Ao mesmo tempo em que os brasileiros são surpreendidos com a extensão da rede de espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA) estadunidense, outra ameaça igualmente grave entra na pauta das preocupações do País: o bioterrorismo.

A suspeita, que já mobiliza a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e outros órgãos federais, envolve a presença de uma espécie de mariposa até há pouco inexistente no território nacional, que está se espalhando sem controle e afetando os cultivos de algodão, milho, soja, sorgo, feijão e tomate, em 12 estados. Apenas no oeste da Bahia, onde surgiu no ano passado, o inseto já causou prejuízos de R$ 1,5 bilhão à safra de algodão deste ano (O Globo, 6/07/2013).

A Helicoverpa armigera é uma espécie encontrada em vastas áreas da Europa, Ásia, África e Oceania, mas a sua presença ainda não havia sido registrada no continente americano. Os primeiros espécimes foram coletados e identificados, no início do ano, em Goiás, Mato Grosso e Bahia, por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás e da Fundação Mato Grosso. A espécie é altamente agressiva para vários cultivos, causando prejuízos anuais na casa dos bilhões de dólares, em vários países, principalmente, a China, Índia e Espanha. O seu potencial de devastação pode ser avaliado pela velocidade com que se espalhou pelo País (Cecília Czepak et alii, “Primeiro registro de ocorrência de Helicoverpa armigera (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae) no Brasil”, Pesq. Agropec. Trop., Goiânia, v. 43, n. 1, p. 110-113, jan./mar. 2013).

Embora não possa ser de todo descartada a possibilidade de que o inseto tenha chegado ao Brasil de forma acidental, a hipótese de uma ação intencional – ou, em português claro, bioterrorismo – está sendo considerada pela ABIN, em relatórios já entregues ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Em especial, a agência observa que, ao mesmo tempo em que acarreta grandes prejuízos à agricultura nacional, a praga beneficia empresas internacionais que produzem cultivares geneticamente modificados (transgênicos) para resistir a ela, como a Monsanto.

Coincidentemente, a empresa estadunidense admite que já pesquisava agentes genéticos contra a praga, mas considera “uma irresponsabilidade” que se levante sequer a hipótese de envolvimento no caso. No entanto, a presciência da empresa fará com que, já na próxima safra de soja, 10% da produção envolverão sementes resistentes à praga. Afinal, como afirma o diretor de Marketing Leonardo Bastos, “empresa de insumo vive em função do sucesso do produtor, não do fracasso”.

A hipótese do bioterrorismo é levantada pelo secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Ênio Marques: “Eu passei 40 anos no campo e nunca vi nada tão agudo. Não tem aftosa, vaca louca, nada igual a isso. O Brasil não pode ser ingênuo ao achar que todos nos amam (O Globo, 6/07/2013).”

Com ele faz coro o secretário de Agricultura da Bahia, Eduardo Salles, que lembra a praga da vassoura-de-bruxa do cacaueiro, um fungo que surgiu no sul da Bahia no final da década de 1980, em condições misteriosas, e devastou de tal forma os cultivos de cacau, que, em uma década, a participação brasileira na produção mundial de cacau caiu de quase 15% para menos de 5%.

O secretário Ênio Marques tem razão: como o escândalo da NSA está demonstrando, os brasileiros precisam deixar de ser “ingênuos” – continuando a (ou, em certos casos, fingindo) acreditar que o resto do mundo, principalmente, as potências hegemônicas, determinam as suas práticas comerciais pelas regras oficiais e pela ideologia dos mercados livres. Espionagem eletrônica, bioterrorismo, a promoção do ambientalismo e do indigenismo e outras operações do gênero, integram, desde há muito, o arsenal de recursos que os governos daqueles países colocam à disposição das suas grandes empresas transnacionais. Portanto, é mais que hora de que o País deixe tais ilusões para trás e passe a encarar a sério os desafios do mundo real, preparando-se adequadamente para neutralizar as ameaças colocadas em seu caminho.

FONTE : Alerta Científico e Ambiental – Vol. 20  / nº 26 / 11 de julho de 2013 – Alerta Científico e Ambiental é uma publicação da Capax Dei Editora Ltda.
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