Uma semana depois de chegarem a Brasília, vindos da ocupação ao canteiro de obras da UHE Belo Monte, no Pará, indígenas Munduruku, Xipaya, Kayapó e Arara caminharam nesta terça-feira, 11, da sede da Fundação Nacional do Índio (Funai), onde mantêm ocupação, até a Esplanada dos Ministérios em busca de interlocutores para suas angústias e reivindicações. Encontraram silêncio e fome.

À imprensa, o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência da República, informou que o retorno dos indígenas ao Pará está programado para esta quarta-feira, 12, mas afirmou que se o grupo não desocupar a Funai o governo entrará com pedido de reintegração de posse. Porém, não garantiu hospedagem para os indígenas até o desembarque das aeronaves.

“O que o governo faz é uma irresponsabilidade. Estamos vendo o que eles querem e vamos comunicar nas aldeias. Se a gente não receber o governo lá na comunidade, eles vão botar a Força Nacional em cima”, aponta Valdenir Munduruku. Durante o mês de maio, os mesmos indígenas ocuparam por duas vezes o principal canteiro de obras da usina de Belo Monte contra os empreendimentos hidrelétricos na Amazônia. A última ocupação terminou com a vinda deles para Brasília, há uma semana, buscando diálogo.

Em busca da alteridade neste diálogo, os indígenas entendem que o Palácio do Planalto se mostra insensível às suas questões. Os governistas insistem nos empreendimentos e pretendem organizar uma consulta, sem direito ao veto das comunidades e paralisação dos estudos e canteiros de obras, que garanta o projeto. Nesta segunda-feira, 10, o ministro Carvalho se negou a receber os indígenas; encaminhados para a Funai, esperaram da manhã até o final da tarde de ontem para terem a notícia de que a presidente interina não poderia recebê-los.

Tal situação de marginalização da pauta indígena seguiu nesta terça. Em frente ao Ministério de Minas e Energia (MME), seguranças impediram a entrada dos indígenas no prédio e assessores tentavam suavizar os efeitos de assassinatos como o de Adenilson Kirixi Munduruku, presente em foto quando seu corpo foi retirado das águas do Teles Pires em novembro do ano passado.

Simbolizando a morte dos povos dos rios Xingu, Tapajós e Teles Pires, os indígenas deitaram em frente ao MME e com spray branco o contorno de seus corpos foi desenhado no asfalto. Cena de crime. Já se passava do meio dia e o almoço não veio. Com fome, o grupo seguiu para o Supremo Tribunal Federal (STF) em busca de uma audiência com o presidente Joaquim Barbosa. Mais seguranças e assessores.

“O que é aqui?”, perguntou Vicente Munduruku apontando para o imponente prédio. Segundo mais velho de seu povo, cacique da aldeia Sai Cinza, Vicente obteve a resposta: “É onde ficam os maiores juízes do país, os que definem tudo”. O olhar do cacique repousou sobre o imponente prédio e num murmúrio pode-se ouvir: “Por que não fazem nada?”. Sem almoço e transporte de volta para a Funai, sob os efeitos do calor e do sol, os indígenas foram ao Ministério da Justiça em busca de alimentação e o mínimo de logística. Sem respostas, seguiram de volta a pé até o órgão indigenista, cerca de dois quilômetros de distância.

“A Funai deveria proteger e ajudar os índios, mas não faz isso. Ficamos em Brasília até agora, mas não percebemos vontade do governo de fazer as coisas direito. Mentem e manipulam. Dizem que somos bandidos e não comparecemos em reuniões. O que queremos é a nossa aldeia, nossa casa, nossa paz. Não queremos ficar aqui, não queremos essa forma que o branco trata as coisas”, desabafou Valdenir Munduruku.

Por Renato Santana e Ruy Sposati, Fotografia: Ruy Sposati Fonte: CIMI

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