Uma vida sem perspectivas. É assim que as sete mil pessoas despejadas da gleba Suiá-Missú vivem há um ano, desde a desintrusão da área que começou dia 10 de dezembro de 2012. A gleba foi considerada pela Justiça Terra Indígena Maraiwatsede, da etnia Xavante. Quem vivia nos 165 mil hectares teve que desocupar suas casas, propriedades rurais e comércios. A área, que antes era sinônimo de desenvolvimento, agora parece um cenário pós-guerra. Produtores e trabalhadores estão espalhados por cidades da região do Araguaia ou em barracas de lona, sem energia elétrica, água encanada, escola ou posto médico. Para sobreviverem, recebem alimentos de doações feitas em eventos beneficentes. Vinte e cinco pessoas já morreram por causas diversas, inclusive suicídio. Agora, alcoolismo, uso de drogas e prostituição fazem parte do cotidiano dessas pessoas e são inúmeros os casos de depressão e até surtos psicóticos.

A produtora Nailza Bispo era uma das moradoras de lá. Herdou 100 alqueires do pai e ali criava gado para garantir o sustento da família. Hoje, vive de favor na casa de parentes em Alto Boa Vista.  “É difícil traduzir nossa situação em palavras. Vivemos uma verdadeira guerra. Ver tudo o que construímos destruído, estar vivendo de favor, passando fome, enquanto até pouco tempo atrás produzíamos o nosso alimento, é muito triste. Olho para meus filhos e temo pelo futuro deles. Mas não vou perder a minha fé e esperança”, comenta com a voz embargada.
 
A estudante Mikaely Pereira Cavalcante vivia em Posto da Mata desde o seu nascimento. Morava com os pais, trabalhadores rurais, ia para a escola, onde tinha muitos amigos e bons professores. Na época da retirada, quase não conseguiu terminar o primeiro ano do ensino médio. Mas, apesar das dificuldades, ela sonha em construir um futuro melhor. “Fomos enxotados de nossas casas como se não fôssemos nada. Quase não consegui terminar o ano na escola. Fui separada dos meus amigos e professores. Atualmente, moro com minha família em Alto Boa Vista de favor, pois não temos condições de pagar aluguel. Agradeço por ainda existir pessoas de bem, pois o que o Governo Federal fez com a gente não é coisa que se faça com cidadãos. Apesar de tudo, confio que vamos ganhar na Justiça o direito de voltar para nossa cidade. Vejo meu futuro lá e vou continuar lutando por isso”, diz emocionada.

O presidente da Associação dos Produtores Rurais da Área Suiá-Missú (Aprossum), Sebastião Prado, contou que quando as famílias foram expulsas de suas propriedades os moradores venderam o que foi possível.  O Governo Federal não assentou nenhuma família e ainda não deu nenhuma assistência. “Destruíram as casas e propriedades da área, mas nenhum índio está vivendo lá. Pessoas estão morrendo e assim vai continuar. Até agora já registramos 25 mortes. Embora as poucas promessas de ajuda continuem na intenção, as pessoas que tiveram suas vidas arrancadas vivem em situação de desespero”, desabafa.

Entenda o caso – Após mais de 20 anos de debate judicial, em dezembro de 2012, as sete mil pessoas que viviam na região da antiga gleba Suiá-Missú foram obrigadas a sair da área em meio a um processo de desintrusão violento e desumano, por determinação da Justiça Federal. A Funai alega que a área pertence à Terra Índigena Maraiwatsede, da etnia Xavante. A decisão ainda pode ser revertida na Justiça Federal e deve chegar ao Superior Tribunal Federal (STF).

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