O Estado de Roraima possui 224,3 mil quilômetros quadrados, área superior à de países como Grécia e Uruguai. Porém, mais de 60% de seu território está demarcado como área indígena ou de preservação ambiental, o que o torna o Estado palco de acirradas disputas fundiárias, como foi a questão envolvendo as terras da região de Raposa Serra do Sol, que ganhou notoriedade internacional em razão do conflito entre índios e arrozeiros. Após uma série de confrontos, o Supremo Tribunal Federal (STF), em 2009, decidiu pela posse dos índios e consequente desocupação dos arrozeiros, que ali estavam assentados desde a década de 70.

“Roraima recebe muitas visitas de pessoas interessadas em investir na região, mas as atividades consolidadas são as de empresários que já atuam no Estado”, afirma Ivo Galindo, coordenador técnico da Federação das Indústrias de Roraima (Fier). Roraima é o Estado mais setentrional do país e possui 1.922 quilômetros de fronteiras com a Venezuela e a Guiana, posição que o coloca como um ponto estratégico para alcançar o mercado do Caribe e do Atlântico Norte. Conta também com jazidas de minérios valiosos, como ouro, manganês, níquel e metais radioativos.

Mas enfrenta graves problemas de infraestrutura. Apesar de fazer fronteira com o Pará, Estado com várias usinas hidrelétricas, a energia elétrica fornecida para os 400 mil moradores que vivem em Boa Vista e nos demais 14 municípios vem da usina de Guri, na Venezuela. “Ninguém investe em um Estado que não garante o abastecimento de energia”, lamenta Galindo.

A situação se espelha pela incipiente ocupação do Distrito Industrial de Boa Vista, situado em uma área de 1.161 hectares, às margens da BR 174, a principal rodovia de Roraima, que liga a capital até Manaus. Hoje, o distrito é ocupado por apenas 82 empresas.

Galindo espera que o quadro energético se equipare aos demais centros quando estiver em operação o chamado Linhão de Tucuruí, que irá trazer energia de Manaus para todos os municípios do Estado e acabar com a dependência de fornecimento da Venezuela. A previsão é até 2016. Estão previstos investimentos de R$ 3,9 bilhões dentro do PAC 2 para a construção da hidrelétrica do Bem-Querer, no rio Branco, em Caracaraí.

Em 2013, a balança comercial do Estado apresentou saldo positivo de US$ 1.146.970, com predominância nas exportações de madeira, soja e óleo. Já os principais itens de importação foram equipamentos de informática, máquinas e aparelhos eletrônicos. Em maio, a Fier elaborou uma pauta de reivindicações ao governo estadual na qual expôs as condições precárias para o desenvolvimento do setor. “Há um ambiente de insegurança jurídica quanto à posse da terra e uma enorme burocracia quanto ao licenciamento ambiental, que demora até três anos e desestimula os investimentos”, afirma Galindo. Segundo dados de 2010 do Censo do IBGE, o PIB de Roraima foi de R$ 6,3 bilhões, representando 0,15% do PIB nacional, ficando na 27ª posição.

Já o comércio é afetado pela desoneração tributária dos produtos comprados em Manaus e nas zonas fronteiriças com Guiana e Venezuela, assim como as mercadorias que são distribuídas no Estado por empresas sediadas na Zona Franca de Manaus, a 800 km de Boa Vista.

Mas mesmo diante das dificuldades, empreendedores locais acabam optando por investir no Estado. É o caso do empresário Luiz Brito, que em conjunto com mais nove colegas criou o frigorífico Frigo 10, que deve iniciar suas atividades no segundo semestre, em Boa Vista. “Roraima não tinha um frigorífico de porte dentro das exigências legais para exportação”, afirma. O investimento dos dez empresários na compra de uma área de 82 hectares e construção das instalações é da ordem de R$ 32 milhões. Todos os sócios são do agronegócio e juntos possuem rebanho de um milhão de cabeças de gado Nelore. Segundo Brito, o frigorífico terá capacidade para abater até 500 cabeças por dia, mas nos primeiros meses a operação será de 300 cabeças, o suficiente para atender a demanda regional.

Por: Guilherme Meirelles Fonte: Valor Econômico 

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