Potente cicatrizante e anti-inflamatório, o óleo de copaíba tornou-se nos últimos anos um dos bálsamos amazônicos mais cobiçados pela indústria. O produto, testado hoje em laboratórios contra nove tipos de câncer, compõe o “mix” da produção florestal em comunidades que se mobilizam para tornar a atividade viável, economicamente mais atraente em relação ao gado que avança na região associado à derrubada de árvores. 

Na Reserva Extrativista do Cazumbá-Iracema, município de Sena Madureira, no Acre, o desenvolvimento da cadeia, desde a extração por métodos ambientalmente corretos, até a garantia de comercialização, agregou valores e pode mudar os padrões da economia local. “Ao se vender um conceito, além do produto, propriamente, o preço da copaíba aumentou 300% após seis anos”, revela Mauro Armelin, superintendente de conservação do WWF-Brasil, organização ambientalista que investiu R$ 1 milhão no projeto.

“O objetivo é promover a coesão de diferentes segmentos para chegar à equação da conservação, mobilizando comunidades a transformar ativos florestais em dinheiro”, ressalta Armelin, indicando a complexidade do caminho.

Além de acordos no nível comunitário sobre preço, local de entrega, quantidade, transporte e armazenamento, cada produtor assinou um termo de compromisso para aplicação de boas práticas de manejo e reinvestimento de uma parte da renda no processo produtivo. Os extrativistas receberam kits de segurança no trabalho etreinamento para rastrear e monitorar a produção.

 

Foram mapeadas 5 mil árvores para exploração por famílias cadastradas. Na comercialização, a ênfase tem sido a prospecção de mercados externos “responsáveis” sob o ponto de vista socioambiental, por meio de parcerias com empresas que concordam em pagar valores acima da média em troca de regularidade no fornecimento e qualidade do produto, atestada por laudos técnicos. “Não basta identificar produtor e comprador, mas observar métodos de produção e comercialização.”

Na reserva Cazumbá-Iracema, a principal receita é com a farinha de mandioca, que somou R$ 500 mil em 2011, seguida pela castanha e borracha. A copaíba gerou uma renda familiar adicional de R$ 900, durante seis meses de trabalho. O valor subirá quando a comunidade estocar o produto para venda na entressafra com preços de mercado 70% maiores. “A produção madeireira, que necessita resolver questões-chave como o combate à ilegalidade e a desoneração da cadeia produtiva por meio de incentivos fiscais, é essencial para fechar a conta da economia florestal”, afirma Armelin.

Só a madeira representa renda média de quase R$ 10 mil por produtor da Cooperfloresta, a principal cooperativa florestal do Acre, durante dois meses de trabalho no ano.

“A economia florestal se fortalece a partir do uso múltiplo”, reforça Alberto Tavares, especialista em conservação do WWF-Brasil no Acre. Nenhum produto sozinho será a redenção da Amazônia, como a borracha no passado. Em sua análise, “o antigo discurso sobre potencial econômico da região tem que sair da teoria para a prática, a partir de políticas públicas e estratégias empresariais modernizadas, abertas a novos modelos de gestão compatíveis com a realidade da floresta”.

Um exemplo é o fornecimento da borracha FDL (Folha de Defumação Líquida), de alto valor agregado, para a empresa francesa Veja produzir um modelo especial de tênis exibido nas vitrines europeias como “produto que usa borracha nativa da Amazônia”, além de algodão orgânico do Ceará.

A tecnologia, desenvolvida pela Universidade de Brasília, é empregada por seringueiros da Reserva Extrativista Chico Mendes, de onde neste ano foram comercializados 16 mil quilos a preços duas vezes superiores ao da borracha comum. O valor chega a R$ 8,40 o quilo, sendo R$ 7 pagos pela empresa e o restante coberto na forma de subsídio estadual e do município de Assis Brasil, onde se localiza a reserva.

A sofisticação do mercado na busca por produtos naturais abre espaços para projetos arrojados, como a produção de açaí pasteurizado, também em curso no Acre.

Por:  Sergio Adeodato
Fonte: Valor Econômico

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