Suiá Missú – Dom Pedro Casaldáliga recebe homenagem e nota de solidariedade dos movimentos sociais

O bispo católico dom Pedro Casaldáliga será homenageado no seminário “1970 – 2012: a luta pela erradicação do trabalho escravo no Brasil”, nos dias 10 e 11 de dezembro, em São Félix do Araguaia, no Mato Grosso. A solenidade ocorrerá durante o começo do evento, que é aberto ao público.

Organizado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), com o apoio do Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Comissão Estadual para Erradicação do Trabalho Escravo (Coetrae-MT), o seminário marcará a divulgação do ‘Prêmio de Jornalismo Coetrae-MT Dom Pedro Casaldáliga’, que também presta uma homenagem ao bispo católico e premiará jornalistas engajados no combate ao trabalho escravo.

Na programação estarão painéis discutindo os pormenores da escravidão contemporânea no Brasil, além do lançamento do livro ‘Escravo nem Pensar – uma abordagem sobre o trabalho escravo contemporâneo na sala de aula e na comunidade’, da Repórter Brasil.

Clique aqui para ver a programação completa do evento (arquivo PDF).

Seminário sobre trabalho escravo no Mato Grosso é adiado

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) informou na manhã desta sexta-feira, 7, que o seminário  “1970 – 2012: a luta pela erradicação do trabalho escravo no Brasil”, em São Félix do Araguaía (MT), foi adiado para os dias 1 e 2 de fevereiro. O evento inicialmente previsto para os dias 10 e 11 de dezembro, conta com o apoio do Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Comissão Estadual para Erradicação do Trabalho Escravo (Coetrae-MT). Em nota, a CPT informou que o evento foi adiado por motivos de “força maior”.

Durante o seminário, o bispo católico dom Pedro Casaldáliga será homenageado. Também estão previstos painéis discutindo os pormenores da escravidão contemporânea no Brasil, além do lançamento do livro ‘Escravo nem Pensar – uma abordagem sobre o trabalho escravo contemporâneo na sala de aula e na comunidade’, da Repórter Brasil.

Nota de solidariedade a Dom Pedro Casaldáliga 

Ao se aproximar a desintrusão da Terra Indígena Marãiwatsèdè, após mais de 20 anos de invasão, quando os não indígenas estão para ser retirados desta área, multiplicam-se as manifestações de fazendeiros, políticos e dos próprios meios de comunicação contra a ação da justiça.

Neste momento de desespero, uma das pessoas mais visadas pelos invasores e pelos que os defendem é Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia, a quem estão querendo, irresponsável e inescrupulosamente, imputar a responsabilidade pela demarcação da área Xavante nas terras do Posto da Mata.

As entidades que assinam esta nota querem externar sua mais irrestrita solidariedade a Dom Pedro. Desde o momento em que pisou este chão do Araguaia e mais precisamente, desde a hora em que foi sagrado bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, sua ação sempre se pautou na defesa dos interesses dos mais pobres, os povos indígenas, os posseiros e os peões. Todos sabem que Dom Pedro e a Prelazia sempre deram apoio a todas as ocupações de terra pelos posseiros e sem terra e como estas ocupações foram o suporte que possibilitou a criação da maior parte dos municípios da região.

Em relação à terra indígena Marãiwatsèdè, dos Xavante, os primeiros moradores da região nas décadas de 1930, 40 e 50 são testemunhas da presença dos indígenas na região e como eles perambulavam por toda ela.  Foi com a chegada das empresas agropecuárias, na década de 1960, com apoio do governo militar, que a Suiá Missu se estabeleceu nas proximidades de uma das aldeias e  até mesmo conseguiu o apoio do Serviço de Proteção ao Indio para se ver livre  da presença dos indígenas. A imprensa nacional noticiou a retirada de 289 xavante da região os quais foram transportados em aviões da FAB, em 1966, para a aldeia de São Marcos, no município de Barra do Garças.

Em 1992, a AGIP, empresa italiana que tinha comprado a Suiá Missu das mãos da família Ometto, quis se desfazer destas terras. Por ocasião da ECO-92, sob pressão inclusive internacional, a empresa destinou165.000 hectares para os Xavante que, durante todo este tempo, sonhavam em voltar à terra de onde tinham sido arrancados. Imediatamente  fazendeiros e políticos da região fizeram uma grande campanha para ocupar a área que fora reservada aos Xavante, precisamente para impedir que os mesmos retornassem.

Já no dia 20 de junho de 1992, algumas áreas tinham sido ocupadas e foi feita uma reunião no Posto da Mata, da qual participaram políticos de São Félix do Araguaia e de Alto Boa Vista e também havia repórteres. A reunião foi toda gravada. As falas deixam mais do que claro que a invasão da área era  exatamente para impedir a volta dos  Xavante. “Se a população achou por bem tomar conta dessa terra em vez de dá-la para os índios, nós temos que dar esse respaldo para o povo” (José Antônio de Almeida – Bau, prefeito de São Félix do Araguaia).  “A finalidade dessa reunião é tentarmos organizar mais os posseiros que estão dentro da área… Se for colocar índio no seu habitat natural, tem que mandar índio lá para Jacareacanga, ou Amazonas, ou Pará…” (Osmar Kalil – Mazim, candidato a prefeito do Alto Boa Vista). “Nós ajudamos até todos os posseiros daqui serem localizados… Chegou a um ponto, ou nós ou eles (os Xavante) porque nós temos o direito… Dizer que aqui tem muito índio? Aqueles que estão preocupados com os índios que tem que assentar. Tem um monte de país que não tem índio. Pode levar a metade… Na Itália tem índio? Não, não tem! Leva! Leva pra lá! Carrega pra lá! Agora, não vem jogar em nós, não… ( Filemon Costa Limoeiro, à época funcionário do Fórum de São Félix do Araguaia)

A área reservada aos Xavante foi toda ocupada por fazendeiros, políticos e comerciantes. Muitos pequenos foram incentivados e apoiados a ocupar algumas pequenas áreas para dar cobertura aos grandes. O governo da República, porém estava agindo e logo,  em 1993, declarou a área como Terra Indígena que foi demarcada e, em 1998 homologada pelo presidente FHC.  Só agora é que a justiça está reconhecendo de maneira definitiva o direito maior dos índios.  O que D. Pedro sempre pediu, em relação a esta terra, foi que os pequenos que entraram enganados, fossem assentados em outras terras da Reformas Agrária. Mas o que se vê é que, ontem como hoje, os pequenos continuam sendo massa de manobra nas mãos dos grandes e dos políticos na tentativa de não se garantir aos povos indígenas um direito que lhes é reconhecido pela Constituição Brasileira.

Mais uma vez, queremos manifestar nossa solidariedade a Dom Pedro e denunciar mais esta mentira de parte daqueles que tentam eximir-se da sua responsabilidade sobre a situação de sofrimento, tensão e ameaça de violência que eles mesmos criaram, jogando esta responsabilidade sobre os ombros de nosso bispo emérito.

5 de dezembro de 2012

Conselho Indigenista Missionário – CIMI – Brasilia
Comissão Pastoral da Terra – CPT – Goiânia
Escritório de Direitos Humanos da Prelazia de São Félix do Araguaia – São Félix do Araguaia
Associação de Educação e Assistência Social Nossa Senhora da Assunção – ANSA – São Félix do Araguaia
Instituto Humana Raça Fêmina – Inhurafe – São Félix do Araguaia
Associação Terra Viva – Porto Alegre do Norte
Associação Alvorada – Vila Rica
Associação de Artesanato Arte Nossa – São Félix do Araguaia
Grupo de Pesquisa Movimentos Sociais e Educação – GPMSE – Cuiabá
Associação Brasileira de Homeopatia Popular – ABHP – Cuiabá
Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso – FDHT – Cuiabá
Centro Burnier Fé e Justiça – CBFJ – Cuiabá
Fórum Matogrossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento – FORMAD – Cuiabá
Instituto Caracol – ICARACOL – Cuiabá
Rede de Educação Ambiental de Mato Grosso – REMTEA – Cuiabá

Por  Repórter Brasil – http://www.revistasina.com.br/portal/direitos-humanos/item/8234-dom-pedro-casald%C3%A1liga-recebe-homenagem (Disponível em: dezembro de 2012)

← Post anterior

Post seguinte →

1 Comentário

  1. caxadagua seu bandido, esta destruindo um monte de familias na suia missu, e ainda vai ser homenagiado…kkkk
    PARABENS CAXADAGUA vc realmente merece esse prêmio. Só não esqueça que tem um tacho de inxofre pra vc no inferno.

    * A equipe do ECOAMAZÔNIA esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos COMENTÁRIOS são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião deste ‘site”.
    Ecoamazônia