A presidente Dilma Rousseff manifestou-se sobre o fato de o Brasil não ter assinado a Declaração de Nova York, em que 150 países comprometem-se a zerar totalmente o desmatamento até 2030. Ela confirmou a posição declarada ontem pelo Itamaraty de que o governo brasileiro não foi convidado a participar da elaboração do documento e disse que a carta fere a legislação brasileira.
Segundo Dilma, “além de não terem nos consultado”, a não assinatura se deu “também pelo fato de que se contrapõe à nossa legislação”, disse. “A lei brasileira permite que façamos manejo florestal, muitas pessoas vivem do manejo florestal, que é o desmatamento legal sem danos ao meio ambiente. Nas beiras, principalmente pelas populações tradicionais, você pode ter o manejo florestal”, justificou a presidente, em entrevista a jornalistas em Nova York, depois de discursar na 69ª Assembleia Geral das Nações Unidas.
Dilma voltou a se manifestar contrario às ações militares dos Estados Unidos na Síria e a qualquer solução que não seja diplomática para a resolução de conflitos. Ela também considerou “fundamental” a reforma do Conselho de Segurança do órgão. Nesta manhã, ao abrir os debates da assembleia, a presidente disse que as intervenções militares mundo afora não têm sido capazes de eliminar conflitos na Síria, entre Israel e Palestina, e no Iraque. Na entrevista, foi mais enfática.
A presidente comparou os bombardeios contra extremistas do Estado Islâmico na Síria aos bombardeios feitos sistematicamente contra o Iraque. “Vocês acreditam que bombardear o Isis [nome pelo qual também é conhecido o Estado Islâmico] resolve o problema? Porque se resolvesse, eu acho que estaria resolvido no Iraque. E o que se tem visto no Iraque é a paralisia”, questionou.
“Hoje a gente querer, simplesmente bombardeando o Isis, dizer que você resolve porque o diálogo não dá, eu acho que não dá também só o bombardeio, porque o bombardeio não leva a consequências de paz. Por que, você quer bombardear? Para que? Para garantir a paz?”, ironizou.
“Constatamos que o uso da força que vai desde intervenções militares amplas até localizadas não construíram a paz no mundo e o melhor caminho para se construir a paz será sempre o diálogo e a diplomacia. Em que pese todo mundo concordar com isso, isso não tem sido praticado”, disse .
De acordo com Dilma, há uma “verdadeira paralisia” no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que tem ocasionado tomadas de decisão alheias ao órgão. “Em vários momentos acontece que as ações ocorrem fora do conselho, sem esse carimbo de legalidade que o conselho pode dar a uma ação, também dando a ela chancela de todos os países da ONU”. Para Dilma, além da reformulação, é necessário que o conselho rejeite ações unilaterais de países que acham que vão resolver todos os conflitos com ataques.
Dilma também defendeu a participação do Brasil no conselho e a mudança não somente da representação fixa, mas também da alternada. O Conselho de Segurança da ONU é composto por cinco membros permanentes (China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos), que têm direito a veto. Também fazem parte também do colegiado dez membros não permanentes, que são eleitos pela assembleia geral com mandatos de dois anos.
Paulo Victor Chagas – Repórter da Agência Brasil Edição: Fábio Massalli
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