Em contraponto às informações sobre a existência de supostos latifúndios em terras indígenas, a Fundação Nacional do Índio (Funai) disse que desconhece este tipo de ocorrência nas comunidades. Segundo o órgão, com um rebanho de aproximadamente 70 mil cabeças, o gado se divide em criações coletivas e algumas individuais, mas que nem de longe classificariam grandes latifúndios.
A denúncia foi feita pelo procurador federal responsável pela Seção Indígena da Advocacia-Geral da União (AGU), Wilson Précoma. Em entrevista à Rádio Folha no domingo, ele disse que haveria um monopólio beneficiando alguns tuxauas, que detém a posse de mais de 3.200 bovinos, enquanto que a comunidade não possui sequer 10% deste total, esquema este que seria controlado pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR) e Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima (Sodiur), sob inércia da Funai.
A Funai explicou que do rebanho de 70 mil bovinos, cerca de 50 mil cabeças estão localizadas nas comunidades das reservas de São Marcos, ao norte, e Raposa Serra do Sol, a Nordeste. Algumas comunidades possuiriam rebanho que ultrapassa as três mil reses, mas somados o rebanho coletivo e individual.
Conforme explicou o coordenador da Funai em Roraima, André Vasconcelos, todas as comunidades possuem criações coletivas de gado para atender às demandas da comunidade. Além dessas, há algumas criações individuais: geralmente o vaqueiro é alguém da comunidade, remunerado com gado, e ao deixar o local acaba levando o seu rebanho e iniciando uma nova criação.
“Participo de quase todas as assembleias indígenas e esse problema levantado por ele nunca foi abordado pelos indígenas em assembleias. Eu desafio o doutor Précoma a mostrar um estudo minucioso sobre a ocupação das fazendas após a desintrusão. Isso não existe”, contra-argumentou Vasconcelos.
Para o coordenador da Funai, o procurador estaria “tangenciando” aos principais desafios enfrentados pelos povos indígenas de Roraima. “Ele devia se preocupar com a educação indígena, com a saúde, a segurança alimentar, a gestão territorial e ambiental das terras demarcadas, documentação civil básica e com a desintrusão do Ajarani, entre tantos outros assuntos mais importantes”, apontou.
Atualmente a pecuária é a principal fonte de renda nas comunidades indígenas, enquanto a agricultura é mais voltada para a subsistência. Segundo Vasconcelos, a Funai tem atuado junto às comunidades no sentido de trabalhar uma política de gestão ambiental, otimizando a agropecuária nas comunidades. “Existem casos em que algumas pessoas se identificam mais com determinada área, mas não cabe à Funai dizer como os índios devem criar seu próprio gado”, enfatizou.
CIR – Também questionado sobre o assunto, o coordenador-geral do CIR, Mário Nicácio Wapichana, disse que desconhece os “grandes latifúndios” citados pelo procurador e criticou a generalização que teria sido feita. “Em Roraima, nós temos 220 comunidades em que atuam 16 associações. Dessas, o CIR atua em 32 comunidades. Apesar disso, o procurador só citou o CIR e a Sodiurr”, criticou. O líder indígena negou as acusações e reforçou que nas áreas de controle do CIR o rebanho é mantido para desfrute coletivo.
A Folha não localizou o representante da Sodiur para se manifestar sobre as acusações.
UFRR oferta 149 vagas em Vestibular Indígena
A Universidade Federal de Roraima, através da Comissão Permanente de Vestibular (CPV/UFRR), anunciou o Processo Seletivo destinado ao ingresso de indígenas em cursos de graduação nos semestres 2013.2 e 2014.1.
As inscrições ocorrem via internet no site da CPV do dia 10 de junho até as 18h do dia 21 de junho. O candidato também pode inscrever-se presencialmente, durante o mesmo período e horário, na Comissão Permanente de Vestibular (Avenida Ene Garcez, 2.413, Bloco IV, Campus Paricarana, Bairro Aeroporto, Boa Vista-RR).
O vestibular oferta 149 vagas distribuídas entre 16 cursos: Agronomia, Antropologia, Ciência da Computação, Ciências Biológicas, Ciências Econômicas, Ciências Sociais, Comunicação Social, Direito, Engenharia Civil, Gestão Territorial Indígena, Licenciatura Intercultural, Medicina, Psicologia, Relações Internacionais, Secretariado Executivo e Zootecnia. Há reserva de vagas para pessoas com deficiência.
A prova objetiva e a redação serão aplicadas no dia 28 de julho, das 8h às 12h, em Boa Vista, ou em outro local definido pela CPV. O candidato deverá apresentar-se com uma hora de antecedência.
FONTE : Folha de Boa Vista