“As plantas realmente curam, porque elas são medicamentos. Isso não é crendice”, afirma o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ MCTI), Juan Revilla. Segundo o doutor Botânica Econômica, o Brasil tentou várias fazer o registro de plantas medicinais e dos medicamentos fitoterápicos para a Atenção Primária de Saúde, mas as tentativas esbarraram na “desculpa” de que não se detinha a ética, a toxidade e a eficácia dos fitoterápicos e isso teve mais peso do que o saber tradicional.  

O assunto foi discutido durante a realização do projeto “Farmácia Viva”, nessa quinta-feira (29), no município de Manaquiri (a 50 quilômetros de Manaus). Revilla, que é coordenador científico do evento, informou que a Amazônia possui inúmeras plantas que curam e que poderiam ser vendidas para o mundo “faltando apenas a vontade política de fazer”. “A Amazônia possui cerca de 30 mil plantas conhecidas, sendo que dessas somente 5 mil se conhecem o seu uso”, revelou. 

O projeto “Farmácia Viva” é uma estratégia que visa incentivar as comunidades de Manaquiri a terem plantas medicinais nos seus quintais a partir de mudas produzidas no viveiro do Centro de Treinamento de Produtores Rurais do município. O viveiro existe desde 2006 e conta com 120 espécies de plantas e mais de 50 mil mudas produzidas numa área de 150 hectares (equivalente a 150 campos de futebol). 

Há 15 anos Revilla é representante da região Norte junto ao Ministério da Saúde para a discussão da inclusão de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos no Sistema Único de Saúde (SUS) para a Atenção Básica. Segundo o pesquisador, em 2006, depois de várias rodadas de discussões e, por sugestão dele, foi aprovada uma resolução pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), onde se recomenda que Estados e municípios façam inventários, criem grupos de trabalhos, estudem sua flora local para incentivar o uso das plantas medicinais e desenvolvam produtos fitoterápicos regionais. O pesquisador lamenta que Manaquiri nada fez depois que a resolução foi assinada. 

O pesquisador afirma que Manaquiri poderia tratar aproximadamente 95% dos doentes que procuram o SUS com plantas medicinais sem ter que utilizar os medicamentos convencionais. “O ideal seria ter uma farmácia de dispensação, onde os remédios medicinais estivessem disponíveis a todos”, reforça Revilla. Segundo o pesquisador, os benefícios do uso da “Farmácia Viva” é que esses medicamentos não têm efeito colateral e o custo é bem menor. Porém, é preciso ter a orientação adequada no uso das ervas e plantas. 

De acordo com o pesquisador, a unha de gato é a única planta amazônica que tem registro na Anvisa, cuja lista é composta por 78 plantas que não são brasileiras, como o eucalipto e a alcachofra. E ele se pergunta onde está a nossa biodiversidade. 

O projeto “Farmácia Viva” é uma parceria entre o Inpa e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), por meio da coordenação do curso de Bacharelado em Saúde Coletiva, do núcleo do Careiro. O evento reuniu acadêmicos de diversos municípios, profissionais de Saúde e pesquisadores com o objetivo de promover o conhecimento e práticas no contexto da saúde. 

Potenciais das Fruteiras 

“As pessoas bem alimentadas e consumindo frutas dificilmente ficarão doentes, além disso têm mais resistência a qualquer tipo de doença”, afirma o pesquisador do Inpa Kaoru Yuyama, doutor em agronomia, durante palestra sobre fruteiras e algumas espécies com potencial econômico da Amazônia. Segundo ele, alguns frutos da Amazônia se destacam, como o camu camu, rico em vitamina C; e a pupunha, o tucumã e o mari com alto valor de vitamina A.  

O pesquisador falou ainda das potencialidades de frutas que foram introduzidas na Amazônia, mas que são consumidas e apreciadas pela população, como o ranbuntã, jambo vermelho, jaca e abricó. Também comentou sobre as frutas que a maioria das pessoas não conhece como o puxuri, que é um excelente remédio para diarreia e cólicas intestinais. A amêndoa dessa fruta custa 80 dólares o quilo sendo que suas folhas também podem ser consumidas. 

Outra fruta pouco conhecida pelas pessoas, o mapati ou uva da Amazônia, é um fruta endêmica da região com incidência em Tabatinga e São Gabriel da Cachoeira. Essa fruta pode ser consumida in natura pois é bastante suculenta e doce. 

Outro pesquisador que também participou do “Farmácia Verde” com a palestra “Fruteiras da Amazônia – potencial nutricional”, Jaime Aguiar, abordou o potencial nutricional de 30 frutos amazônicos e o trabalho desenvolvido no Laboratório de Físico-Química de Alimento (LFQA/Inpa) com frutos liofilizados, técnica de desidratação de alimentos transformados em pó e mantendo as características dos frutos, como a pupunha, tucumã, açaí e cubiu.  

Para o pesquisador Jaime Aguiar, especialista em nutrição e Ciências dos Alimentos que trabalha especificamente com a elaboração de tabela de composição nutricional dos frutos, e as fruteiras da Amazônia são altamente promissoras com fonte abundante de vitaminas, minerais e fibra. Uma dessas, é o camu camu que, segundo ele, é mais conhecido no exterior do que no Brasil.  

Saúde Coletiva 

Segundo o professor da UEA, Wilson Carvalho, o curso de bacharelado em Saúde Coletiva foi iniciado a partir do curso de pós-graduação em medicina. Foi implantado pela UEA, em 2012, com o objetivo de formar gestores de saúde. É um curso semipresencial mediado por tecnologia (via satélite) e está presente em 18 municípios do Amazonas. Em 2016, será formada a primeira turma do curso com 22 alunos. 

Para a acadêmica Aline Gadelha o “Farmácia Viva” preenche uma lacuna. “Queremos organizar o SUS tirando o excesso das Unidades de Saúde ensinando os moradores do Careiro e de Manaquiri que eles podem ter horta em sua casa e curar até 30% das doenças que acometem a família. Queremos transformar a saúde trazendo qualidade de vida para a população”, disse. 

FONTE : ASCOM/INPA