Lideranças indígenas do Vale do Javari, localizado no Município de Atalaia do Norte (1.138 quilômetros de Manaus) estão preocupadas com os impactos de atividades de prospecção sísmica para identificação e exploração de gás e petróleo na região. Desde abril, a empresa Geo Radar, contratada pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), vem realizando os trabalhos na área do Vale do Juruá, no Acre, mas segundo as lideranças do Vale do Javari, a pesquisa atinge o limite de sua terra indígena.
Em nota enviada à Fundação Nacional do Índio (Funai) no último dia 18, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava), representante dos povos mayuruna, kanamary, kulina, matís e marubo, cobra a presença da Geo Radar, da ANP e do próprio órgão indigenista no município amazonense de Atalaia do Norte para esclarecer sobre a atividade de prospecção.
De acordo com a Unijava, a pesquisa da Geo Radar vai poluir as nascentes dos rios Itaquaí, Ituí e Jaquirana, afluentes do rio Javari e reduzir o estoque de caça e de pesquisa, sobretudo dos grupos indígenas isolados. “Nossa terra é a nossa vida. Basta o que enfrentamos com o descaso de doenças que já levou uma terça parte dos nossos povos. Não queremos ficar na história, queremos continuar com a nossa área protegida que faz parte das nossas vidas”, diz trecho da nota.
Doenças e poluição
O assessor da Associação Marubo, Clóvis Rufino, responsável pela divulgação da carta pela Internet, disse ao jornal A CRÍTICA que a entidade pretende marcar uma grande assembleia com os envolvidos na pesquisa na Aldeia São Sebastião, dentro do Vale do Javari.
Embora a prospecção da Geo Radar já venha sendo realizada, os indígenas do Vale do Javari souberam que a atividade também pode afetar sua terra somente no início do mês, durante uma reunião no Município de Tabatinga (a 1.105 quilômetros de Manaus), vizinho de Atalaia do Norte. Imediatamente, houve uma articulação para cobrar da Funai esclarecimentos sobre a pesquisa e os impactos.
“Disseram que as atividades de pesquisa estão distante 10 quilômetros da TI do Vale do Javari. Mas essa distância não significa nada. Onde está a linha da empresa, há trânsito de índios isolados, que serão os mais afetados. O nosso receio é que aconteça a mesma coisa que ocorreu nos anos 70 e 80: doenças e lixo. Naquela época, houve uma pesquisa semelhante que nos trouxe muita poluição de igarapés, morte de peixes, proliferação de mosquitos da malária, transmissão de doenças. Até hoje há dinamites que não foram desativadas na terra indígena”, disse Rufino.
Estratégia
Na semana passada, o Centro de Trabalho Indigenista (CTI) divulgou nota com um detalhado histórico da exploração de gás e petróleo naquela região. A CTI considera grave o fato dos povos indígenas do Vale do Javari não terem sido informados a respeito do empreendimento previamente à realização das atividades.
De acordo com o CTI, as linhas sísmicas foram estrategicamente traçadas pela ANP a fim de distanciarem no mínimo 10km de Terras Indígenas e Unidades de Conservação, alegando tratar-se de uma atividade de impacto indireto às áreas protegidas. Para o CTI, desta forma a ANP evita “um demorado e custoso processo de licenciamento ambiental”. A nota completa está no endereço www.trabalhoindigenista.org.br.
A prospecção de gás e petróleo no Vale do Juruá começou em abril deste ano com pouco alarde, mas lideranças de povos indígenas do Acre que serão afetados imediatamente divulgaram uma nota protestando contra a atividade. Na nota, os indígenas afirmam que os riscos e benefícios da atividade vinham sendo discutida apenas entre “políticos”, sem considerar a população que vive na região. A íntegra da carta pode ser acessada no link http://pagina22.com.br/index.php/2012/06/carta-contra-a-exploracao/.
Cobrança
No início deste mês, a Coordenação Regional da Funai do Juruá promoveu uma reuniãocom a Geo Radar, após cobrança dos povos indígenas do Acre. Em texto divulgado no site da CR Juruá, o indigenista Jairo Lima disse que, a empresa apresentou “respostas evasivas” e não trouxe “maiores novidades além do possível potencial” de gás e petróleo. Segundo Lima, a resposta não agradou nem convenceu as lideranças presentes.
Na região do Vale do Javari vivem mais de três mil indígenas. Há, porém, registros comprovados de povos isolados, cuja quantidade não é contabilizada pela Funai. As condições de saúde daquela região é também uma das mais críticas do País, com alto índice de hepatite, malária e mortalidade infantil. A região também sofre pressão de invasores, que exploram ilegalmente caça, pesca e a derrubada de árvores.
Funai e ANP
Por meio de assessoria de imprensa, a Funai foi procurada anteontem para se posicionar a respeito dos questionamentos da Univaja, mas não respondeu até o fechamento desta edição. A assessoria de imprensa da ANP também foi procurada, por telefone e por email, mas não retornou ao contato.
FONTE : www.acritica.com.br
Deixe um comentário