Após se tornar um dos locais de maior atividade de extração ilegal de minérios dentro da Terra Indígena Yanomami, o rio Uraricoera recebeu uma Base de Proteção Etnoambiental, a quarta implantada pela Fundação Nacional do Índio (Funai). A instituição estipulou como limite o dia 15 de janeiro para que os garimpeiros deixem pacificamente a área – situada a noroeste do Estado, próximo à fronteira com a Venezuela – sem que sejam presos ou tenham material apreendido.

Após esse período, a Funai informou que retomará as operações realizadas na extensão do rio. Ações estas que terão o suporte da recém-inaugurada base de proteção. A região já foi alvo de, pelo menos, quatro operações nos últimos anos, nas quais foram desativadas mais de 20 balsas e presos, pelo menos, 40 garimpeiros. No entanto, com menos de um ano após a última ação, a garimpagem retornou a todo vapor.

O último diagnóstico feito no dia 30 de novembro, mostrou que há, aproximadamente, 20 balsas (usadas para garimpagem) em atividade na região. A principal pista de pouso para suporte à atividade, desativada com o uso de explosivos em agosto deste ano, já está na ativa novamente.

Para o coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami/Ye’Kuana, João Catalano, as ações já realizadas na região não foram em vão. “Consideramos que houve resultados positivos, inclusive com a detecção dos pontos de acampamento e outras estratégias para que possamos tornar as próximas ações ainda mais eficazes”, observou.

A ideia é que a base, que recebeu o nome de “Crocorema” pelos indígenas, sirva de ponto estratégico para a realização de buscas ostensivas, mas somente a presença do posto no local já afugentou partes dos garimpeiros. A alguns metros da base, é possível encontrar diversos bancos de areia e outros vestígios deixados pelas balsas usadas para a atividade garimpeira.

Catalano explicou que a unidade terá ocupação permanente e, além de coibir os ilícitos na TI Yanomami, dará suporte a trabalhos sociais – como é o caso dos projetos de etnodesenvolvimento junto à outras comunidades indígenas –  e de pesquisa, por meio de instituições parceiras.

CRIME – A atividade de extração de minérios na TI Yanomami, além de ser um crime, representa um forte impacto na vida dos mais de 5 mil índios que habitam a região. As influências negativas passam desde a inserção de hábitos alimentares alheios à cultura local a casos mais graves, como ameaças das equipes de saúde que atuam na região e aliciamento dos indígenas para atuarem no garimpo. “No momento, enquanto não retirarmos os garimpeiros dessa área, não dá para levar projetos de etnodesenvolvimento a essa região”, avaliou o indigenista.

OUTRAS – Com a conclusão da base Crocorema, o próximo alvo da Funai é o rio Apiaú, afluente do rio Mucajaí, e que no momento também concentra intensa atividade mineradora. Há previsão ainda de uma nova base na região do Baixo Catrimani, onde não há garimpo, mas há pesca predatória de quelônios, uma prática a ser combatida possivelmente com apoio de órgãos ambientais.

A primeira unidade de ocupação permanente foi implantada pela Funai na Serra da Estrutura, na confluência dos rios Couto Magalhães e Mucajaí, em 2011. Na localidade vivem povos indígenas isolados, que nunca tiveram contato com outros indígenas e com a sociedade envolvente. Em seguida, foram construídas bases no Baixo Rio Mucajaí e às margens da BR- 210, na região do Ajarani, no sul do Estado.

Funai ‘recolhe’ índios após morte

Após a morte possivelmente acidental de um indígena de 21 anos, ocorrida na noite de anteontem, quando ele supostamente caiu do viaduto Pery Lago, entre os bairros Pricumã e Mecejana, na zona Oeste, a Fundação Nacional do Índio (Funai) foi no início da tarde de ontem à Feira do Produtor e recolheu vários Yanomami que já haviam se instalado no local.

A informação foi repassada por feirantes, que aproveitaram para reclamar da permanência dos indígenas perambulando, pedindo comida e tomando cachaça no local. “Dá pena de ver a situação. Famílias inteiras de índios embriagados, perturbando a nossa freguesia. Ainda bem que a Funai já os levou para suas comunidades”, relatou Francisco Campos, 39 anos, vendedor de banana.

No domingo passado, a Folha registrou diversos indígenas embriagados próximos ao muro da feira. Havia inclusive um menino de 11 anos com um copo de cachaça numa mão e um cigarro na outra.

Em meados deste ano, a Folha fez uma reportagem especial sobre a migração forçada dos indígenas de suas comunidades para a Capital. A matéria também mostrou os altos índices de alcoolismo que acomete os indígenas, a violência sofrida e praticada por eles e principalmente a falta de políticas públicas, o que estaria provocando a migração.

Na ocasião, índios entrevistados de várias etnias justificaram a migração alegando que não havia mais condições de se viver nas aldeias. Segundo eles, faltava até comida. E com a miséria instalada nas comunidades, abandonadas pelo poder público, os indígenas não viam outra saída, a não ser migrar para a Capital, onde a maioria logo se tornava alcoólatra.

Ainda ontem à tarde, a Folha percorreu os locais mais frequentados pelos índios, nos bairros São Vicente e 13 de Setembro, na zona Sul, e Raiar do Sol, zona Oeste. A equipe não encontrou nenhum perambulando, nem em botecos. Moradores próximos informaram que a Funai teria passado e levado-os em um microônibus.

Na Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai), na saída da cidade pela BR-174 sentido Norte, zona rural, a Folha constatou uma grande quantidade de indígenas. Alguns ainda desembarcavam de uma van. Funcionários atenderam a reportagem, mas não puderam gravar entrevista, que deveria ser autorizada pela direção do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei/Yanomami).

Ainda sobre o remanejamento dos indígenas às suas comunidades, a Folha procurou a Funai, mas servidores informaram que o coordenador regional, André Vasconcelos, estaria viajando. Ninguém confirmou se o órgão estaria fazendo um “arrastão”, retirando os indígenas das ruas da cidade.

FONTE : Jornal Folha de Boa Vista

http://www.folhabv.com.br/Noticia_Impressa.php?id=163067

http://www.folhabv.com.br/Noticia_Impressa.php?id=163065