A poeira formada pelo vaivém de caminhões carregados com a mobília e os restos das casas compõe a imagem do último dia dado pela Justiça para a desocupação do vilarejo de Posto da Mata que concentrou há dois meses o foco de resistência dos não índios contrários à saída da Terra Indígena de Marãiwatsédé, localizada no município de Alto Boa Vista, a 1.064 quilômetros de Cuiabá. Até esta quinta-feira (3), 60% dos produtores rurais já haviam deixado o distrito. Após 40 anos, o território que passa das 165 mil hectares será devolvido aos xavantes.

Segundo a Justiça, quem não deixar Posto da Mata até esta sexta-feira (4) terá bens confiscados e será processado pelo crime de desobediência a uma ordem judicial. De acordo com a Associação dos Produtores Rurais de Suiá Missu, os agricultores e pecuaristas do distrito são os mais prejudicados.

Muitos deles ainda precisam colher o que plantaram na última safra. Uma plantação de arroz presente em 50 hectares de área, por exemplo, terá perda total. Pronta para ser colhida apenas em fevereiro, o dono da plantação informou à associação que vai ter um prejuízo de R$ 100 mil. Outros pecuaristas que perderam as terras não sabem o que fazer com o gado. O G1 apurou que o preço por cada cabeça de gado na localidade caiu 30%.

Só esta semana, as Forças de Segurança conseguiram assumir completamente o controle de Posto da Mata, que ficou inacessível com os bloqueios feitos pelos produtores rurais nas rodovias BR -158 e MT-242, que dão acesso à região. “A ocupação se deu de forma pacífica, sem resistência ou confronto com as forças do comboio e o acesso ao Posto da Mata foi restabelecido”, informou a Funai em comunicado.

A população diz, no entanto, que a chegada das Forças de Segurança trouxe pânico à comunidade. “Fiquei desesperada. Eles passaram de helicóptero soltando bombas (gás lacrimogênio). Uma delas caiu no meu telhado e outra no quintal da minha casa”, declarou a moradora Neuza Fernandes.

O vilarejo virou alvo da polícia após um ataque dos moradores a um caminhão da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) carregado com sete toneladas de alimentos que seriam entregues aos índios Carajás, no nordeste do estado. Após saquearem os alimentos, os suspeitos atearam fogo no veículo.

O secretário de Articulação Social da Presidência da República, em Brasília, Paulo Maldos, informou ao G1 que o motorista e mais um rapaz da Funasa foram rendidos por um grupo de 20 homens armados. “Eles renderam o motorista e mais um acompanhante e levaram os dois para um hotel. Lá, eles fizeram tortura psicológica e ameaças de morte”, afirmou.

Conforme comunicado da Fundação Nacional do Índio (Funai), o gerente de um posto de combustíveis foi preso pela suspeita de liderar a ação que culminou com a destruição do caminhão da Funasa. Ele foi liberado após ter pago R$ 6,2 mil de fiança.

Para a Funai, a desocupação da Terra Indígena de Marãiwatsédé foi satisfatória, apesar do registro de um conflito entre produtores e homens da Força Nacional de Segurança na primeira ação de desocupação que terminou com vários feridos dos dois lados.

“O grupo bloqueou rodovias, ameaçou pessoas que queriam deixar a região para reconstruir suas vidas, destruiu e danificou patrimônio público. Os órgãos policiais identificaram, nesse grupo, pessoas com histórico de prisão por homicídio, assalto a bancos, tráfico de drogas, sequestro e assalto à mão armada”, informou trecho da nota da Funai.

A Fundação diz que a maior parte das propriedades rurais está desocupada e que disponibilizou transporte para a mudança dos moradores.

FONTE : G1

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