Passados quase quatro anos da retirada dos não índios da Terra Indígena Raposa Serra do Sol (TIRSS), a Noroeste de Roraima, a Prefeitura de Boa Vista realizou um sorteio de lotes para atender 21 famílias que moravam naquela região. O evento ocorreu no auditório do Palácio 9 de julho, na manhã de ontem, onde os contemplados acompanharam o sorteio que tinha por objetivo definir a localização de cada um dos lotes, que fazem parte de um terreno no bairro Centenário.

O espaço reservado para estas pessoas possui oito mil metros quadrados e foi transferido pela União ao Município em abril de 2012. As famílias receberão seus terrenos com título definitivo e terão pleno poder de posse de suas propriedades, conforme anunciou a Prefeitura.

“Ainda bem que conseguimos esse lote, pois esperamos ansiosamente, há um bom tempo por isso, já que era uma promessa do governo. Nasci, cresci e montei minha família toda nas terras da Raposa e acabaram nos expulsando daquela região, representando a destruição de tudo o que havíamos conquistado. Pelo menos, nessa parte, o Município está nos auxiliando e agora esperamos que o apoio seja contínuo”, disse o autônomo José Adelson Soares, 73, que foi contemplado com o lote de n° 128.

Segundo a Prefeitura, a ação faz parte do compromisso firmado junto ao Governo Federal como forma de compensar a retirada dessas pessoas do território indígena, na época da homologação.

A maioria das famílias estava morando de aluguel, como a da dona de casa Sergina Maria Oliveira, que conseguiu o lote de n° 30. “Está sendo uma satisfação muito grande receber essa notícia. Moramos durante esses anos, em uma casa alugada em Boa Vista. Tenho um neto portador de necessidades especiais e enfrentamos muitas dificuldades por conta disso. Agora vou aguardar para ver a possibilidade de construir a casa pelo Programa Minha Casa, Minha vida”, comentou.

Para o pecuarista Raimundo Jesus Cardoso, 61, o procedimento foi muito demorado e até hoje enfrenta problemas para se reestruturar financeiramente depois que foi retirado da Raposa Serra do Sol. “Considero 54 anos jogado fora, porque todo o patrimônio construído foi perdido e que só me trouxeram prejuízos. Hoje moro na região do Truaru, tentando levar minha vida. Mas estamos sem poder trabalhar, nem produzir nada, porque não temos assistência alguma por parte do poder público. Sem condições para formar pastos, sem energia, estrada péssima, tentamos sobreviver. Recebemos apenas o lote e esperamos que a Prefeitura possa nos ajudar mais”, salientou.

Após essa etapa, será feita a urbanização do espaço com os serviços de definição de ruas, instalação da rede elétrica e de água. Mas a Prefeitura informou que cada família é responsável pelo processo de construção das novas moradias. Com o título definitivo, elas poderão buscar linhas de financiamento disponíveis no mercado ou se inscrever em programas habitacionais como o Minha Casa, Minha Vida.

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