A Funai (Fundação Nacional do Índio) diz ter identificando uma presença maior de índios isolados nas florestas do Acre, na fronteira do Brasil com o Peru. Além dos registros em fotografias, tribos civilizadas têm comunicado com frequência contatos visuais e vestígios dos arredios.
Segundo a Funai, parte desses índios tem migrado da Amazônia Peruana para o Acre devido à prospecção de petróleo, em andamento na região, e da retirada de madeira e da atividade ilícita do tráfico de drogas.
A situação pode se agravar, segundo Juan Scalia, coordenador-substituto da Funai em Rio Branco, porque tramita no Congresso Peruano um projeto de lei para a construção de uma estrada ligando os municípios de Puerto Esperanza e Iñapari, na fronteira com o Brasil. “Abrir uma estrada paralela com a fronteira é uma ameaça grave. A concretização de um projeto desses abre a nossa fronteira para uma série de vulnerabilidades”, alerta Scalia.
De acordo com o coordenador da Funai, a estrada deve cortar uma área de índios isolados do lado peruano. “Primeiro isso já seria um desrespeito porque não devemos forçar esses povos ao contato. Em segundo lugar, forçaria a migração para o lado brasileiro e poderia haver confronto com o povo Machineri do Alto Rio Iaco, no município de Assis Brasil. Já informamos ao Ministério das Relações Exteriores para que possa haver um diálogo sobre isso com o governo peruano”, afirma.
O povo indígena Machineri, do município de Assis Brasil, identifica com frequência vestígios de índios isolados dentro de suas terras. Segundo o líder Lucas Machineri, trata-se de um grupo de índios nômades que passou a cruzar a fronteira devido à presença de traficantes e madeireiros. “Nós encontramos os locais onde eles dormem, se alimentam e até mantemos contato visual, mas não nos aproximamos para evitar qualquer confronto. Realizamos um trabalho há mais de 12 anos para proteger esses parentes, mas eles não entendem isso porque já foram muito massacrados por traficantes, madeireiros e garimpeiros no lado peruano”, explica.
O trabalho de proteção aos isolados é feito em parceria com a Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre) e a Federação Nativa do Rio Madre de Dios (Fenamad), entidade de proteção aos índios peruanos. O grupo de trabalho já realizou vários encontros entre lideranças indígenas brasileiras e do Peru, além de representantes de organizações que apoiam a causa.
Para exemplificar a ameaça dos brancos, o líder do povo Machineri relembra um fato ocorrido em 2010. Os índios de sua etnia renderam um grupo com aproximadamente 20 traficantes peruanos dentro de suas terras. “Jogamos a droga no rio e entregamos os traficantes para a Polícia Federal. Já fizemos isso três vezes, mas sabemos o risco que corremos”, comenta.
Base da Funai abandonada
Para tratar da questão dos índios isolados no Acre, a Funai criou a Frente de Proteção Etnoambiental. Segundo a Funai, existem pelo menos quatro grupos de índios isolados no Acre. Três deles estão na Região do Alto Rio Envira, no município de Feijó (AC), onde foi instalada uma base da Funai. A base está abandonada desde agosto de 2011, quando foi cercada por traficantes.
De acordo com Lucas Viana, um dos integrantes da Frente de Proteção, o trabalho da Funai continua sendo realizado à distância. “Seria um risco o retorno à base sem nenhum tipo de segurança”, conclui.
VER MAIS EM: G1 – http://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2013/02/funai-registra-migracao-de-indios-isolados-do-peru-para-o-acre.html
yab
Charo