A situação dos índios e produtores rurais da região de Samaúma, no Município de Alto Alegre, a Centro-Oeste do Estado, tende a piorar nos próximos dias, caso não aconteça nenhum acordo com governo. Há quatro dias, índios da etnia Yanomami e agricultores da localidade reivindicam melhorias para vicinais 1, conhecida como Tronco, 14, 15 e 17, além da construção de uma ponte que dá acesso ao Projeto de Assentamento Samaúma e comunidade indígenas. Até ontem à tarde, 50 pessoas participavam do bloqueio.
Como forma de chamar a atenção, os manifestantes interditaram a ponte sobre o rio Mucajaí, na RR-205. Eles formaram barreiras com galhos impedindo o tráfego de qualquer tipo de veículo. Armados com arco, flecha, facões e enxadas, os indígenas se sentem prejudicados, pois alegam que a única via de acesso a escolas e meio de escoamento de produtos está intrafegável.
Quem tentou negociar passagem não obteve resultado, pois somente ambulâncias e pessoas doentes estão autorizadas a passar pela barreira. No final da tarde de ontem, carros faziam fila, mas nenhum conseguiu resultado positivo.
O líder da Texoli Associação Ninam do Estado de Roraima (Taner), Gerson Xiriana, falou da luta há mais de uma década para construção de estradas e pontes para comunidades da região. “A gente está desde segunda-feira e queremos sair daqui sabendo se alguma coisa será feita ou não”, comentou. Disse ainda que a situação está cada vez mais crítica e o índios estão insatisfeitos com a forma com são tratados.
“Para sair de lá [da comunidade] só na pernada, a gente anda até a RR-205 para pegar um carro, porque nem carro lá passa”, afrimou complementando que nenhuma autoridade atendeu ao pedido da comunidade e que, até aquele momento, ninguém apareceu para conversar. “Estamos em 30 e vai chegar mais gente hoje [ontem]. Se não houver a presença de alguém, fecharemos a BR-174 na entrada de Mucajaí”, avisou.
O 1º tuxaua Ivan Xiriana, em esforço para falar em português, pediu demonstração de resultado, pois alega que eles precisam de apoio para ajudar a comunidade. “Fechamos essa estrada para que o governo possa fazer alguma coisa”, ressaltou chamando a atenção para importância da união entre indígenas e colonos. “A gente passa necessidade carregando coisas daquela ladeira. Queremos saber o motivo do governo não dar atenção ao Apiaú, pois ele tem verba para isso”.
O líder indígena pediu a apresentação de um projeto para melhorar as estradas e pontes, pois ele disse que os índios não acreditam mais em promessas. Reforçou a ameaça de fechar a BR-174, no início da tarde de hoje, além da ponte que dá acesso a região do Apiaú, em Mucajaí. “Queremos benefícios para nosso povo. Eles têm que fazer pela população e não queremos mais promessas”.
AGRICULTORES – Produtores rurais, que pediram para não ser identificados, informaram que a manifestação ocorreu a pedido dos próprios indígenas como forma de resolver o problema que perdura há mais de 19 anos. “Solicitamos estradas, energia elétrica e ponte”, afirmou.
Segundo um deles, os alunos são os mais prejudicados, pois durante o calendário letivo, muitas crianças acabam desistindo, uma vez que a ponte que liga a região de Samaúma está sempre comprometida. “Meu carro está quebrado de tanto ‘puxar’ [transportar] aluno de um lado pro outro”, disse.
A produção agrícila ficou comprometida, pois com a estrada interditada, colonos estão impossibilitados de escoar a produção. “Essa é uma região onde se mais produz banana, milho e mandioca”, comentou. “São mais de três mil índios, além dos colonos que precisam dessas estradas e dessa ponte da Vicinal do Tronco”, afirmou.
Um deles explicou que há uma ladeira alta e, no final, existe essa ponte, que agora está totalmente quebrada. Afirmaram que nenhuma ajuda por parte de órgãos do Governo Federal e nem do Estado atenderam aos pedidos antigos. “O que conseguimos foi o seguinte: depois de muito tentar, houve uma parceria entre a Funai e a Prefeitura de Mucajaí para reconstruir aquela ponte, mas não foi por muito tempo”, comentou. “Lamento pela situação dos índios, pois estão desassistidos”.
O produtor rural informou que os índios possuem comunicação via rádio e que, para os próximos dias, haverá convocação para reforço na manifestação. “Só tenho medo do que possa acontecer”, frisou alertando para a revolta que toma conta dos moradores da região, impedidos de trafegar.
YASMIN GUEDES
Editoria de Cidade
FONTE : Jornal Folha de Boa Vista
https://pib.socioambiental.org/pt/noticias?id=140905&id_pov=317
http://www.folhabv.com.br/Noticia_Impressa.php?id=170940.
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