Nas últimas décadas, temas como qualidade do ensino básico nas escolas públicas e formação continuada de professores e gestores escolares têm ocupado com frequência o debate educacional no Brasil. Tais debates vêm acarretando mudanças de postura tanto de gestores escolares como de professores, colocando em evidência um novo perfil educacional, mais dinâmico e participativo. Assim, professores e gestores estão canalizando suas energias e competências para a melhoria continua da qualidade do ensino e a transformação da própria identidade da educação brasileira e de suas escolas.
Pensando nisso, em 2004, o Governo do Amazonas criou o Programa Ciência na Escola (PCE), uma ação de alfabetização científica e tecnológica destinada aos estudantes e professores da educação básica. Como parte da política educacional, o PCE recebe o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) e é executado em parceria com as Secretarias de Estado da Ciência, Tecnologia (Secti-AM) e da Educação e Qualidade do Ensino (Seduc) e Secretarias Municipais de Educação de Manaus e de Itacoatiara, além da Fundação Amazonas Sustentável (FAS). Conta, também com o apoio do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
O diferencial do PCE é a produção da ciência dentro do espaço escolar, por intermédio do desenvolvimento de projetos de pesquisa que garantem a formação e transformação do pensar e fazer científico do cidadão. Professores de escolas públicas do Estado submetem propostas que trabalhem a ciência no âmbito escolar, não importando a disciplina ministrada e, sim, o teor científico.
O programa, que irá comemorar dez anos em 2014, teve um crescimento significativo na esfera educacional. Com a aprovação de apenas sete projetos na primeira edição, o projeto base foi reformulado e teve um total de 79 propostas implementadas em sua segunda edição, representando assim um crescimento de 1.028%. Se comparados ao último programa, que aprovou um total de 335 projetos, em 28 dos 62 municípios do Estado, houve um crescimento superior a 3,357%.
Desde 2004, o investimento total do Governo do Estado no PCE ultrapassa R$ 14 milhões. Para a nova edição, o valor a ser investido, oriundo do orçamento da FAPEAM, está estimado em R$ 4,2 milhões, que serão distribuídos entre bolsas e auxílios.
Para o titular da Secti-AM, Odenildo Sena, é necessário começar a formar hoje os engenheiros e os cientistas de amanhã, pois não adiantaria investir pesado na pesquisa se faltam pesquisadores nessas área. “Programa pioneiro no País, o PCE investe no estímulo e nas condições estruturais necessárias para que alunos e professores do ensino público fundamental construam sua paixão pela ciência. Em outras palavras, o programa mira no presente para acertar no futuro, além de representar uma excelente política de inclusão social da ciência”, avalia Odenildo Sena.
A diretora-presidenta da FAPEAM, Maria Olívia Simão, acredita que o PCE é um divisor de águas no processo de incentivo à educação científica no ensino básico. Ela salienta que o PCE é um programa de educação científica pioneiro no País, com o qual se quebrou paradigmas educacionais, pois, até 2004, a iniciação científica júnior acontecia quando o aluno saía da escola, indo para uma instituição de pesquisa. Segundo Simão, o PCE trouxe a pesquisa para o âmbito da escola, envolvendo o professor e, eventualmente, trazendo pesquisadores para colaborar com o processo de construção do conhecimento e, principalmente, instrumentalizando o professor com formação continuada, para que ele possa atuar com sucesso nesse cenário de formação científica. “Atualmente, o programa possui uma dinâmica própria, com resultados inesperados, como o projeto Espiral da Ciência, e esse é um movimento que só tende a crescer, com ou sem o financiamento da FAPEAM”, acredita a diretora.
Um dos destaques do programa no interior do estado é o projeto “Escola Verde”, que participa desde a primeira edição e não pensa em parar. Precursora da pesquisa científica no município de Rio Preto da Eva, a coordenadora Francisca Pereira conta que o PCE mudou a vida dos estudantes do município. Apesar da cidade, possuir apenas uma escola estadual, a ideia se estendeu também à rede municipal de ensino, que adotou a iniciativa. “Já passaram no decorrer desses anos mais de 500 alunos entre bolsistas e voluntários. A realidade de Rio Preto mudou e o PCE foi o grande incentivador”, relata Francisca Pereira.
Em Manaus, o Centro de Tempo Integral Djalma Batista é a referência no fazer científico, aprovando 23 projetos nessa última edição. Para a coordenadora do PCE, Maria de Fátima Nowak, o surpreendente resultado partiu da vontade que os professores tinham em inovar o processo educacional. “Houve critérios para aprovação dos projetos, mérito científico nas propostas. Os professores se prepararam ao participar das oficinas de elaboração de projetos e se destacaram com projetos inovadores que buscou utilizar conceitos básicos das disciplinas e aplicá-los a rotina dos jovens pesquisadores”, afirma a coordenadora.
Com a missão de ser um programa visível e respeitado como referência em processos de alfabetização científica em nível nacional e internacional, o PCE trabalha mais do que a inserção da ciência ao cotidiano escolar, ele prepara coordenadores e apoios técnicos, desde o processo de elaboração de projetos até a publicação de trabalhos científicos por meio do curso de Metodologia da Pesquisa Científica Aplicada à Educação Básica.
Para Nowak, a evolução do programa se dá pelo comprometimento das instituições parceiras que prezam a qualidade das atividades realizadas nos últimos anos, através de acompanhamentos técnicos científicos que buscam auxiliar os coordenadores de projetos durante a vigência dos mesmos. Além do curso de formação e das visitas técnicas, o PCE ainda oferece aos participantes o Anais do Programa Ciência na Escola, que é um conjunto de artigos científicos multidisciplinares que tem como finalidade publicar os resultados das pesquisas originadas no programa. “Nós formamos consciência crítica, produzimos ciência em tempo real dentro das escolas, conseguimos transformar estudantes de ensino básico em pesquisadores, autores de suas próprias histórias. O PCE se configura assim em um programa completo que trabalha desde a base com a elaboração de projetos até a sua publicação”, avalia a coordenadora.
O edital para 2014 já está aberto e disponível na página da Fapeam www.fapeam.am.gov.br, qualquer professor da rede estadual de ensino do Amazonas pode submeter propostas. Para o próximo ano a expectativa é de aprovar 400 projetos, marcando assim o crescimento em mais de 19%.
FONTE : http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.php?id=91260 ( Jamyly Macêdo / FAPEAM )1