A Associação dos Moradores Agroextrativistas da Resex Guariba Roosevelt Rio Guariba – AMORARR, no extremo noroeste de Mato Grosso, firmou este mês contrato de empréstimo de 117 mil reais com a Companhia Nacional de Abastecimento – Conab. O empréstimo foi concedido no âmbito do Programa de Aquisição de Alimentos – PAA e servirá para pagar a castanha do Brasil coletada pelos moradores. A Associação tem um ano para pagar o empréstimo com juros de 3%.
Esta é a primeira vez que a reserva extrativista firma um contrato deste tipo. Para o presidente da associação, Ailton Pereira dos Santos, o recurso vai permitir pagar preço justo aos extrativistas. “Sem esse recurso, nós não tínhamos como pagar à vista a produção e muitos vendiam para atravessadores, a preços baixos”, explica. “Agora nós teremos como pagar um preço justo e formar um estoque na associação para vendermos a grandes compradores”, complementa.
A expectativa é que a produção de castanha do Brasil na Resex gire em torno de 70 toneladas, um pouco mais do que foi na safra 2011/2012. A diferença é que para esta safra, além do recurso da Conab, foram implementadas outras melhorias. O projeto Pacto das Águas, desenvolvido pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Aripuanã com patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Ambiental, capacitou os extrativistas em boas práticas na coleta, secagem e armazenamento da amêndoa. Além disso, instalou um barracão e um secador rotativo, que permite a Resex produzir a castanha padrão dry. Esse tipo de castanha é mais seca e mais limpa, podendo ser armazenada por mais tempo e ser vendida em média, a R$ 4,50 o quilo, praticamente o dobro do preço sem as boas práticas.
Emerson de Oliveira Jesus, técnico de campo do projeto Pacto das Águas, explica que acessar o recurso da Conab e as instalações na reserva extrativistas eram metas do projeto. “Com isso nós garantimos uma boa qualidade da castanha e os coletores recebem um preço justo, eliminando a necessidade de vender para atravessadores”. “Agora a associação pode comprar a castanha dos moradores e estocar para vender quando o preço pago pelo mercado estiver competitivo”, ensina.
O morador Benedito Paes dos Santos conta que o projeto ajudou a transformar a vida na reserva extrativista. Ele trabalha como professor na Resex, mas nas férias também coleta castanhas com as técnicas do bom manejo. “Dá mais trabalho, mas compensa porque temos um produto de melhor qualidade”. Ele conta também que a extração da castanha e da seringa, que também é incentivada pelo Pacto das Águas, deu nova perspectiva aos jovens que só viam oportunidade de trabalho na cidade ou em fazendas vizinhas a reserva. “Agora a gente vê os jovens trabalhando com os pais numa atividade que dá dinheiro e no lugar onde eles moram”, complementa.
O barqueiro Aízo dos Santos é outro entusiasta do extrativismo. Em trinta dias catando castanha ele fez dinheiro suficiente para comprar uma moto à vista. Assim como outros moradores que compraram barcos, motores, antenas parabólicas, entre outros. “A gente acredita muito no projeto e estamos aprendendo muito e nós queremos nos organizar pra andarmos com os nossos próprios pés”, finaliza.
Saiba mais sobre a Resex Guariba-Roosevelt
A Reserva Extrativista Guariba Roosevelt é uma Unidade de Conservação, criada pelo Decreto 9.521 de 1996 e Lei Estadual 7.164, ampliada pela Lei 8.680/2007. A UC está localizada nos municípios de Aripuanã, e Colniza. Os seringueiros dos rios Guariba e Roosevelt fazem parte da história da exploração de borracha nativa no estado do Mato Grosso e há registros históricos de ocupação da região de pelo menos um século. A principal fonte econômica dos moradores se baseia na agricultura e na extração do látex, óleo de copaíba e castanha-do-Brasil.
Apesar da criação e do apoio do governo de Mato Grosso, principalmente por meio do projeto “Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade das Florestas do Noroeste de Mato Grosso” executado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA) em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Reserva ainda enfrenta problemas fundiários, sociais e de infraestrutura. De acordo com Everaldo Dutra, presidente do STR Aripuanã, a fiscalização é deficiente, as estradas são ruins e carecem de melhorias em relação a saúde e educação.
Projeto Pacto das Águas
O Pacto das Águas apoiou a produção de 735 toneladas de castanha do Brasil entre 2007 e 2012, provenientes do manejo de castanhais nativos. De 2007 até agora, foram produzidas 50 toneladas de borracha natural, sendo 14 toneladas somente nos últimos meses, gerando, somente em 2012, uma renda de R$ 200 mil do manejo dos seringais e R$ 850 mil do manejo dos castanhais para as comunidades locais. A produção é comercializada para cooperativas e empresas do Brasil, e parte é utilizada para subsistência e rituais indígenas. As ações do Pacto das Águas estão direcionadas para as terras indígenas Erikbaktsa, Japuíra, Escondido, do povo Rikbaktsa, e Zoró e a Resex Guariba Roosevelt, abrangendo no seu conjunto uma área aproximada de 880 mil hectares e 2.500 pessoas, todas habitantes da região Noroeste da Amazônia Mato-grossense.
O projeto envolve os municípios de Juína, Juara, Cotriguaçu, Colniza, Aripuanã e Rondolândia. Após ingressarem no projeto, os índios Zoró já são os maiores produtores de castanha do Estado do Mato Grosso, com uma produção média de 160 toneladas por ano. Mais do que geração de renda, o projeto junto com os seus parceiros locais está construindo alternativas concretas ao desmatamento e degradação florestal, valorizando a floresta e os povos que nela habitam.
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