jogo. 

“Vocês (índios Tembé) fazem parte da nossa história. Santa Maria (do Pará) começou com vocês. Sabemos da importância da cultura indígena para o Brasil”, declarou a secretária de Cultura de Santa Maria do Pará, Roseane Ferreira, durante o encerramento da oficina promovida pela Secretaria Estadual de Direitos Humanos (SEJUDH) com o objetivo de elaborar um plano operativo para atender às necessidades imediatas dos 422 índios que habitam as aldeias Jeju e Areal, num total de 100 famílias. “É mais do que nossa obrigação atender os Tembé. Mas vocês (índios) precisam procurar mais a empresa”, emendou Pedro Paulo Medeiros, chefe do escritório local da Emater em Santa Maria. 

A importância do trabalho conjunto entre os órgãos que participaram da oficina – Funai, Sagri, Emater, Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) e Sespa -, que ocorreu no final de setembro, foi enfatizado pela titular da Coordenação de Proteção dos Direitos dos Povos Indígenas e Populações Tradicionais do SEJUDH, Luana Arruda: “Nada se consegue sozinho. Acredito muito na parceria das entidades aqui representadas (âmbito federal, estadual e municipal), mas para que o trabalho continue, precisamos estreitar a relação e promover mais ações desse tipo, visando a melhoria das condições de vida dos índios do Jeju e Areal”. 

MEDO 

Ao mesmo tempo em que demonstraram satisfação diante do empenho dos técnicos que trabalharam no levantamento de dados para a elaboração do plano operacional que prevê, entre outras atividades, o cultivo e hortas, criação de frango caipirão, extração de açaí e roças de subsistência, os Tembé ficaram perplexos com a constatação da gravidade de doenças que afetam as aldeias Jeju e Areal: hepatite, diabetes, hipertensão arterial, pneumonia, obesidade e desnutrição, além de outros males provocados pela falta de saneamento básico e água tratada. 

O número de casos começará a ser levantado no dia 17 deste mês, quando técnicos da Sesai e Secretaria Municipal de Saúde de Santa Maria farão levantamento completo dos problemas de saúde que afetam os Tembé de Santa Maria. 

Apesar das queixas pela ausência do poder público nas aldeias Jeju e Areal, os Tembé reconheceram que também precisam lutar mais por seus direitos. “Falta interesse aos jovens indígenas que trabalham fora das aldeias,”, constata Alex Tembé. A crítica foi feita diante de Almir Tembé, que estuda Enfermagem na UFPa, é um dos líderes dos Tembé de Santa Maria e não abre mão do investimento em educação. “Nas aldeias, precisamos de escolas para atender aos interesses indígenas, principalmente com educação diferenciada, que ensine às crianças a nossa língua e traços de nossa cultura”. 

André Pantoja, que chefia a Coordenação Técnica Local da Funai em Tomé-Açu, também responsável pelo atendimento dos Tembé de Santa Maria desde o final do ano passado, ressaltou que o estreitamento da relação entre índios e instituições governamentais está abrindo novos horizontes para as comunidades indígenas. “Os trabalhos durante a oficina foram bem-sucedidos, sobretudo porque os índios facilitaram o processo. Essas articulações institucionais renderão bons frutos no futuro”, prevê o técnico da Funai, formado em Ciências Sociais pela UFPa.

FONTE  :   FUNAI