A economia do município de Alto Boa Vista, a 1.064 km de Cuiabá, vive uma tragédia anunciada desde o anúncio da decisão judicial responsável pela retirada de todos os não-índios dos mais de 165 mil hectares da reserva xavante Marãiwatsédé, no nordeste de Mato Grosso.
Demarcada na década de 90 sobre a área remanescente da antiga fazenda Suiá Missú, a reserva continha 72% da área do município.No último domingo (28), a Fundação Nacional do Índio (Funai) divulgou relatório informando não haver mais qualquer traço de não-índios sobre as terras após cerca de dois meses de trabalho das forças policiais (Polícia Federal, Força Nacional de Segurança e Polícia Rodoviária Federal, com apoio do Exército) para a retirada das mais de 5 mil pessoas consideradas “posseiras” pela Justiça Federal.
Antes mesmo do fim da força-tarefa policial, o então prefeito eleito Leuzipe Domingues Gonçalves previa a falência do município que estava prestes a assumir nos confins do chamado “Vale dos Esquecidos” (Vale do Araguaia).
Devido à iminente expulsão de todos os não-índios da chamada gleba Suiá Missú, ainda em dezembro Alto Boa Vista assistia a um esvaziamento de seus produtores rurais e, consequentemente, dos próprios cofres públicos. Afinal, mais de três mil habitantes do município estavam localizados na área da gleba, a maioria atuando na produção agropecuária na gleba agora desocupada.
Como resultado dessa retirada, o comércio local está perdendo força e, consequentemente, deixando de criar vagas de emprego. Numa cidade pequena e longe dos grandes centros, este processo ocorre a olhos vistos.
E a economia inerte impacta também a capacidade de o poder municipal atuar, pois limita a arrecadação sobremaneira. Ainda mais quando o Executivo municipal tem mais de R$ 4 milhões em dívidas confessadas.
O prefeito Leuzipe já começa a lidar com problemas de orçamento em sua gestão. Se a receita municipal de dezembro, fim do mandato anterior, já foi de inexpressivo R$ 1,2 milhão, a previsão é de que o valor caia pela metade quando a Prefeitura realizar a soma de tudo o que arrecadou no mês de janeiro.
“Hoje está uma pobreza aqui na cidade. Não tem emprego e, sem trabalho, o povo fica perdido na rua”, lamenta.
Abrigos
Além do problema econômico, socialmente, o município também vive situação delicada na tentativa de dar abrigo a cerca de 40 famílias que deixaram as terras de Suiá Missú e foram parar lá. Apesar de se enquadrarem no programa de Reforma Agrária, essas pessoas não têm condições de tomarem o rumo do assentamento prometido na cidade de Ribeirão Cascalheira, a 893 km de Cuiabá, uma vez que ainda não há estrutura alguma ali.
Por isso, uma das primeiras medidas do prefeito Leuzipe à frente da gestão municipal foi a de providenciar a área de duas escolas públicas para abrigar parte das famílias, enquanto outras providenciavam lugares oferecidos pela população em suas próprias casas.
Esse mutirão acabou absorvendo a maior parte das famílias desabrigadas e, até semana passada, restavam apenas quatro famílias sob os telhados das escolas. Contudo, estas também precisam deixar o local devido ao iminente início do ano letivo.
VER ÍNTEGRA EM : G1
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