Agentes federais, soldados da Força Nacional e policiais rodoviarios federais dão início na próxima semana à operação para retirada das famílias de não índios da área indígena Marãiwatsédé, no nordeste de Mato Grosso. O prazo para deixar a região de forma voluntária encerrou ainda na quinta-feira (6). Grandes proprietários serão os primeiros a receberem os encarregados de dar sequência à decisão judicial. Em seguida serão os pequenos. Nesta sexta-feira (7) uma comissão reuniu-se com o comando da operação, na base do Exército em Alto Boa Vista, a 1.064 km de Cuiabá.

Ocupantes da área Marãiwatsédé cobram a apresentação de um plano que estabeleça como ocorrerá a desintrusão e um local para a transferência. “Não se fala nada e nem se apresenta plano algum. Nada se sabe, nem se irão dilatar este prazo. Para onde irá, por exemplo, o gado que está aqui na região?”, afirmou o produtor Sebastião Prado, ao Agrodebate.

O coordenador geral de Movimentos do Campo e Território, da Presidência da República, Nilton Tubino, falou pela primeira vez sobre a desintrusão desde que chegou à comunidade de Posto da Mata. Em entrevista à TV Centro América ele garantiu que os mandados de desocupação serão cumpridos. Mas a partir de agora, segundo ele, famílias notificadas e que não retiraram móveis, bens, animais, não terão mais tempo hábil.

Tubino voltou a reafirmar que a ocupação do território Marãiwatsédé ocorreu de má fé. “Existe uma sentença judicial de 2010 na qual o juiz considera a ocupação de má fé. Todos entraram na área a partir de 1993 e já sabiam que era terra indígena”, afirmou ao repórter Jonas Campos, considerando que os produtores não serão ressarcidos pelas benfeitorias.

Entre os moradores não índios a expectativa pessimista é que haverá enfrentamento com policiais. “Estão trocando o sangue das famílias por dinheiro”, afirmou Paulo Gonçalves, produtor rural, ao questionar o governo sobre o pagamento das indenizações.

“O Governo Federal, que gasta tanto dinheiro com financiamentos do BNDES para socorrer países em crise não quer investir na indenização das benfeitorias. Todos saem sem derramento de sangue, mas havendo indenização”, pontuou Gonçalves.

Por sua vez, Nilton Tubino disse que o risco de um conflito confronto está sendo analisado pelas autoridades com cuidado. “São agricultores, trabalhadores. Agora o juiz também determinou que se fizesse busca e apreensão de armas e se houver necessidade, o oficial poderá agir assim”, disse ainda.

Reforma agrária
Segundo Tubino, uma fazenda em Ribeirão Cascalheira, distante a 893 km da capital, será utilizada para receber as pessoas que se enquadram no programa de Reforma Agrária. Ela tem capacidade para receber 250 famílias. Até o momento, 150 famílias se cadastraram.

“Não se traduz [o sentimento de conflito] pelo que se vê no campo. Há famílias dispostas a saírem e só não saem porque são ameaçadas”, citou ainda o coordenador-geral de Movimentos do Campo.

Ainda nesta semana, a Justiça Federal de Mato Grosso negou o pedido de produtores para que fosse suspensa a retirada das famílias da área. Para o juiz federal Marllon de Sousa, não há elementos que impossibilitem o cumprimento do trâmite.

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