Para estudar as interações entre a floresta amazônica e a atmosfera e medir os níveis de poluição de Manaus e sua influência no ciclo de vida das nuvens e da formação de chuva, uma colaboração internacional uniu esforços no projeto Green Ocean Amazon (GOAmazon). O projeto foi lançado nessa terça-feira (19), no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/ MCTI), com a presença de autoridade e representantes das instituições parceiras. 

O experimento científico propõe-se ainda a aprimorar os modelos que representam as chuvas dentro de modelos climáticos muito mais realistas. A intenção é que, com isso, os cientistas possam projetar cenários futuros de clima mais confiáveis e assim dar mais confiança aos gestores públicos na definição de políticas públicas.

Nos próximos dois anos serão investidos R$ 24 milhões no projeto, sendo R$ 12 milhões oriundos do Departamento de Energia dos Estados Unidos das Américas (DOE), R$ 6 milhões da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas e mais R$ 6 milhões da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Para o diretor em exercício do Inpa, o pesquisador Estevão Monteiro de Paula, o GOAmazon é um projeto inédito pela colaboração entre os países e entre as fundações de amparo à pesquisa (Fapeam e Fapesp), que juntos visam conhecer mais sobre a Amazônia. “O interessante também é que mesmo durante a execução do projeto teremos a formação de mestres e doutores qualificados”, disse.

Além do diretor do Inpa, participaram da mesa de abertura; a representante do DOE, Sharlene Weatherwax; o coordenador de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais da Fapesp (PFPMCG) que no ato representou a presidência da instituição, Reynaldo Victoria; a diretora presidente da Fapeam, Olívia Simão; a representante do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), Andrea Portela Nunes; o secretário de estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti-AM), Odenildo Sena; e a secretária municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), Kátia Schweickardt, que no ato representou o prefeito de Manaus.

“Vamos aumentar muito o nosso conhecimento físico, químico e de circulação na Amazônia e depois teremos um grande benefício, que é o de poder aprimorar os modelos que representam a formação de nuvens no corredor de chuvas nos modelos climáticos”, contou o pesquisador responsável pelo GOAmazon no Inpa, o doutor em Física da Atmosfera Antonio Manzi.

De uma forma bem simples, os modelos climáticos são representações da realidade. Quando se fala do clima, por exemplo, tem-se desde a representação da superfície, dos oceanos, dos continentes, dos ecossistemas, da atmosfera, dos movimentos atmosféricos, das camadas de gelo e da sua dinâmica, mas tudo isso representado com equações matemáticas, depois transformadas em códigos de computador e que posteriormente serão rodadas nessas máquinas.

Serão realizadas visitas de campo a Manacapuru e a Iranduba, nesta quarta-feira, e à ZF2 (BR-174) e ao aeroporto (avião de pesquisa), na quinta-feira.

Estrutura física

O experimento de campo integrado vai utilizar uma rede de sítios de pesquisa instrumentados. Um deles fica na Fazenda Agropecuária Exata S/A, localizada em Manacapuru (município a oeste de Manaus distante a 68 quilômetros), que possui uma estrutura física composta por 11 contêineres-laboratórios, em fase final de instalação. Também serão utilizadas duas aeronaves (Gulfstream ARM-1 e High Altitude and Long Range Research Aircraft – Halo) e dois balões cativos que servirão para coletar dados adicionais.

Além desse sítio de pesquisa em Manacapuru, ainda há outros quatro que fornecerão informações necessárias para o desenvolvimento do projeto: o Observatório com Torre Alta da Amazônia (Projeto ATTO), localizado a 150 km a nordeste de Manaus na RDS-Uatumã; o hotel Tiwa em Iranduba (município a 25 km de Manaus); e a Reserva do Cuieiras do Inpa, localizada 50 km ao norte de Manaus, na ZF2.

De acordo com Manzi, a Amazônia é a maior fonte continental de liberação de calor latente (aquela energia utilizada para evaporar água) na atmosfera e é um bioma muito importante no contexto das mudanças climáticas globais, porque nela há um estoque de carbono muito grande.

Colaboração

O esforço observacional, que será empreendido nessa região dos trópicos úmidos para estudar os sistemas tropicais acoplados superfície-nuvem-atmosfera, contará com a participação e projetos de várias instituições. “Vamos estudar problemas tão grandes para mundo, que não seria possível sem essa parceria”, destacou a representante do DOE, Sharlene Weatherwax.

O pesquisador Jeff Chambers (Berkeley-EUA) estudará no GOAmazon o processo de emissões naturais e como influenciará no clima, na formação de nuvens e precipitação de chuvas na bacia amazônica. “Vamos pesquisar as interações entre a floresta e a atmosfera, estudando compostos orgânicos voláteis, que são componentes que dão cheiro às plantas, mas também quando entram na atmosfera ajudam na criação de nuvens e de chuva”.

Segundo a diretora presidente da Fapeam, Maria Olívia Simão, o projeto é também uma grande oportunidade de formação para os alunos do Programa de Pós-Graduação em Clima e Ambiente (Mestrado e Doutorado), realizado através de um convênio entre Inpa e a Universidade do Estado do Amazonas. “Eles poderão acompanhar de perto esse modo de fazer ciência”.

Para o representante da Fapesp, essa é uma oportunidade de continuar a investir em pesquisas amazônicas e agora com um parceiro forte como é a Fapeam. “E queremos continuar”, ressaltou Reynaldo Victoria.

Também são parceiros do projeto o instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Instituto de Espaço e Aeronáutica (IAE) e o Instituto MAX Planck de Química (MPIC/ Alemanha), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Harvard, dentre outras universidade do Brasil e dos Estados Unidos. 

FONTE : INPA  –  https://www.inpa.gov.br/noticias/noticia_sgno2.php?codigo=3147