A pesquisa constatou alta toxicidade do óleo para as espécies de peixes analisadas, mesmo após três meses do ocorrido, quando uma balsa da empresa Chehuan Navegações tombou provocando o derramamento de 60 mil litros da composição asfáltica primária CAP 20. 

Uma equipe do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) está analisando os efeitos do derramamento do óleo em algumas espécies de peixes, ocorrido em março deste ano no rio Negro próximo ao Porto do São Raimundo em Manaus (AM).

“O monitoramento que estamos realizando, busca avaliar a resposta de enzimas e outros biomarcadores relacionados aos processos de desintoxicação dos organismos. A validação desses marcadores de exposição e efeito dos hidrocarbonetos do petróleo para as espécies de peixes analisadas é de extrema importância para o desenvolvimento de técnicas robustas para o monitoramento da qualidade da água do Rio Negro frente a contaminações por hidrocarbonetos petrogênicos”, explica a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Biologia de Água Doce e Pesca Interior (PPG-BADPI) do Inpa, Helen Sadauskas Henrique. A pesquisa faz parte do projeto de seu doutorado, sob a orientação da pesquisadora do Inpa Vera Maria Fonseca de Almeida e Val.

Fazem parte da equipe: os estudantes do BADPI Daiani Kochhann (doutorado) e Derek Campos (mestrado), e a estudante de ciências naturais na Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e de iniciação científica do Inpa Susana Bras Mota.

Resultados preliminares

Segundo Sadauskas-Henrique, os biomarcadores analisados até o momento foram efetivos em demonstrar os efeitos negativos do derramamento do óleo para os peixes coletados, uma vez que foram encontradas alterações importantes nas enzimas que processam os hidrocarbonetos bem como em enzimas que indicam danos no funcionamento do fígado e alterações metabólicas nos peixes, que causam prejuízos à sobrevivência dos mesmos nesses ambientes. Além disso, a presença de hidrocarbonetos do petróleo (benzo[a]pireno, pireno e naftaleno) foi detectada na bile dos animais.

Os resultados preliminares indicam que os peixes coletados até o momento ativaram vias metabólicas reconhecidas pela biotransformação e eliminação dos hidrocarbonetos do petróleo, em função do aumento da absorção dessas substâncias tóxicas pelos animais.

Além disso, acrescenta Sadauskas-Henrique, o benzo[a]pireno encontrado na bile dos peixes é amplamente reconhecido por causar problemas reprodutivos, uma vez que esse composto pode atuar como desregulador endócrino a longo prazo, o que poderia causar, entre outros efeitos, a diminuição do sucesso reprodutivo e a mudança de sexo dos animais, com profundo efeito sobre as populações e comunidades de peixes naquela área.

Material coletado

Dois dias após o acidente, a equipe do Inpa foi até o local fazer o reconhecimento da área e selecionar os pontos de coleta. Na primeira fase do monitoramento, ocorrida 12 dias após o acidente, aproximadamente 150 indivíduos de cinco diferentes espécies de peixes foram coletados em três diferentes pontos da área comprometida, entre as quais quatro espécies de ciclídeos (tucunaré-paca, acará-boari, acará-bicudo e acará papa-terra) e uma espécie de caracídeo (aracu).

A segunda fase do monitoramento ocorreu após 45 dias do acidente, sendo repetidos os mesmos procedimentos da primeira. Os pesquisadores constataram alterações relevantes nos biomarcadores dos peixes coletados nesse ambiente, sendo que na segunda fase do monitoramento, essas alterações foram ainda mais evidentes. Os pesquisadores também realizaram coletas no lago Tupé, 35km da cidade de Manaus, para comparar as respostas dos biomarcadores das espécies de peixes do local poluído com as mesmas espécies que habitam um local sem poluição. As amostras estão sendo analisadas no Centro de Adaptações da Biota Aquática da Amazônia (Adapta) no Inpa.

Próximas etapas

A terceira fase do monitoramento está prevista para o mês de Julho. A cada nova coleta serão analisados os mesmos biomarcadores nos peixes, sendo estes comparadas com as respostas analisadas nas fases anteriores do monitoramento.

“O monitoramento ambiental é baseado em observações científicas das mudanças que ocorrem no ambiente ao longo do tempo, não somente em função das mudanças naturais, mas também as causadas pelo ser humano. Nesse contexto, nós precisamos avaliar as mudanças ambientais que estão ocorrendo em função do impacto causado pelo derramamento do óleo na região afetada. Apesar do derramamento ocorrido no Porto São Raimundo ser caracterizado como agudo (vários litros de óleo foram derramados apenas uma vez no ambiente), precisamos avaliar se essa contaminação prevalecerá ao longo do tempo. Assim, por meio das alterações que observamos nos peixes ao longo das coletas realizadas podemos inferir sobre a qualidade do ambiente aquático na área afetada”, ressalta.

Por: Josiane Santos  /  Fonte: INPA

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